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Capital

Casos de violência doméstica crescem e PM alerta: “vizinhos metem a colher, sim”

Só no 1º semestre de 2023, o número 190 da Polícia Militar já recebeu 7.225 chamados de socorro

Bruna Marques | 11/07/2023 13:58
Policiais militares recebendo denúncias na central do 190 (Foto: Paulo Francis)
Policiais militares recebendo denúncias na central do 190 (Foto: Paulo Francis)

Meter ou não a colher em briga de um casal pode definir se a mulher vive ou entra para as trágicas estatísticas de feminicídio. Dados mostram que, só no primeiro semestre de 2023, o número 190 da Polícia Militar já recebeu 7.225 chamados de socorro em Campo Grande. As ocorrências, em sua maioria terminam registradas como lesão corporal e vias de fatos.

Apesar de os casos de violência doméstica estarem em segundo lugar no ranking dos chamados do 190, perdendo apenas para ocorrências de perturbação de sossego, o coronel Emerson de Almeida Vicente, comandante do Policiamento Metropolitano, afirma que, na classificação do Copom (Centro de Operações da Polícia Militar), essas vítimas têm prioridade.

“Dentro da classificação de prioridade de atendimento das viaturas, de qual encaminhar, se vem a violência doméstica, ela se torna prioritária nesse momento. Casos de violência doméstica tomam a frente de qualquer outra ocorrência que não seja considerada prioritária”, explica o coronel.

Mulher segura - O Promuse (Programa Mulher Segura), da PM (Polícia Militar), também contribui para o combate à violência doméstica no Estado. Policiais são treinados para monitorarem e fiscalizarem as medidas protetivas que as vítimas têm contra agressores. Só no primeiro semestre de 2023, a PM foi comunicada sobre 222 quebras de ordens de afastamento.

De acordo com a capitã Bruna Carla Sanches, coordenadora do Promuse, as equipes estão empenhadas para que os índices de casos de violência contra a mulher diminuam. A ideia é fazer com que as medidas protetivas não sejam apenas um papel nas mãos das vítimas.

“Fazemos o acompanhamento das vítimas, com visitas técnicas, estamos capacitando os policiais militares exclusivamente para fazerem essas visitas, fazemos relatório de risco para conversar com as vítimas e identificar outros vieses daquele caso. Encaminhamos para rede de apoio e até mesmo para o Judiciário, sempre informando os diretos delas e mostrando o caminho para que ela consiga sair do ciclo de violência doméstica”, revela a capitã.

Capitã Bruna Carla Sanches, coordenadora do Promuse (Foto: Paulo Francis)
Capitã Bruna Carla Sanches, coordenadora do Promuse (Foto: Paulo Francis)

Segundo a coordenadora, esse acompanhamento vem surtindo efeito e frutos estão sendo colhidos. No primeiro semestre de 2022, foram 24 casos de feminicídios registrados em todo o Estado. Já em 2023, no mesmo período, 11.

“Neste ano, apesar de tudo, já estamos abaixando os índices, tivemos ano passado números alarmantes, então, em um futuro próximo, acredito que temos condições de baixar mais ainda esses dados. Estamos intensificando as fiscalizações das medidas protetivas, acredito que isso também deve diminuir bastante os índices. Estamos capacitando os policiais, para que eles levem um atendimento mais humanizado”, esclarece.

Conforme revelou a capitã, 61% das ocorrências de violência doméstica ocorrem dentro de casa, o que dificulta a prevenção. No entanto, a estratégia do Promuse é levar palestras a escolas e fábricas. “Para que nesses locais os homens também ouçam falar sobre violência doméstica, para que eles também tenham esse conhecimento”, diz Bruna.

O Promuse está presente em 17 municípios de Mato Grosso do Sul. São eles: Campo Grande, Nova Andradina, Pedro Gomes, Paranaíba, Jardim, Três Lagoas, Dourados, Amambai, Ponta Porã, Fátima do Sul, Naviraí, Maracaju, Corumbá, Caarapó, Coxim, Costa Rica e Bonito. A ideia é que o programa seja expandido para todo o Estado.

“A ideia é abranger o Estado todo, os policiais sabem que violência doméstica é prioridade, não só nesses municípios, mas em todos”, concluiu a capitã.

Viatura da Polícia Militar, do Programa Mulher Segura, em frente à residência de vítima de violência doméstica (Foto: Divulgação Polícia Militar)
Viatura da Polícia Militar, do Programa Mulher Segura, em frente à residência de vítima de violência doméstica (Foto: Divulgação Polícia Militar)

“Em briga de marido e mulher, não se mete a colher” – O coronel Almeida ressalta que as mulheres vítimas de violência doméstica precisam saber que existem mecanismos para a denúncia, seja ela pelo 190, pelo Disque 180 (Central Nacional de Atendimento à Mulher) ou um pedido de socorro inusitado.

“Já tivemos casos de pessoas ligando e pedindo pizza, remédio, mas, na verdade, era uma ocorrência de violência doméstica. É importante a mulher saber que tem como pedir socorro e não deixar agravar”, exemplifica o coronel.

O ditado popular "em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher", segundo Almeida, não é verdadeiro.

Coronel Almeida, comandante do Policiamento Metropolitano durante entrevista sobre casos de violência doméstica (Foto: Paulo Francis)
Coronel Almeida, comandante do Policiamento Metropolitano durante entrevista sobre casos de violência doméstica (Foto: Paulo Francis)

Os familiares têm que se meter, sabe que tem uma situação de violência ocorrendo tem que acionar e denunciar. Os vizinhos também se colocam como bons parceiros, porque acabam presenciando o que está acontecendo".

A prevenção dos casos de violência doméstica só pode ser feita através da denúncia, por isso, é importante que toda a sociedade trabalhe junto. “A mulher tem que querer fazer o registro da denúncia e representar. Ela é a vítima. Nós só conseguimos prevenir quando chega a denúncia. Temos hoje uma redução do feminicídio, acreditamos que isso está atrelado tanto nas medidas dos atendimentos do 190, as medidas dos programas, a rede em si trabalhando para que isso seja inibido”, finalizou.

Chamados do 190 – A tenente-coronel Jusceline Sales Ortale, comandante do Copom, revelou que dados apontam que em 2021, a Polícia Militar recebeu 12.149 chamados de violência doméstica. Já em 2022, os números caíram para 10.721. Só no primeiro semestre de 2023, as denúncias chegam a 7.225, o que significa 67% do total de ocorrências do ano passado todo.

Arte: Thiago Mendes
Arte: Thiago Mendes


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