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Chefão do tráfico no Tijuca, “Boy” foi preso a 12 km do bairro, em flat luxuoso

Velho conhecido da polícia, Tiago Paixão virou alvo do Gaeco nesta sexta-feira

Por Anahi Zurutuza | 07/11/2025 18:20
Chefão do tráfico no Tijuca, “Boy” foi preso a 12 km do bairro, em flat luxuoso
Abaixado no telão, Tiago Paixão quando foi réu por homicídio em 2023; traficante foi absolvido do crime que aconteceu em 2021 (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)

Apontado como chefe do tráfico de drogas na região do Tijuca, Tiago Paixão Almeida, de 38 anos, foi preso a 12 km de um dos endereços que já manteve no bairro periférico, no sudeste de Campo Grande. Nesta manhã, ele foi alvo da Operação Blindagem, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), que derrubou esquema de tráfico de drogas e armas gerenciado por presos do sistema carcerário estadual.

RESUMO

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Tiago Paixão Almeida, de 38 anos, apontado como chefe do tráfico de drogas na região do Tijuca, em Campo Grande, foi preso em um flat de luxo no Edifício Vertigo, a 12 km de seu antigo endereço. A prisão ocorreu durante a Operação Blindagem, realizada pelo Gaeco, que visa desmantelar um esquema de tráfico de drogas e armas gerenciado por detentos. Conhecido como "Boy", Paixão possui histórico criminal desde 2018, quando foi alvo de investigações que revelaram uma estrutura organizada de tráfico, incluindo laboratórios de refino e imóveis de luxo em Santa Catarina. Em 2023, foi absolvido de homicídio, mas condenado por tráfico, cumprindo parte da pena em prisão domiciliar por problemas de saúde.

Conhecido nos bastidores do crime como “Boy”, Paixão é “dono” de três endereços diferentes no Tijuca, conforme a apuração do Gaeco, mas foi encontrado em flat luxuoso, no Edifício Vertigo, o mais alto de Campo Grande – com 35 andares e 139,2 metros de altura. O aluguel de um dos apartamentos no prédio, que fica em endereço nobre, no Jardim dos Estados, pode chegar a R$ 5,7 mil mensais, de acordo com anúncios feitos em classificados online.

Se não tivesse sido preso nesta sexta-feira (7), o alvo do Gaeco seria "caçado" até 2042, quando vence o mandado de prisão preventiva (por tempo indeterminado) ao qual o Campo Grande News teve acesso. Conforme o termo de captura, elaborado por policiais do Batalhão de Choque por volta das 9h de hoje, o traficante não resistiu à prisão e preferiu não comunicar ninguém da família sobre o ocorrido.

Chefão do tráfico no Tijuca, “Boy” foi preso a 12 km do bairro, em flat luxuoso
Vertigo, edifício mais alto da Capital, onde traficate "se escondia" (Foto: Juliano Almeida)

O empresário da droga – Embora tenha condenação por tráfico de drogas, para a polícia, o alvo se apresenta como “empresário de espetáculos”.

Tiago Paixão é velho conhecido da polícia. Desde 2018, ele figura como peça central em diversas investigações conduzidas pela Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico).

Naquele ano, uma operação desmantelou parte do grupo comandado por Paixão e expôs a estrutura altamente organizada para a venda de entorpecentes — com laboratórios de refino de drogas, imóveis de luxo em Santa Catarina e até um sistema de metas para os revendedores. A gestão se aproximava mais de um modelo corporativo do que de um grupo criminoso improvisado.

Mesmo após ser preso, Tiago Paixão continuou sendo citado em novas investigações. Em 2021, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) o apontou como mandante de um homicídio e de duas tentativas de assassinato ocorridas no Tijuca.

Os crimes deram origem ao apelido “quadrilátero das mortes”, área marcada por execuções e disputas internas entre facções. Segundo as denúncias, as vítimas teriam sido punidas por adquirir drogas de fornecedores não autorizados — uma demonstração do controle rígido exercido por Paixão.

Em 2023, o traficante enfrentou júri popular por homicídio qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa. Foi absolvido das acusações de assassinato, mas condenado novamente por tráfico de drogas, recebendo uma pena adicional de oito anos de prisão. Parte da sentença vinha sendo cumprida em prisão domiciliar, sob a justificativa de problemas de saúde.

Mesmo com sucessivas passagens pela Justiça, Tiago Paixão manteve sua influência no submundo do crime.

Outro lado – Mais cedo, o advogado Luciano Calda dos Santos, que representa a defesa de Tiago Paixão, afirmou ao Campo Grande News que o cliente ainda não sabe exatamente do que está sendo acusado. Segundo ele, o processo corre em segredo de justiça, e a equipe jurídica ainda precisa juntar a procuração para ter acesso aos autos e entender qual é a acusação.

O advogado confirmou que Tiago segue preso preventivamente. “Por enquanto, continua preso. Vamos analisar o processo para avaliar qual medida é mais adequada”, declarou.

Operação Blindagem – O Gaeco, com apoio do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e do Batalhão de Choque, foi às ruas nesta sexta-feira (7) para cumprir 76 mandados de prisão e de busca e desmantelar uma organização criminosa armada dedicada ao tráfico interestadual de entorpecentes e armas. Para manter o esquema, detentos corrompiam servidores. São investigados ainda crimes de agiotagem (usura) e lavagem de dinheiro.

Os “negócios” comandados de dentro do sistema prisional eram mantidos em Mato Grosso do Sul e em pelo menos outros oito estados: São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia, Acre, Maranhão e Goiás.

Ainda conforme as apurações do Gaeco, a quadrilha enviava drogas para cidades do interior do Estado e para outras unidades da federação, utilizando métodos variados: caminhões com fundo falso que transportavam alimentos lícitos para camuflar o transporte de entorpecentes, remessas pelo Sedex via Correios e uso de veículos comuns e vans com passageiros.

A investigação teve início após a apreensão do telefone de um líder da organização que operava de dentro de uma cela em presídio. A partir disso, descobriu-se corrupção de servidores públicos que garantiam ao líder acesso a aparelhos celulares, informações sigilosas e permanência em presídios de menor segurança.

O nome da operação faz referência à “blindagem” que os criminosos recebiam graças à corrupção de servidores: garantia de cumprirem pena em unidades prisionais com menor rigor, transferência de inimigos e acesso privilegiado a informações dos sistemas carcerário e bancário.

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