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Cidades

Todos têm medo do "Tenente Terror”, diz à Corregedoria vítima de espancamento

A mulher foi espancada pelo militar na recepção do quartel de Bonito, no dia 26 de setembro

Viviane Oliveira e Ana Oshiro | 23/11/2020 11:25
Vítima em frente a Corregedoria nesta manhã em Campo Grande  (Foto: Silas Limas) 
Vítima em frente a Corregedoria nesta manhã em Campo Grande  (Foto: Silas Limas)

“Todo mundo tem medo desse Tenente Terror”, desabafou a empresária de 44 anos ao chegar na Corregedoria da Polícia Militar em Campo Grande, na manhã desta segunda-feira (23), para denunciar o PM  André Luiz Leonel.

A mulher foi espancada pelo militar na recepção do quartel de Bonito, no dia 26 de setembro, mas o caso só veio à tona neste fim de semana depois que as imagens das agressões foram divulgadas. O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) determinou o afastamento imediato de 2 policiais militares envolvidos diretamente nas agressões.

Antes de prestar depoimento, a vítima falou com a imprensa sobre o caso e durante a entrevista chorou muito. Acompanhada de uma das filhas pequenas e de uma mulher, a empresária pediu para não ser identificada. "Meu esposo é militar, tenho muito medo. O meu sogro é coronel da corporação. Não está sendo fácil, é um casamento de 26 anos, tenho 4 filhos, estou com medo".

As imagens gravadas por câmeras de segurança do quartel da Polícia Militar mostram o policial empurrando a mulher contra a parede. Ela tenta se defender com os pés, mas acaba apanhando com tapas, depois socos e chutes. Na cena, outro PM ainda parece segurar a mulher na cadeira para que o colega continue batendo.

Como começou - Tudo começou por conta de um pedido em restaurante de Bonito, que atrasou. Mãe de criança autista, a vítima disse que reclamou da demora, admitiu que perdeu o controle, mas contou que foi tirada pelos cabelos do hotel onde estava hospedada, durante a comemoração do aniversário. Por ser a única responsável com as crianças, os filhos foram levados para um abrigo.

 "Quando aconteceu, num sábado, eu fiquei presa até domingo. Meu marido foi até a polícia solicitar imagens, mas disseram que a câmera era fictícia.Como ia provar que fui espancada? Mesmo com os roxos, não me deixaram fazer boletim de ocorrência. Eu só queria levar meus filhos daquele terror, daquele momento".

Até o dia da agressão, o 2º Tenente era comandante do 3º Pelotão da Polícia Militar de Bodoquena (Foto: O Pantaneiro) 
Até o dia da agressão, o 2º Tenente era comandante do 3º Pelotão da Polícia Militar de Bodoquena (Foto: O Pantaneiro)

Segundo a empresária, quando o esposo dela chegou já tinha acontecido toda a tortura, ela estava na cela. “Ele foi no abrigo, tirou as crianças de lá, insistiu em falar comigo, para me acalmar, mas não deixaram”, contou.

Aos prantos, a vítima relembrou a situação que passou naquele dia: "Quando levaram meus filhos, foi como se tivessem tirado minha vida. Eu não sabia pra onde tinham levado eles, me senti incapaz. Eles me xingavam de puta o tempo todo, me batiam muito”.

Segundo a empresária, todo mundo tem medo do tenente que a agrediu, por isso ela acredita que ninguém fez nada. Ela espera que outras pessoas que foram agredidas pelo tenente procure a corregedoria para denunciá-lo. "Espero que a justiça seja feita, só isso. E que as pessoas tenham empatia e respeito por crianças especiais. A gente já vive na sombra, com problemas, com surtos, com remédios caros. Minha carga já é pesada em casa."

Convivendo com militares diariamente, ela ainda disse que se sente impotente diante da situação. "Conheço o marido que tenho, como ser humano, como marido e policial. Não deveria ter pessoas despreparadas como esse tenente. Ele não deveria estar ali. Espero que outras pessoas, que já foram agredidas por ele, venham à tona, para ele ser exonerado. Ele está ocupando o cargo de outras pessoas melhores. Estou revoltada e muito triste com tudo isso".

Durante entrevista, vitíma chorou bastante (Foto: Silas Lima)
Durante entrevista, vitíma chorou bastante (Foto: Silas Lima)


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