Estacionados nas ruas, carros velhos esperam bom negócio ou grana para conserto
Veículo pode ficar na rua, desde que tenha documentação em dia e esteja em local permitido
É sucata? Sim, mas dá negócio ou tem valor sentimental. Por isso, carros velhos, alguns até raros, ocupam vagas de estacionamento nas ruas da Capital. Eles estão ali por apego, por falta dinheiro para os consertos ou porque não têm uma garagem para “chamarem de sua”. Alguns não chegam a estar sucateados e os donos só vendem para quem pagar o que consideram justo. Até sair um bom negócio, os carros vão ficando estacionados nas vias.
Segundo o chefe do setor de Fiscalização de Trânsito do Detran-MS (Departamento de Trânsito do Mato Grosso do Sul), Otílio Ruben Ajala Junior, se veículos aparentam mau estado, mas permanecem ali é porque estão com documentação em dia e possuem itens obrigatórios. O Detran não informou a quantidade de veículos nessa situação.
“Se o carro estiver estacionado corretamente na via, em local permitido, nada pode ser feito, pois não existe regulamentação municipal ou estadual quanto a isso. Porém, a vigilância sanitária, controle de endemias da prefeitura observam essas situações, pois ferem algumas questões ambientais”, explica Otílio ao referir-se a possíveis focos de proliferação de mosquito transmissor de doenças, como dengue, zika e chikungunya.
Um Monza da década de 90 chama atenção na Rua Piriqui com a Santa Bárbara, no Bairro Monte Carlo. É do aposentado Arlindo Giroldo, de 74 anos. Há quatro meses estacionado na frente de casa, o veículo está ali porque faltam R$ 2,5 mil para o conserto, mas o documento está em dia, segundo o dono.
“Quero arrumar e voltar para Santa Catarina. Já estou reformando a casa para vender e ir embora com o carro”, conta o proprietário, que demonstra um certo apego pelo veículo que tem há mais de trinta décadas.
Na Rua Theotônio Rosa Pires, no Itanhangá Park, uma Fiorino ano 93 também chama atenção de quem passa. Está ali há uns três meses, segundo o proprietário, o servidor público federal, Tadeu Amorim, de 57 anos.
O carro parece deteriorado, mas ele garante que o motor está em bom estado e não vende porque oferecem pouco pelo veículo. “Se for para dar de graça, prefiro não me desfazer dele. Não pagam nem o valor que custa um motor. Acho que vou levar para a chácara”, diz.
Na mesma rua, um ônibus e um caminhão estão estacionados há oito meses, conforme o proprietário, o aposentado Josué Antunes Neves, de 73 anos.
“Comprei de particular. Até o final do mês vou remover o caminhão para a chácara da família e o ônibus vai ser reformado e vou transformar em um motorhome. Não tem como colocar dentro de casa porque não há espaço, mas logo estarão em outros locais. A gente vai fazendo conforme a renda dá. Agentes de trânsito já passaram por aqui, mas como está estacionado e tudo correto, não tem o que fazer”, comenta.
No Guanandi, bairro com diversos estabelecimentos conhecidos como “ferro velho”, vários veículos também ocupam as ruas. Nas ruas Kalil Naban, Antônio Siuf, Eduardo Contar e Itapirapuã, encontram-se dezenas de carros nessa situação.
Na região, o proprietário de alguns veículos, que não quis se identificar, disse que não costuma deixar na rua porque há risco de furto, mesmo sendo carros de desmanche, mas está com trabalho atrasado por falta de funcionários doentes com covid, e os carros tiveram que ficar ali.
No Bairro Maria Aparecida Pedrossian, pelo menos seis carros ficam estacionados na Rua General Arthur Sother. A curiosidade é que alguns são modelos raros, como um Mercedes. São de alguém que compra em leilão, reforma e os vende, segundo um vizinho, que preferiu não se identificar.
A reportagem solicitou à Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informações sobre a fiscalização de veículos velhos ou sucateados estacionados nas ruas de Campo Grande, mas não recebeu resposta, até então.