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Cidades

Em meio a fuga, “hacker” chegou a visitar família no Mato Grosso

“Nosso medo é matarem ele aí”, diz pai. Ele diz que não soube antes que filho estava "encrencado"

Anahi Zurutuza | 22/11/2019 14:08
Eurico dos Santos Mota, de 28 anos, no dia 23 de abril, quando foi levado pelo Choque para depor na DEH (Foto: Reprodução)
Eurico dos Santos Mota, de 28 anos, no dia 23 de abril, quando foi levado pelo Choque para depor na DEH (Foto: Reprodução)

A família de Eurico dos Santos Mota, 28 anos, preso anteontem (22) em Joinville (SC) por suspeita de envolvimento com milícia armada que atuava em Mato Grosso do Sul, alega nunca ter tido notícias sobre o técnico em informática estar “encrencado” e afirma estar desesperada por informações. O Campo Grande News conversou com homem que se apresentou como Francisco Candido Mota Filho, e se identificou como pai do rapaz, artesão e morador de Rondonópolis (MT).

“Nosso medo é matarem ele aí. Eu não sabia de nada. Ele nunca falou nada pra gente”, disse Francisco Candido, em tom bem aflito.

Parte da história contada por Eurico para a polícia, no dia 23 de abril deste ano, é a mesma dita para a família. O técnico em informática veio do interior do Mato Grosso para Campo Grande em dezembro de 2018 para fazer curso de vigilante. A promessa era sair empregado da formação.

No depoimento à DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídios), que investigava a execução de Matheus Coutinho Xavier, de 20 anos, Eurico disse não ter conseguido o trabalho, mas continuou em Campo Grande oferecendo serviços de informática e também de detetive – ele contou que fez curso EAD (Ensino à Distância) para ser investigador particular.

Para a família, segundo o pai, o técnico relatava que estava trabalhando desde o término do curso em uma transportadora de valores. Para os parentes, Eurico teria dito ter sido transferido para Joinville, onde foi preso.

A notícia da prisão do técnico foi um susto, afirma o pai. “Eu só fiquei sabendo quando minha filha [irmã do preso] ligou chorando, desesperada, contando da prisão e me mandou o link da matéria. Somos todos de Rondonópolis, ele não tem ninguém lá [em Santa Catarina], nenhum parente”.

Francisco Candido contou ainda que viu o filho na semana passada. “Ele veio aqui, esteve aqui na minha casa, disse que ia vir de mudança para cá. Ele morava numa casa alugada com móveis e tudo. Disse que ia pedir as contas da empresa e vir para cá”.

Recebendo auxílio-doença e trabalhando com artesanato em Rondonópolis, Candido afirma que a família não tem condições de contratar advogado ou vir de imediato para Campo Grande para ter mais informações sobre a investigação e dar assistência a Eurico. “O avô dele foi para aí ontem. Nós juntamos o dinheiro da passagem. Ele saiu daqui era 1h, passou o dia inteirinho aí esperando ver ele, mas teve de voltar, pegou o ônibus de volta às oito da noite. Não temos ninguém aí para olhar esse menino”.

No camburão, o técnico de informática, quando foi pego em Joinville (Foto: Direto das Ruas)
No camburão, o técnico de informática, quando foi pego em Joinville (Foto: Direto das Ruas)

Transferência - Depois de 1,1 mil km na estrada e cerca de 13 horas de viagem escoltado por equipe da Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros), o técnico em informática chegou a Campo Grande na noite de ontem (21), por volta das 21h, e seria ouvido ainda hoje.

Eurico dos Santos Mota é peça-chave na investigação do assassinato de Matheus Xavier, morto por engano no dia 9 de abril deste ano. Foi ele quem identificou Juanil Miranda Lima, 43 anos, para a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, um dos executores do jovem estudante de Direito.

Até esta manhã, o Campo Grande News não tinha muitos detalhes do porquê Eurico sumiu e por onde ele passou nestes últimos oito meses. A informação de que ele vivia numa casa alugada e não tinha parentes em Joinville foi confirmada pelo pai.

Medo de morrer - Como testemunha, Eurico foi levado para depor na DEH pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar no dia 23 de abril, 14 dias depois da execução de Matheus. Desde então, ele não foi mais visto em Campo Grande.

Ficou registrado no depoimento do técnico, em abril, que ele tinha medo de morrer. O depoente foi liberado porque se comprometeu a colaborar com as investigações. Ele disponibilizou acesso integral às suas conversas do WhatsApp, Facebook, Instagram, Menssenger, e-mail e deixou para a polícia seu celular desbloqueado. O técnico em informática também não pediu para depor acompanhado de advogado e nunca respondeu a processo criminal.

A prisão temporária de Eurico foi determinada pelo juiz Aluizio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri em Campo Grande, segundo fonte, há meses. O prazo é de 30 dias, prorrogáveis pelo mesmo período.

O pedido foi embasado na tese de que quem contribui para a execução de um crime, deve responder pelo mesmo, previsto no artigo 29 do Código Penal.

A prisão de Eurico é resultado do inquérito sobre a execução do estudante de Direito, mas o depoimento do técnico em informática é um elo importante entre as investigações do assassinato e sobre a atuação de milícia sob o comando de Jamil Name e Jamil Name Filho em Mato Grosso do Sul.

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