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Capital

Enfermeiros denunciam carga horária excessiva após morte de colega

A enfermeira Janaína Silva foi encontrada morta na casa dela na noite de ontem no Jardim Florio em Campo Grande

Guilherme Henri | 03/01/2019 16:57
Janaína Silva e Souza, 39 anos (Foto: Acervo Pessoal)
Janaína Silva e Souza, 39 anos (Foto: Acervo Pessoal)

A enfermeira Janaína Silva e Souza, 39 anos, foi encontrada morta na noite de ontem (2) em sua residência, na Vila Florio, em Campo Grande. Como a principal suspeita da polícia é de suicídio, a morte causou comoção entre colegas de profissão, que aproveitaram para denunciar cargas horárias exaustivas como um dos fatores que pode ter contribuído para depressão de Janaína.

Conforme a Polícia Civil, um colega chamou a polícia após estranhar o sumiço de Janaína. Horas depois, ela foi encontrada no quarto já sem vida ao lado de frascos de medicamentos e uma seringa. A enfermeira trabalhava no Hospital Regional de Campo Grande.

No Facebook, uma imagem compartilhada por colegas de profissão afirma que a última mensagem da enfermeira no grupo de WhatsApp do trabalho dizia que “raiva dessa vida hoje nesse plantão”.

Segundo colegas, a enfermeira se referia as condições ruins de trabalho. Em um dos posts uma enfermeira afirma que “enfermagem do MS de luto. Mais uma enfermeira que se suicidou. Péssimas condições de trabalho, baixo salário forçando os profissionais a excessivas horas extras, falta de reconhecimento profissional e carga horária exaustiva, fora os problemas pessoais que todos temos”.

Além desta publicação, uma outra colega de profissão resgatou um post antigo da vítima em sua rede social também denunciando a precarização.

Post de enfermeira no Facebook sobre carga horária exaustiva na profissão (Foto: Divulgação)
Post de enfermeira no Facebook sobre carga horária exaustiva na profissão (Foto: Divulgação)

Na publicação datada no dia 5 de maio do ano passado, Janaína diz que “eu devia estar contente com nosso dia... Mas, a realidade não é a doação, o altruísmo do cuidar nada disso. Ontem um acompanhante disse aos berros: ‘esse animal esquecer de trazer a dieta da minha mãe’. Não dizer em que melhorou a vida dessa pessoa ou da paciente em nos chamar de animais. Ou quando foi que de anjos nos tornamos animais. Não vejo motivos para comemorar. Não temos salário digno. Não temos carga horária condizente com nosso trabalho. Não temos mais nem saúde. Esse ano decidi depois de 15 anos mudar de profissão, voltei aos bancos escolares para me permitir morrer sem ser chamada de animal. Prefiro o termo anjos de branco”.

Coren – Em nota, o Coren-MS (Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso do Sul) disse que está de luto pelo falecimento da enfermeira.

“O Coren lamenta a perda de mais uma colega e clama para que mais políticas públicas sejam implementadas na esfera da saúde mental, a fim de que novas mortes sejam evitadas. O Conselho sugere também à toda categoria, sensibilidade na identificação do sofrimento de colegas de trabalho e das pessoas pertencentes aos demais círculos sociais. O intuito é que mais vidas não sejam interrompidas”. Já o Hospital Regional ainda não se manifestou sobre o caso.

Dados - De acordo com os números divulgados pela Prefeitura de Campo Grande, de 2012 a 2017 foi registrada uma média aproximada de 65 tentativas de suicídio por mês. Segundo levantamento do Núcleo de Prevenção às Violências e Acidentes e Promoção à Saúde, neste mesmo período, houve um total de 4.892 tentativas.

Imagem divulgada nas redes sociais sobre a última mensagem de Janaína (Foto: Divulgação)
Imagem divulgada nas redes sociais sobre a última mensagem de Janaína (Foto: Divulgação)
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