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Capital

Casas abrigam 80% dos focos da dengue de chikungunya, diz Saúde

Flávia Lima | 20/01/2015 17:23
Equipes do CCZ ajudaram no mutirão recolhendo entulhos e lixo nos terrenos baldios (Foto:Marcos Ermínio)
Equipes do CCZ ajudaram no mutirão recolhendo entulhos e lixo nos terrenos baldios (Foto:Marcos Ermínio)
Gerente da UBS do Noroeste, Jucinara Paniago diz que no  primeiro dia do mutirão as equipes encontraram focos em pelos menos 30% das casas.  (Foto:Marcos Ermínio)
Gerente da UBS do Noroeste, Jucinara Paniago diz que no primeiro dia do mutirão as equipes encontraram focos em pelos menos 30% das casas. (Foto:Marcos Ermínio)

Quase 80% dos focos de infestação do mosquito Aedes aegypti – transmissor da dengue e da febre Chikungunya estão localizados dentro das residências. O dado conta no último relatório do Lira (Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti), realizado de 5 a 14 de janeiro deste ano, pelo CCEV (Centro de Controle de Endemias Vetoriais). No total, foram detectados em Campo Grande, 277 focos de infestação do mosquito

Segundo o gerente do programa de controle da doença no município, Carlos Montana, o dado mais preocupante do relatório é o que aponta que 76,5% desses focos estão dentro dos domicílios ou no terreno em que estão situados. “Isso comprova que a população não está consciente da gravidade do problema e não tem feito a prevenção, eliminando os objetos que podem servir de criadouro”, destaca.

A diretora de Vigilância em Saúde da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública), Márcia Dal Fabbro, ressalta que esse índice, de quase 80%, indica a importância do envolvimento da população, junto com a Sesau, na luta contra a proliferação do mosquito, que agora aponta mais um agravante com a chegada da Chikungunya, doença transmitida pelo mesmo mosquito.

Ainda segundo o Lira, o índice de infestação no comércio é de 10,1%, nas igrejas, clubes e associações, é de 11,9% e nos terrenos baldios, de 1,4%. Na média geral, a cada 100 residências visitadas em Campo Grande, duas tem focos do mosquito. Entre os bairros onde esse índice é alarmante, estão o Jardim Veraneio, Nova Esperança, Parati e Pioneiros, que apresentam um índice de infestação de 3,6% o que significa que a cada 100 casas, quatro tem focos.

A partir desse novo mapeamento, o Centro de Controle de Endemias Vetoriais iniciou nesta terça-feira (20), um mutirão nos bairros com os maiores índices de infestação e a região do Jardim Noroeste foi a escolhida para começar a operação de limpeza e o trabalho de orientação da população. Até o final do mês, agentes de saúde e funcionários do CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) estarão no bairro visitando as casas para verificar a presença e eliminar os focos do mosquito . “Já neste primeiro dia encontramos vários criadouros. O problema é que aqui existe uma população flutuante, em constante mudança. Devido a essa característica, a limpeza das casas nem sempre é priorizada”, afirma a gerente da Unidade Básica de Saúde do Jardim Noroeste, Jucinara Oliveira Paniago.

Hoje, as equipes da Sesau passaram por 120 casas informando sobre o mutirão e orientando a retirada de objetos e entulho que possam acumular água das chuvas. Paralelo ao trabalho das quatro equipes de agentes de saúde, 40 funcionários do CCZ passaram pelos terrenos baldios fazendo a limpeza e recolhendo o lixo do local. No total, 80 servidores devem atuar no bairro até o final do mês, sempre no período matutino.

Jucinara afirma que muitos moradores reclamam que as condições das ruas do bairro, que não tem asfalto, dificultam a chegada dos caminhões de limpeza e de coleta de lixo. Apesar dos contratempos, os agentes pedem aos moradores que coloquem na rua o lixo recolhido nas casas para que a partir de segunda-feira (26) os caminhões da prefeitura façam a coleta. “Também pedimos ajuda na secretaria de Infraestrutura para tampar os buracos e valetas que estão dificultando o acesso dos veículos”, diz.

“Estamos encaminhando o resultado do Lira a todas as unidades de saúde e aos distritos sanitários e, a partir dos índices apontados pelo levantamento, estaremos trabalhando de forma intensificada em todos os quarteirões onde foram encontrados focos. Estes locais serão vistoriados pelos agentes de forma a eliminar os criadouros, com tratamento com larvicida onde for necessário”, explica o chefe do Setor de Controle de Vetores, Alcides Ferreira.

Ainda segundo Alcides, a programação para os mutirões nos demais bairros que estão em destaque no Lira está sendo elaborada. Independente disto, equipes continuam o serviço de visitas, orientações e eliminação de focos em todas as regiões.

Aceitação - O trabalho de orientação tem sido bem recebido pelos moradores das casas visitadas. Neste primeiro dia de mutirão no Jardim Noroeste, os moradores ouviram atentamente as instruções dos agentes e foram solícitos, permitindo a entrada nas residências. Na maioria delas, as famílias desconheciam as ações dos agentes no bairro.

Foi o caso da manicure Eulália Morales Prates, que há seis meses mora no Jardim Noroeste com os quatro filhos. Ela conta que se preocupa com a limpeza de sua casa porque teve dengue hemorrágica quando a filha Mariane, de oito anos, nasceu. “Não podia sair de casa para ir no posto porque não tinha quem ficasse com meus filhos menores. Só fiz repouso em casa. Não tinha dinheiro nem para o leite dela, amamentei mesmo doente”, revela.

Já a dona-de-casa Jaqueline Alcântara também garante que preza pela higiene do terreno em que mora com o marido e um casal de adolescentes de 12 e 17 anos. Mesmo desconhecendo o início do mutirão, ela diz que procura não acumular lixo. Porém, um dos agentes de saúde da equipe encontrou várias latinhas no fundo do seu quintal e orientou a retirada imediata.

Jaqueline explicou que o descarte já estava sendo providenciado. “Meus filhos pegam essas latinhas no bairro para vender e conseguir algum trocado, mas evito juntar aqui em casa”, afirmou.

Para a doméstica Mariluce Maria da Silva, o trabalho das equipes é importante para conscientizar os moradores. Ela não sabia que a região apresenta um dos maiores índices de infestação da cidade e mostrou preocupação pelos dois filhos. “Nunca tive essa doença nem ninguém da minha família, mas tenho amigos que já tiveram. Sei que pode matar, por isso estou sempre cuidando aqui em casa da higiene”, afirmou.

Agente de Saúde orienta famílias sobre a importância de não acumular objetos que possam virar criadouros do mosquito. (Foto:Marcos Ermínio)
Agente de Saúde orienta famílias sobre a importância de não acumular objetos que possam virar criadouros do mosquito. (Foto:Marcos Ermínio)
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