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Assistência à família não exime mãe de Kauan de denúncia de maus tratos

Segundo dados do Estado e do Município, Janete dos Santos recebe Vale Renda e é acompanhada por programas assistenciais; denúncia é que crianças passam fome e vagam nas ruas

Silvia Frias e Kerolyn Araújo | 06/04/2019 12:00
Janete, durante ida à Depca na sexta-feira: mãe de Kauan nega maus-tratos contra os outros filhos. (Foto: Kerolyn Araújo)
Janete, durante ida à Depca na sexta-feira: mãe de Kauan nega maus-tratos contra os outros filhos. (Foto: Kerolyn Araújo)

A família da dona de casa Janete dos Santos Andrade, 38 anos, está na lista dos beneficiários de programa do Estado e também recebe atendimento por meio do Cras (Centro de Referência de Assistência Social). Mesmo recebendo apoio financeiro e assistencial, Janete é investigada por maus-tratos a duas filhas, de 2 e 4 anos. Há quatro meses, perdeu a guarda de outras três crianças.

Ela é mãe de Kauan Andrade Soares, assassinado em 2017. Há quatro meses, um bebê de 11 meses, uma menina de 5 anos e um garoto de 8 foram retirados de Janete pelo Judiciário.

 “É importante lembrar que as vítimas desse caso são as crianças e não a mãe delas. Ela só tem essas duas filhas com ela, todos os outros estão em abrigos, foram retirados do convívio familiar depois da morte do Kauan”, disse a delegada adjunta da Depca (Delegada Especializada de Pronto Atendimento Comunitário), Franciele Candotti.

Nesta sexta-feira (5), Janete foi intimada a levar as meninas para a delegacia, onde seriam ouvidas por psicólogas. As meninas permaneceram em silêncio. Para Franciele, elas podem ter sido orientadas pela mãe a ficarem em silêncio.

Já a dona de casa nega que as crianças tenham sofrido maus-tratos e afirma que tudo não passa de “fofoca de vizinhos”. Segundo ela, nunca faltou nada para os filhos, mesmo que de forma modesta. “Perdi Kauan e eles acham que tem direito de me tirar os outros”. Janete diz ainda que, desde a morte do filho, em junho de 2017, nunca recebeu visita do Conselho Tutelar.

A delegada, no entanto, explica que a polícia recebeu várias denúncias de que as meninas ficavam na rua, sujas, passando fome e eram alimentadas pelos vizinhos. Os investigadores foram ao local e encontraram indícios de maus-tratos. Ainda assim, a polícia reforçou a importância do depoimento das meninas para a conclusão do caso, o que não foi possível.

Janete com uma das filhas do colo, na época da condenação do professor que  matou Kauan (Foto/Arquivo: Mirian Machado)
Janete com uma das filhas do colo, na época da condenação do professor que matou Kauan (Foto/Arquivo: Mirian Machado)

Sinais – Mesmo assim, Franciele detalha que o depoimento vai além do que é dito pelas meninas: a experiência da polícia é que, muitas vezes, os pais orientam as crianças a dizer que não sofrem maus-tratos. Por isso, a equipe avalia outros sinais, como condições físicas e características do relato. “O estado não pode substituir os pais, mesmo com o apoio de projetos sociais, o papel de educador é dos pais”.

Inicialmente, a partir da tomada de depoimento, as psicólogas teriam 48 horas para emitir relatório e, depois, o inquérito seria encaminhado ao Judiciário. As meninas ficam com a mãe e seguem sendo acompanhadas pelo Conselho Tutelar até um posicionamento da justiça.

Segundo assessoria da prefeitura, a família é acompanhada pelo Cras (Centro de Referência da Assistência Social) desde 2017 e, sempre que necessário, recebe cestas básicas e apoio para encaminhamento a outros órgãos. As crianças ainda participam do serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, programa que visa à socialização na comunidade.

A reportagem ainda entrou em contato com a Sedhast (Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho), mas não obteve resposta. A informação da polícia é que a família recebe Bolsa Família.

Morte – Kauan Andrade Soares foi violentado e esquartejado pelo professor Deivid Almeida Lopes, no dia 25 de junho de 2017.

Conforme relato de quatro adolescentes, com idades entre 14 de 16 anos, o menino foi violentado, antes e depois da morte, e o corpo foi retalhado por Deivid.

Os restos mortais teriam espalhados pelo rio Anhanduí. Mesmo sem o corpo, com base em investigação e perícia, a denúncia foi encaminhada e Deivid foi julgando e condenado a 66 anos e dois meses de prisão.

(Colaboram Geisy Garnes e Alana Portela)

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