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Cidades

Como em fazenda de novela, família de MS violou ambiente em outras propriedades

Dono de império no meio rural foi autuado várias vezes por desmatamento ilegal

Por Anahi Zurutuza | 19/01/2024 19:59
Gado pasta perto de lago na Fazenda Annalu, em Deodápolis (Foto: Energisa/Divulgação)
Gado pasta perto de lago na Fazenda Annalu, em Deodápolis (Foto: Energisa/Divulgação)

Cenário paradisíaco da novela “Terra e Paixão”, a Fazenda Annalu, em Deodápolis, que foi parar no noticiário esta semana por acumular lista de violações ambientais, é só uma das propriedades rurais comandadas pelo Grupo Valor. O empreendimento familiar administra um total de 50 mil hectares no Estado, segundo divulgado pela própria agroempresa na internet, e as agressões ao meio ambiente não estão restritas aos 1,6 mil hectares onde equipe da Rede Globo gravou cenas do folhetim, segundo apuração do observatório De Olho nos Ruralistas.

Por trás das câmeras, a fazenda rebatizada de “La Selva” na novela foi parar na mira do Ministério Público de Mato Grosso do Sul em 2016, quando por imagens de satélite, núcleo especializado identificou percentual de reserva legal aquém do exigido por lei – apenas 7,45%, enquanto o Código Florestal manda preservar 20% da área total. Além do desmatamento ilegal, ao longo de investigação, o MPMS detectou problemas como armazenamento e despejo ilegal de agrotóxicos, desvio de curso d’água para a piscicultura e a criação de animais sem licença ambiental.

Alvos de inquérito instaurado em 2018, donos da Fazenda Annalu, Aurélio Rolim Rocha, o “Lelinho”, que também é diretor do Grupo Valor, e o primo dele, Nilton Fernando Rocha Filho, assinaram TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) em 31 de março de 2022, menos de um ano antes do início das gravações. Os dois comprometeram-se a reparar as agressões ambientais e regularizar as atividades, mas ainda há pendências.

Fazenda Annalu, onde foram gravadas cenas de "Terra e Paixão", vista de cima (Foto: Energisa/Divulgação)
Fazenda Annalu, onde foram gravadas cenas de "Terra e Paixão", vista de cima (Foto: Energisa/Divulgação)

Irregularidades parecidas foram constatadas nas outras propriedades do grupo – que cultiva soja e milho, cria gado e peixes. Conforme apurado pelo site nacional, a violação mais antiga data de 2000, quando Nilton Rocha Filho, avô de Lelinho, recebeu três autuações do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) por desmatar 194 hectares de uma reserva florestal em Dourados (MS). Dos R$ 364 mil em multas aplicados pelo órgão, o fazendeiro quitou R$ 160 mil após atuação da defesa.

Os repórteres Tonsk Fialho e Carolina Bataier encontraram ainda autuação do Ibama contra Nilton Rocha Filho, de 2015. O avô de Lelinho e Nilton Fernando haviam deixado de cumprir determinação do órgão ambiental que exigia medidas de controle para cessar a degradação ambiental na Fazenda Vaca Mocha, em Caracol (MS), e pagaram multa de R$ 10 mil.

De acordo com as imagens de satélite do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais) consultadas pelo De Olho nos Ruralistas, a área degradada dentro do imóvel soma 1.862,74 hectares — mais da metade da área total, com 3.629,40 hectares.

Gado durante manejo na Fazenda Vaca Mocha (Foto: Facebook/Reprodução)
Gado durante manejo na Fazenda Vaca Mocha (Foto: Facebook/Reprodução)

Anos mais tarde, em 2018, o fazendeiro foi investigado pelo MP por dano ambiental causado às margens do Rio Apa, com a supressão de vegetação em área de preservação.

O observatório divulgou ainda que a família Rocha está implicada ainda em inquérito civil, instaurado pelo MP de Dourados (MS), para apurar o desmatamento de “todas as áreas de preservação permanente e de Reserva Legal” da Fazenda Miya. Integrantes do clã teriam sido autuados ainda por desmatamentos no Sítio Novo Oeste, em Caarapó, e nas fazendas Retiro da Conceição e Baía das Conchas, em Porto Murtinho.

Degradação freada - Ainda de acordo com a apuração do site nacional, Lelinho e o primo também são donos da Fazenda Prateada, de 633 hectares. Localizada ao sul da Fazenda Annalu, ela foi anexada à propriedade de “Terra e Paixão” e a exemplo do imóvel maior, também esteve na mira do MP. Ação civil pública foi instaurada contra a antiga proprietária a Agropecuária Riber, que firmou um TAC se comprometendo a realizar a recuperação ambiental das Áreas de Preservação Permanentes dos córregos Mutuca e Iretã. Neste caso, foram os atuais donos que cumpriram com os termos do acordo ainda em 2022.

O De Olho nos Ruralistas tentou contato com o Grupo Valor antes de começar a divulgar série de reportagens na quarta-feira (17), mas não obteve retorno.

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