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Capital

Escolas municipais começam a distribuir absorventes a alunas de 11 a 15 anos

Programa municipal vai atender estudantes que comprovarem viver na faixa da pobreza

Mylena Fraiha | 12/05/2023 09:58
Prefeitura envia absorventes para Escola Municipal Professor Licurgo de Oliveira Bastos (Foto: Paulo Francis)
Prefeitura envia absorventes para Escola Municipal Professor Licurgo de Oliveira Bastos (Foto: Paulo Francis)

De acordo com o último levantamento da Unicef (Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância) sobre o que chamam de "pobreza menstrual", publicado em 2021, em Mato Grosso do Sul, mais da metade das alunas no 9º ano estão ao menos parcialmente desassistidas quanto aos itens de higiene pessoal nas escolas. Quanto a estar totalmente desassistida, MS é o 5º pior nesse quesito. Os estados com maiores percentuais são Acre (5,74%), Maranhão (4,80%), Roraima (4,13%), Piauí (4%) e Mato Grosso do Sul (3,61%).

Para mudar essa realidade, pelo menos em Campo Grande, no dia 26 de abril, a prefeitura sancionou a lei que institui o “Programa Dignidade Menstrual” no município, que começa a distribuição gratuita de absorventes higiênicos descartáveis para as estudantes em situação de vulnerabilidade social, com o objetivo de garantir que elas continuem frequentando as aulas.

De acordo com a Semed (Secretaria Municipal de Educação), o foco é contemplar as alunas regularmente matriculadas, na faixa etária de 11 a 55 anos e que vivem na faixa da pobreza ou extrema pobreza.

Claudeci explica que o programa complementa ações que a escola já realizava para ajudar alunas no período menstrual (Foto: Paulo Francis)
Claudeci explica que o programa complementa ações que a escola já realizava para ajudar alunas no período menstrual (Foto: Paulo Francis)

"Às vezes, dá um pouco de vergonha", é a frase comum que resume o sentimento de muitas meninas quando o assunto é menstruação. Infelizmente, é comum crescer com a ideia de que menstruar é algo para ser escondido e não falado, especialmente em público.

O problema se torna ainda mais grave quando pensamos nas camadas mais vulneráveis da população, que não só sofrem com o estigma social, mas sofre sem dinheiro para itens de higiene que tornem esse período mais confortável.

Para estimar a quantidade necessária de absorventes, levou-se em consideração um consumo mensal de um pacote com oito absorventes por estudante por mês, durante 12 meses. Encontram-se matriculadas na Reme um total de 4.787 alunas com idades entre 11 e 55 anos. Portanto, são distribuídos 57.444 pacotes em 12 meses.

A Escola Municipal Professor Licurgo de Oliveira Bastos, localizada no Bairro Vila Nasser, é uma das beneficiárias do programa. De acordo com a diretora Claudeci de Paula de Almeida, a escola tem 118 famílias que se enquadram na vulnerabilidade social e são beneficiárias do Bolsa Família.

Karollyne explica que nunca havia conversado abertamente sobre o tema com alguém (Foto: Paulo Francis)
Karollyne explica que nunca havia conversado abertamente sobre o tema com alguém (Foto: Paulo Francis)

Em entrevista concedida ao Campo Grande News, Claudeci, que também já foi aluna e passou por outros cargos na escola, afirma que o programa veio para complementar o que já era feito na instituição. “O programa da Prefeitura veio para nós como uma forma de complementar o que já fazíamos. Mensalmente, a gente comprava o absorvente e deixava no armário. Caso a aluna precise, ela tem esse absorvente. Agora, com o projeto, nós vamos atender um número muito maior de alunas”.

Segundo ela, a escola recebe 590 pacotes de absorventes, que irão atender as meninas por cinco meses. “A quantidade está em cima do número de famílias que possuem o Bolsa Família. Ele vem semestral. Nós fazemos o cadastro delas, com nomes, para saber direcionar certinho e de acordo com as necessidade de cada aluna”, explica Claudeci.

Menos tabu - Embora seja algo comum e natural para algumas pessoas, grande parte ainda considera a menstruação um tabu, usando codinomes como "aqueles dias" ou "tô de chico". Isso só aumenta o estigma em torno do assunto e das pessoas que menstruam.

Entretanto, Claudeci destaca a importância da orientação familiar sobre o assunto, pois há pais que não gostam de falar sobre menstruação por conta de tabus religiosos. “A participação da família é importante, porque quando vamos falar sobre sexualidade e menstruação na escola, alguns pais mais religiosos não gostam de comentar o assunto. Mas é preciso que eles falem sobre isso com suas filhas, esse é o papel da família também. É preciso explicar que em algum momento a menstruação irá acontecer e é um processo natural da biologia. Acontece com todo mundo”.

A primeira menstruação pode acontecer em qualquer lugar, na escola, em casa, viajando ou com as amigas. Só que ela precisa entender que aquilo é normal e só precisa pedir um absorvente”, explica a diretora.

Beatriz explica que teve um papo mais aprofundado sobre o tema com a mãe e com a avó (Foto: Paulo Francis)
Beatriz explica que teve um papo mais aprofundado sobre o tema com a mãe e com a avó (Foto: Paulo Francis)

Em algumas famílias, o diálogo só acontece após a primeira menstruação ocorrer, como é o caso da estudante do nono ano, Isadora Karollyne Guilherme Correia, de 14 anos. Ela relata que a primeira menstruação veio aos 11 anos de idade, mas até aquele momento, nunca havia conversado abertamente sobre o tema com alguém.

 "Quando desceu pra mim, fiquei com medo. Só que a minha mãe já explicava para mim que algo aconteceria quando eu 'virasse mocinha', mas só depois que eu entendi", relata Isadora.

Para a estudante do nono ano, Beatriz Silva Olimpo, 14 anos, a situação foi parecida. A jovem relata que nunca havia conversado com alguém sobre o tema, até a chegada da sua primeira menstruação, aos 9 anos de idade.

"Foi uma sensação estranha. Eu falei pra minha mãe: 'Mãe, tá saindo sangue de mim'. Aí ela disse que era normal e que ia acontecer todo mês comigo. Então acostumei, mas nunca tinha conversado com alguém sobre o assunto antes".

Após a menarca, Beatriz explica que teve um papo mais aprofundado sobre o tema com a mãe e com a avó, mas tentou se informar sobre o assunto. "Agora, eu tentei me informar melhor. Conversei com a minha mãe, depois de acontecer, mas também falei com a minha avó, que me explicou bastante coisa".

Pamela explica que a mãe passou pela experiência sem saber o que era a menstruação de fato (Foto: Paulo Francis)
Pamela explica que a mãe passou pela experiência sem saber o que era a menstruação de fato (Foto: Paulo Francis)

Diálogo - Para evitar que as filhas passem pela mesma experiência, algumas mães preferem explicar o ciclo menstrual antes mesmo da primeira menstruação. Esse é o caso da estudante Pamela Neris de Aquino, 13 anos, do oitavo ano, que relatou ao Campo Grande News que sua mãe “antecipou” a conversa.

“Eu ainda não menstruei, mas minha mãe já conversou comigo sobre o assunto. Desde que eu tinha seis ou sete anos, eu falei para ela que uma amiga minha tinha menstruado. Aí ela falou que isso era normal e que toda mulher passa por isso”.

Pamela explica que a mãe passou pela experiência sem saber o que era a menstruação de fato. “Ela disse que quando aconteceu, ela não sabia o que era, porque que minha avó não teve tempo para explicar para ela. Então, como ela já me explicou, estou tranquila se acontecer”.

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