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Cidades

Ambulantes até da Paraíba lotam e dividem ruas e terminais na Capital

Zana Zaidan | 01/10/2013 18:44
Nos terminais de ônibus, ambulantes vendem de tudo, livremente (Foto: Marcos Ermínio)
Nos terminais de ônibus, ambulantes vendem de tudo, livremente (Foto: Marcos Ermínio)

A permanência de vendedores ambulantes virou farra nas ruas e terminais de ônibus de Campo Grande. O comércio de qualquer produto por ambulantes em locais públicos é proibido, conforme a legislação municipal, mas os vendedores aproveitam a brecha na fiscalização e lotam calçadas e corredores dos terminais de ônibus com a venda de salgados, DVD piratas, bebidas, pamonhas, brinquedos e até produtos eletrônicos.

Os corredores do terminal General Osório, na saída para Cuiabá, por exemplo, viraram um pequeno camelódromo. Barracas improvisadas vendem de tudo, desde salgados e bebidas, passando por pamonha, brinquedos e eletrônicos. 

As placas que informam a proibição, fixadas nas paredes do terminal, parecem não intimidar os vendedores que, inclusive, trabalham com aval dos fiscais da Agetran e de forma bastante organizada. “Chego só depois do meio-dia, foi o que combinei com um camarada que fica na parte da manhã”, conta Eduardo Costa Oliveira, 39 anos, que há um ano vende salgados no terminal.

Segundo o ambulante, o negócio é lucrativo e, diariamente, acaba até mesmo antes do previsto. “Trago 200 salgados e calculo que vou sair às 20 horas, mas, chega no final da tarde, já acabou tudo e volto pra casa”, comemora.

O ambulante Eduardo Oliveira sabe da proibição, mas aguarda posição da prefeitura, que prometeu regulamentar os vendedores (Foto: Marcos Ermínio)
O ambulante Eduardo Oliveira sabe da proibição, mas aguarda posição da prefeitura, que prometeu regulamentar os vendedores (Foto: Marcos Ermínio)

Um dos fiscais da Agetran - responsável pela fiscalização nos terminais da Capital – disse à reportagem que o órgão tinha uma equipe específica para a questão da permanência de ambulantes que, agora não aparece mais. “Até o ano passado uma equipe de quatro ou cinco fiscais passava eventualmente pelo terminal, acompanhados da Polícia Militar, principalmente, quando tinha denúncia de ambulante aqui dentro. Agora, de um ano pra cá, mais ou menos, parou. Não se foi alguma mudança, troca de pessoal”, disse o fiscal atua há 20 anos no órgão, e preferiu não se identificar.

A vendedora Jaquelina Ramão, 28 anos, conta que o marido está no ramo do comércio ambulante há oito anos, e há oito meses, começou a vender brinquedos e filmes piratas no terminal. “Meu marido já perdeu muita coisa, mas, agora, parece que a prefeitura está empurrando com a barriga essa questão dos ambulantes e por aqui fica tranquilo. No terminal, o fluxo de gente é maior e não tem fiscalização, como no centro da cidade”, acredita.

Concorrência desleal – A lanchonete do terminal, que passou por processo de licitação para conquistar o espaço, paga impostos e taxas de manutenção, como aluguel, água e luz, sofre com a concorrência desleal, já que os ambulantes não precisam seguir nenhuma regra.

No quiosque do General Osório, o salgado sai por R$ 2,50 e o café por R$ 1, enquanto, na mão dos ambulantes, com R$ 1,50 os passageiros comem e tomam o cafezinho. “É mais fácil comprar deles porque não corro o risco de perder o ônibus, tá na mão”, comentou a aposentada Guiomar de Lima, 66 anos.

Questionada sobre a qualidade do produto, a aposentada admitiu que o risco é maior na mão dos ambulantes, mas prefere ter a garantia de que não vai perder o ônibus. “Sei que se amanhã eu passar mal, não vou ter com quem reclamar, mesmo porque o cara que me vendeu pode nem estar aqui”, ponderou.

Sem Guarda Municipal – No centro da cidade, onde o impasse fiscalização x ambulantes se estende por anos, a fiscalização também está mais branda.

Há 19 anos nas ruas, um dos ambulantes conta que até gente de fora vem para Campo Grande para trabalhar com o comércio nas ruas. A proximidade com o Paraguai facilita a compra das mercadorias, somada a falta de fiscais. “Agora está mais de boa para trabalhar. Antigamente era demais, toda hora tinha que sair correndo. Graças a Deus eles pararam de passar, quem consegue trabalhar assim?”.

Há 19 anos nas ruas, o vendedor nota que a fiscalização diminuiu e trabalho está mais tranquilo (Foto: Marcos Ermínio)
Há 19 anos nas ruas, o vendedor nota que a fiscalização diminuiu e trabalho está mais tranquilo (Foto: Marcos Ermínio)

O vendedor, de 43 anos, conta que a coisa está tão boa que um agenciador traz gente de outros Estados para passar uma temporada na Capital. “Estamos aqui há 20 dias, e ainda não sei quando vamos embora. Aqui dá para ficar de boa, porque sei que o rapa passa só daquela avenida para baixo”, disse um ambulante que se identificou como Francisco Rodrigues, e veio da cidade de São Bento, na Paraíba, apontando para a Afonso Pena.

A Guarda Municipal, que antes acompanhava a equipe da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), responsável pela fiscalização, não faz mais o trabalho. “Dava uma intimidada porque sabemos que os fiscais não podem nos revistar, por exemplo, e disseram por aí que agora eles teriam esse poder. Já faz um tempo que eles não aparecem”, disse outro vendedor.

Um dos fiscais da Semadur que estava no centro da cidade confirmou que a Guarda não acompanhava o trabalho, mas limitou-se a dizer que “estavam resolvendo uns problemas”. 

Amanhã, às 19 horas, será realizada uma audiência pública na Câmara Municipal, quando os 90 vendedores ambulantes que fazem parte da associação que os representa vão cobrar a regulamentação da profissão.

Mini camelódromo nos terminais: de brinquedos a DVDs piratas (Foto: Marcos Ermínio)
Mini camelódromo nos terminais: de brinquedos a DVDs piratas (Foto: Marcos Ermínio)
A lanchonete do General Osório fica às moscas com tanta concorrência (Foto: Marcos Ermínio)
A lanchonete do General Osório fica às moscas com tanta concorrência (Foto: Marcos Ermínio)
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