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Capital

“Ele achou que tinha me matado”: vítima de estupro narra momentos de horror

Ausente no julgamento, as suas dores marcaram presença no júri por meio de gravação

Aline dos Santos e Dayene Paz | 11/03/2022 10:48
Imagem de 2019 mostra marcas de facadas no pescoço da vítima. (Foto: Clayton Neves)
Imagem de 2019 mostra marcas de facadas no pescoço da vítima. (Foto: Clayton Neves)

O depoimento da vítima de estupro e tentativa de feminicídio, cujo áudio foi apresentado aos jurados durante sessão na 2ª Vara do Tribunal do Júri, provocou comoção.

Nesta sexta-feira (dia 11), Felipe da Silva Gamarra, 28 anos, está no banco dos réus pelo crime. A mulher, vítima de 11 facadas em julho de 2019, relatou que a violência só cessou, porque o estuprador achou que ela estivesse morta.

“Acredito que ele achou que tinha me matado e saiu correndo. Acredito nisso”, diz a mulher. Presente do julgamento, as suas dores marcaram presença no júri por meio da gravação.

O ataque foi às 13h do dia 29 de julho de 2019, no Bairro Jardim Carioca, em Campo Grande. Armado com faca, ele abordou a vítima na rua e a obrigou a entrar num matagal. Felipe tentou roubar o celular da mulher, avaliado em R$ 1.590, mas desistiu, porque ela não conseguia desbloquear o aparelho. Depois, a violentou e desferiu as facadas.

“Entrei no mato com ele. Ele abriu a minha calça, viu o celular e mandou desbloquear”, afirma. Enquanto ela chorava e implorava para não ser violentada, Felipe mandou que calasse a boca. A vítima foi vendada e amarrada com a própria camiseta.

A mulher conta que quando as facadas nas costas começaram, sentiu como se fossem socos. Porém, entendeu a situação quando o sangue escorria pelo corpo. “Vi minha mão sangrando, vi que estava toda furada”.

Enquanto ele fugia, ela tentava sair do matagal para pedir socorro. Perto da via, acenou primeiro para um rapaz, que ficou paralisado ao vê-la ferida. “Falei me ajuda, pelo amor de Deus. Mas não sei, ele entrou em estado de choque não teve reação.”

No sentido oposto, duas mulheres se aproximavam: mãe e filha. A jovem sinalizou ajudar, mas a mãe alertou que poderia ser “casinha” (emboscada). “Ela soltou da mão da mãe dela, que gritou não vai fulana, pode ser casinha para você”. A moça fez a vítima se deitar no chão enquanto correu atrás de ajuda. Nesse momento, o celular da mulher atacada já estava inoperante, caído numa poça de sangue.

 A vítima passou 19 dias internada, sendo nove na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Três facadas foram no pescoço, exigindo traqueostomia.

Durante o julgamento, a promotora Luciana do Amaral Rabelo afirmou que a vítima quer Justiça. “Ela não quer vingança”. A representante do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) ainda demonstrou surpresa com o que classificou de memória seletiva do acusado.

“Ele lembra a pinga, a marca, o dia que foi embora para Anastácio, que lavou a roupa, onde jogou a faca. Mas não se lembra da hora do crime. Memória seletiva? Mas a vítima vai lembrar para o resto da vida do rosto dele e o que aconteceu naquele dia.”

Esquecimento - Felipe da Silva Gamarra afirmou não se lembrar do dia do ataque. Em geral, passava os dias bebendo e usando drogas. “Só Jamel [pinga], já nem comia mais naquele dia, não estava dormindo. Eu não lembro do que aconteceu no dia. Eu lembro que no outro dia estava com minha roupa cheia de sangue e vi o caso na televisão”, afirmou.

O réu se disse arrependido e esperar que, um dia, possa ter o perdão da vítima.

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