Dia tenso no lixão expõe impasse entre catadores
A terça que deveria marcar o fim de um problema de 28 anos em Campo Grande, lixão no bairro Dom Antônio Barbosa, evidenciou que a situação ainda gera impasse, entre os catadores que tiram dali o seu sustento. De um lado há os que consideram incerta atuação na UTR (Unidade de Tratamento de Resíduos) e os que querem começar a trabalhar já na cooperativa formada pelos trabalhadores.
O lixão amanheceu fechado hoje. Catadores de material reciclável que atuavam no local foram proibidos de entrar e tentaram impedir que caminhões da CG Solurb entrasse para despejar lixo recolhido.
A PM (Polícia Militar) foi chamada e, na confusão, atirou com balas de borracha e utilizou bombas de efeito moral. Militares em cavalos investiam contra os catadores. Pelo menos nove pessoas foram presas e outras ficaram feridas. Por causa da confusão, a reunião que estava marcada para esta terça-feira (18) foi remarcada para amanhã, às 8h30.
Nesta tarde o clima ainda era de revolta e protesto entre os trabalhadores, que montaram uma barreira e atearam fogo na rua principal que dá acesso ao lixão. A informação de que teria três pessoas presas na viatura da Polícia, fez com que uma multidão se concentrasse em frente à UTR.
Os trabalhadores se dispersaram depois que souberam que eles haviam sido encaminhados para a Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do bairro Piratininga.
Há 16 anos trabalhando no lixão, a catadora Maria Helena da Silva, 60 anos, espera que amanhã o impasse seja resolvido. “A única coisa que eu quero é trabalhar como sempre fiz e tirar o meu sustento”, disse.
Para Maria Helena, moradora no Parque do Sol, apesar da UTR ainda não está pronta, a proposta da CG Solurb é boa. “Tem uma parcela que não aceita, mas a maioria que quer trabalhar está pronta para começar na unidade”, afirma.
O encarregado operacional da empresa, Gustavo Pitaluga, explicou que na UTR já tem 40 toneladas de lixo esperando os trabalhadores que foram cadastrados. Segundo ele, a unidade comporta 180 pessoas, 60 serão divididas em três turnos.
“No total 438 pessoas foram cadastradas, dessas 93 trabalham todos os dias”, explica. Ainda conforme o encarregado, 150 trabalhadores da Coopermaras (Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis dos Aterros Sanitários) já estão operando na Cidade do Ônibus.
“Nós temos medo de ficarmos sem o nosso ganha pão”, destaca Roseli Vieira, 30 anos. Ela e o esposo, Nilton Bezerra, 40 anos, trabalham há 8 anos com um depósito de reciclagem montado dentro de casa, no Conjunto Pedro Teruel, antigo bairro Cidade de Deus. A catadora afirma que tem três funcionários e por mês tira pelo menos R$ 4 mil.
Com cinco filhos, um de 13, 9, 7, 4 e 10 meses, o casal teme ficar desempregado. Na tentativa de barrar a entrada do caminhão de lixo na manhã de hoje, Nilton além de ser preso, foi atingido por uma bala de borracha e levou três pontos na cabeça.
Outro ferido foi Denival Jorge Fernando, de 25 anos. Ele foi agredido pela guarda após jogar pedra na viatura e na guarnição.