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Cidades

Monkeypox: a doença que o povo só viu na TV se aproxima cada vez mais rápido

Mato Grosso do Sul já tem 16 casos confirmados para a doença, a maioria deles em agosto

Gabrielle Tavares e Ana Beatriz Rodrigues | 24/08/2022 07:16
População com sintomas da Monkeypox pode procurar unidades básicas de saúde. (Foto: Paulo Francis)
População com sintomas da Monkeypox pode procurar unidades básicas de saúde. (Foto: Paulo Francis)

A Monkeypox, conhecida popularmente como varíola dos macacos, já contaminou 1.259 pessoas no Brasil, 16 em Mato Grosso do Sul. Ela é menos letal que o vírus da covid-19, mas possui alto poder contagioso, obrigando os estados a criarem comissões para acompanhar o avanço da doença. Apesar disso, a população ainda desconhece os principais métodos de prevenção, e alega que só sabe “o que viu na TV”.

O último informativo divulgado pela SES na segunda-feira (22), trouxe três registros novos em Campo Grande - todos do sexo masculino, de 27, 31 e 47 anos - e mais um em Costa Rica, outro homem, de 61 anos. Com os números atualizados, Campo Grande soma 11 casos confirmados da doença, Dourados, dois casos, e Itaquiraí, Aparecida do Taboado e Costa Rica, um caso cada. Além disso, outras 28 suspeitas são monitoradas, mas ao todo 31 notificações já foram descartadas.

Assistente de produção, Bryan Miranda. (Foto: Paulo Francis)
Assistente de produção, Bryan Miranda. (Foto: Paulo Francis)

O assistente de produção Bryan Miranda, de 23 anos, disse que da doença, só sabe que começou na Europa. "Acho que ouvi algo na TV dizendo que tinha começado na Inglaterra, eu não sei nada sobre isso, só sei que tá tendo gente dando positivo para essa doença. Os sintomas devem ser algo feio né, já que vem de bicho. Como que transmite eu não sei, como eu disse, não sei nada sobre isso".

Com pouca informação, ele cita os macacos, que nada tem a ver com a doença. Até o momento, não foi identificado o animal considerado reservatório na natureza, ou seja, aquele que carrega o vírus sem apresentar sinais clínicos. Mas a suspeita é que a origem esteja em roedores.

Para a doméstica Helena Pereira dos Santos, 55 anos, a monkeypox se assemelha a uma catapora. "A única coisa que eu sei, é que estão dizendo que é a mesma coisa que varicela, como que pega e os sintomas eu não faço ideia".

O motorista Rutenio Lescano, 45 anos, também diz que viu algumas notícias sobre o assunto e só sabe que ela causa feridas na pele.

“Na TV e na internet eu vi falando que ela passa quando tem relação sexual, ou contato físico onde tem as feridas, se é isso mesmo não sei. Eu acho que se tivesse um surto dessa doença, não ia morrer tanta gente, já que ela não é tão forte como a covid, que deixava as pessoas sem ar. Mas temos que cuidar né? Enquanto não tem casos perto da gente,nós nem ligamos muito, mas quando aproxima, aí o contexto muda", pontuou.

O motorista Rutenio Lescano, só sabe o que viu na televisão. (Foto: Paulo Francis)
O motorista Rutenio Lescano, só sabe o que viu na televisão. (Foto: Paulo Francis)

O coordenador do Grupo Técnico da Monkeypox em Mato Grosso do Sul, Coronel Marcello Fraiha explicou que a doença é uma zoonose viral que foi equivocadamente denominada como varíola dos macacos.

Doméstica Helena Pereira dos Santos. (Foto: Paulo Francis)
Doméstica Helena Pereira dos Santos. (Foto: Paulo Francis)

A transmissão da doença ocorre por meio de contato próximo com as lesões da pele ou mucosas, por secreções respiratórias ou objetos usados por uma pessoa que está infectada, Os principais sintomas são febre, calafrios, dor de cabeça intensa, dores musculares, dores nas costas, inchaço dos gânglios linfáticos, cansaço excessivo e lesões bolhosas.

“Como forma de prevenção, orientamos que evitem o contato com pessoas suspeitas, ou infectadas com os vírus, lave frequentemente as mãos com água e sabão, ou faça a higienização com álcool em gel. Não compartilhe objetos de uso pessoal e reduza o número de parceiros sexuais, pois apesar de não ser uma infecção sexualmente transmissível, ela se transmite no ato do sexo, devido ao contato direto com o parceiro”, ressaltou Fraiha.

Em Campo Grande,  as 72 unidades de saúde estão preparadas para atender pacientes com quadro suspeito da doença. De acordo com a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) quando necessário é realizada coleta de material biológico através da Unidade de Resposta Rápida (URR).

O público LGBTQIA+ é o mais afetado? O médico infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), não descarta a possibilidade de um surto da doença, e avaliou que o sistema de saúde pública do Estado precisa se preparar melhor para o surgimento de novos casos, entre a capacitação de profissionais, mas principalmente entre o acolhimento do público mais atingido até o momento.

Em julho, 98% dos pacientes se declararam gays, bissexuais ou homens que fazem sexo com outros homens. Croda acredita que essa parcela da população está mais vulnerável ao vírus justamente porque não existem políticas específicas para ela.

“A gente está vivendo o aumento dos casos no Brasil e aqui não é diferente. A transmissão está mais concentrada em um grupo específico, o sistema de saúde não está preparado porque tem que melhorar o acolhimento das pessoas sem nenhum viés discriminatório”, avaliou o infectologista Julio Croda.

Em Mato Grosso do Sul, todos os infectados até o momento são homens, entre 20 e 49 anos. Contudo, o infectologista Mauricio Antônio Pompilio faz a ressalva que ainda é muito cedo para concretizar que este será o público mais afetado pela doença.

“Neste momento, a gente tem a predominância dos casos entre homens adultos, com essa informação de alguns estudos de que são homens que mantém sexo com outros homens, mas existem casos confirmados em crianças em outras partes do Brasil, por exemplo, então esse não deve ser o único foco, ele pode se modificar ao longo do tempo”, apontou.

Pompilio também lembra que ainda não existe um tratamento específico para a doença e que o diagnóstico tem um tempo de resposta longo, pois as amostras de casos suspeitos precisam ser enviados a outros estados para serem analisados.

“Normalmente, a gente usa a estrutura do Lacen (Laboratório Central de Saúde Pública), mas o laboratório daqui ainda não tem estrutura porque não é fácil a aquisição dos equipamentos necessários. O diagnóstico precisa ser ampliado, tanto na rede pública como na privada, e também ampliar o treinamento dos profissionais de saúde”, relatou Pompilio.

A reportagem questionou a SES sobre a possibilidade de implantação de diagnóstico no Estado, mas não obteve retorno até a publicação.

Já a Sesau, apontou que está capacitando equipes para ativar sete unidades de referência para o controle da Monkeypox, como prometeu no início deste mês, e afirmou que assim que o Plano de Contingência da Monkeypox for publicado, os locais passarão a realizar a coleta de material biológico para análise e diagnóstico da infecção.

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