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Interior

"Ele me tirou do hotel pelos cabelos", diz mulher espancada por tenente da PM

Ela vive em Corumbá, está a caminho de Campo Grande e garantiu que nesta segunda-feira vai denunciar o tenente à Corregedoria

Aletheya Alves | 22/11/2020 15:29
Câmeras de segurança registraram espancamento em quartel de Bonito. (Foto: Reprodução)
Câmeras de segurança registraram espancamento em quartel de Bonito. (Foto: Reprodução)

Agredida pelo policial militar André Luiz Leonel, em Bonito, vítima diz que briga em restaurante começou porque a filha foi chamada de “verme da sociedade”. Na versão da empresária, que vive em Corumbá, esse foi o estopim para confusão que acabou com ela na cadeira.

Segundo a mulher, as agressões começaram no quarto da pousada em que a família estava hospedada e seguiram até o quartel. Câmeras de segurança registraram o espancamento no dia 26 de setembro deste ano.

Casada também com um PM, aos 44 anos a vítima explica que viajou com os três filhos até Bonito para comemorar o aniversário. “Ganhei de presente do meu marido. Fiz aniversário no dia 18 de setembro e o passeio ocorreu no dia 24”, detalha.

Neste domingo, ela pegou novamente a estrada. A caminho de Campo Grande, a vítima conta que irá até a Corregedoria da Polícia Militar para relatar o ocorrido e pedir afastamento do policial militar. “Até hoje meu filho fala sobre o episódio”.

Ela não sabia do vídeo que veio à tona neste fim de semana pelo site MS Notícias. Diante da repercussão, encontrou provas para denunciar.

Comida da discórdia - A empresária confirma que todo o problema começou com demora para retirada de um pedido no restaurante, especificamente, pela demanda da filha mais nova, de três anos. “Além de ser autista, ela tem uma síndrome rara em investigação. Fizemos o passeio e ela ficou com fome pois ama comer comida, arroz e feijão”, diz.

A família fez então o pedido de quatro pratos feitos por R$ 100. Segundo a mãe, ela retornou ao restaurante uma hora e meia depois questionando sobre a demora do pedido, “e minha bebê surtou, claro estava com fome”. Com a discussão iniciada, a empresária diz que sua filha foi chamada de “verme da sociedade” pela proprietária do restaurante.

Em meio às agressões, outra filha, de 17 anos, foi até o local e encerrou a briga. “Veio correndo e me tirou da confusão e me levou para o hotel. Ficamos lá dentro e não demorou dez minutos para a polícia bater na porta”.

Abordada pelos policiais militares, a empresária relata que o mesmo policial que foi filmado pelas câmeras do quartel, a agrediu também na pousada.

Esse tenente me obrigou a sair do quarto me levando pelos cabelos para fora do hotel. Tentei explicar o ocorrido e eles não quiseram me ouvir.

Também de acordo com a empresária, a proprietária do restaurante questionou se os policiais não iriam realizar a prisão dizendo: “quando vocês vêm comer de graça no restaurante eu não reclamo”. Ao rebater a afirmação, a mulher conta que perguntou se os policiais deixariam que fosse tratada daquela forma por conta de comida de graça.

Já a resposta do policial teria sido acompanhada de mais violência. A mulher conta que ela e sua filha foram chamadas de prostitutas. “Ele disse que eu e minha filha estávamos ali para fazer programa”.

Aí que o tenente veio e deu um tapa no meu rosto, e o pior meu filho de seis anos vendo toda a cena, com minha bebê surtando e me algemou na frente das crianças. Me colocaram algemada no camburão e me levaram para o batalhão.

Por ser a única responsável com as crianças, os filhos foram levados para um abrigo. “Não me ouviram, nem me deixaram ao menos ligar para alguém, nem para meu esposo. Fiquei sem notícias dos meus filhos. Nesse meio tempo o tenente quebrou meu telefone”.

Horas depois, durante a madrugada, o marido foi até o local para retirar a esposa e os filhos do abrigo. “Tudo aconteceu porque fui defender os direitos de minha filha que só queria comer, simples assim”.



Outra versão - Já os relatos de Silvana Scharman, proprietária do restaurante, são de que a mulher chegou ao local por volta das 18h30, bastante alterada. "Mas avisei que só abrimos às 19h. Ela voltou depois e começou a tocar o terror. Disse: 'fiz esse pedido faz três horas'. Ai ela ameaçou, tacou garrafa em mim e no meu marido."

Ao Campo Grande News, Silvana também disse que quando a PM foi acionada, a cliente teria se exaltado ainda mais. Sobre ter chamado a criança de "verme da sociedade", a responsável pelo restaurante diz que em momento nenhum disse tais palavras e, que não se aproximou durante a prisão da mulher.

Respeito muito as pessoas dentro e fora do restaurante. Com relação a dar comida aos policiais isso é ridículo, nunca fizemos isso.  Fiquei do outro lado da rua, na frente do restaurante, ela estava muito agressiva nos xingando.

Sobre as agressões cometidas pelo policial, Silvana diz que não concorda e que sente muito, mas que o restaurante não tem responsabilidade sobre os fatos.

Agressões - Em imagens gravadas por câmeras de segurança do quartel da Polícia Militar é possível ver o policial empurrando a mulher contra a parede. Ela tenta se defender com os pés, mas acaba apanhando com tapas, depois socos e chutes. Na cena, outro PM ainda parece segurar a mulher na cadeira para que o colega continue batendo.

A sequência de agressões só é finalizada quando uma policial contém o homem, enquanto pessoas que estão no mesmo ambiente seguem paradas, apenas olhando. Em boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar foi indicado que ela estava bêbada e que teria desacatado os policiais, registrando a prisão por ameaça, dano, desacato e embriaguez. Porém, nada sobre as agressões do policial foi relatada no B.O.

Em nota, o Comando da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul informa que os responsáveis só ficaram sabendo sobre o espancamento após divulgação da mídia, quase dois meses depois. “Quanto às imagens que aparecem no vídeo, foi feita uma análise preliminar do conteúdo, identificando o local e militares envolvidos. Imediatamente, o comandante do CPA-3, coronel Emerson de Almeida Vicente, determinou a instauração de um Inquérito Policial Militar (IPM), que é o instrumento legal para investigar fatos dessa natureza”.

Ainda de acordo com informações do Comando da Polícia Militar, o tenente envolvido foi afastado preventivamente do comando de Bodoquena até apuração dos fatos.


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