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Capital

Acidente com fio solto deixa ambulante com 13 pontos na língua e sem trabalho

“Eu estou vivo por um milagre, o fio arrancou o capacete de baixo pra cima”, diz vendedor

Por Aline dos Santos e Antonio Bispo | 11/10/2023 11:16
Rinaldo, mais conhecido como Paraíba, mostra as marcas do fio no pescoço. (Foto: Henrique Kawaminami)
Rinaldo, mais conhecido como Paraíba, mostra as marcas do fio no pescoço. (Foto: Henrique Kawaminami)

Os 13 pontos na língua, que dificultam a fala, passam longe de ser o pior problema para o ambulante Rinaldo dos Santos Ramos, 52 anos, mais conhecido como Paraíba. Apesar das dores e da ordem médica de repouso, ele conta que vai precisar sair por Campo Grande na noite deste feriado para fazer vendas e buscar o dinheiro que lhe permita pagar as contas.

“Eu não posso ficar parado, eu trabalho com comunicação. Moro sozinho, tô apertado, faltando dinheiro. Eu vendo pen drive, bateria, carregador”, diz.

A rotina do vendedor ambulante mudou de forma abrupta desde a manhã de segunda-feira (dia 9), quando foi atingido por um fio, rompido segundos antes por um caminhão. O acidente aconteceu quando passava de Honda CG Titan pelo cruzamento da Avenida Afonso Pena, a principal da cidade, e a Rua Rio Grande do Sul, no Jardim dos Estados.

“Eu estava descendo de boa pela Afonso Pena, não me lembro que horas eram. Do nada, eu apaguei e acordei dentro da ambulância. Tomei 13 pontos na língua. Deveriam botar uma lei para proibir caminhão na cidade, porque isso acontece direto. Derrubam fio e vão embora. Eu mesmo já parei várias vezes. Ando com faca e corto os fios, toda hora tem”, conta Rinaldo.

Diante de tantos perigos, o motociclista afirma que se cerca de cuidados e transita em baixa velocidade. Em 32 anos que utiliza moto para se locomover, esse foi o primeiro acidente.

“Eu estou vivo por um milagre. O fio arrancou o capacete de baixo pra cima. Eu sempre andava com ele preso no meu pescoço. O capacete era novinho, tinha três meses”, diz o vendedor.

Os 13 pontos na língua de Rinaldo, que foi vítima de fio solto. (Foto: Henrique Kawaminami)
Os 13 pontos na língua de Rinaldo, que foi vítima de fio solto. (Foto: Henrique Kawaminami)

Rinaldo ficou um dia internado na Santa Casa de Campo Grande e recebeu ordens para fazer repouso, principalmente pela forte pancada na cabeça. Contudo, não consegue se sentir em paz, dentro de casa, enquanto as contas chegam. Outra preocupação é porque a motocicleta era emprestada de um amigo e sofreu avarias no acidente, mais um custo que precisará arcar.

“Estragou parte do freio, amassou parte da lataria, quebrou um dos retrovisores, teve danos”, diz Rinaldo, que recebeu a reportagem do Campo Grande News em sua casa, no Parque Iguatemi. O próximo passo será reunir documentos para processar a prefeitura.

Samu durante atendimento ao motociclista na Rua Rio Grande do Sul. (Foto: Clara Farias)
Samu durante atendimento ao motociclista na Rua Rio Grande do Sul. (Foto: Clara Farias)

 Lei de papel - Em Campo Grande, ainda não saiu do papel a Lei Complementar 348,  promulgada em 4 de abril de 2019 pela Câmara Municipal. O texto estabelecia até 150 dias para regularização de fios e multa de R$ 500 para empresa de telecomunicações que não fizer a manutenção.

Destinada a organizar os fios, com prazo e multas para as empresas, a lei deveria ser regulamentada em 90 dias. Porém, sem cumprir essa etapa, chega inócua a 2023.

Desta forma, uma “rede morta” de cabos continua a fazer morada na área urbana, por onde se espalham 116.684 postes. No topo, fica a rede de alta tensão (13.800 volts). Na sequência, tem a rede de 127 e 220 volts. Depois, os cabos de telecomunicações, que devem ficar a seis metros do solo.

Ao longo dos anos, Campo Grande News registra o descaso, como fios presos em ponto de ônibus. (Foto: Arquivo)
Ao longo dos anos, Campo Grande News registra o descaso, como fios presos em ponto de ônibus. (Foto: Arquivo)

Muitas propostas, nenhuma solução - Recentemente, projeto do deputado estadual Roberto Hashioka (União) obriga empresas prestadoras dos serviços de televisão, internet ou telefonia por assinatura a removerem e descartarem os cabos inativos após o cancelamento do serviço.

Em junho deste ano, outro projeto, proposto pelo deputado Pedro Kemp (PT), estabeleceu como risco ao meio ambiente a presença de fios em desuso existentes em postes de sustentação da rede de energia elétrica em Mato Grosso do Sul. Porém, acabou arquivado em agosto.

No fim de setembro, ministros assinaram portaria que institui a Política Nacional de Compartilhamento de Postes, o "Poste Legal". A expectativa é evitar riscos à população, além de diminuir a poluição visual causada pela desorganização dos fios instalados.

A situação também é acompanhada pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul). Baseado em matérias jornalísticas do Campo Grande News e uma denúncia de moradores do Condomínio Via Parque, no Bairro Vivendas do Parque, a promotoria investiga as diversas ocorrências de fios soltos nos postes de energia da cidade.

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