Falência do Mercado Soares gera onda de processos e dívidas milionárias
Credores enfrentam dificuldades para reaver valores e bens da empresa são insuficientes para cobrir as dívida
O fechamento do Mercado Soares, que já foi uma das redes de supermercados mais promissoras de Campo Grande, não deixou apenas portas cerradas e prateleiras vazias. A falência da empresa desencadeou um verdadeiro rastro de destruição, impactando desde grandes bancos e fornecedores até ex-funcionários e consumidores que sequer tinham relação direta com a administração da rede.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
A falência do Mercado Soares, uma rede de supermercados em Campo Grande, deixou um rastro de dívidas de R$ 11,7 milhões, afetando bancos, fornecedores, ex-funcionários e consumidores. A empresa, que cresceu rapidamente durante a pandemia, enfrentou descontrole financeiro e um desfalque interno. Com a falência decretada, credores lutam para receber, mas os bens disponíveis são insuficientes. A Justiça prioriza pagamentos a trabalhadores e governo, enquanto fornecedores menores têm poucas chances de recuperação. A defesa da empresa culpa a crise econômica e o desfalque pela situação.
Com mais de R$ 11,7 milhões em dívidas e um número crescente de ações trabalhistas e civis, credores agora enfrentam um desafio quase impossível: receber o que lhes é devido. No entanto, a realidade do processo aponta que não há dinheiro suficiente para cobrir os prejuízos.
O caso envolve um número impressionante de partes interessadas. Entre os credores, estão bancos, fornecedores de alimentos, distribuidores, cooperativas de crédito e até órgãos públicos como o Governo do Estado e a Prefeitura de Campo Grande. No total, o processo de falência do Mercado Soares reúne mais de 60 partes, incluindo credores de diferentes setores, administradores judiciais e representantes legais.
O início da ascensão e a queda - Aberta em 2016 como uma empresa familiar, o Mercado Soares viveu um crescimento acelerado durante a pandemia de Covid-19, expandindo rapidamente suas operações e chegando a operar seis unidades em Campo Grande. Com um faturamento mensal que chegou a R$ 7 milhões, a rede parecia sólida. Mas, por trás do crescimento, havia um descontrole financeiro difícil de administrar.
Os primeiros sinais da crise surgiram em 2023, quando a empresa começou a atrasar pagamentos e acumular dívidas com fornecedores. Em meio às dificuldades, veio um golpe interno: um desfalque de R$ 400 mil cometido por uma funcionária de confiança agravou ainda mais a situação.
As execuções começaram a se acumular e, em setembro de 2023, a empresa entrou com um pedido de recuperação judicial, tentando um fôlego para reorganizar as contas. No entanto, a Justiça considerou o plano inviável e, em julho de 2024, o juiz José Henrique Neiva de Carvalho e Silva decretou a falência do Mercado Soares.
A decisão abriu caminho para um novo pesadelo: como pagar os credores se a empresa não tem dinheiro suficiente?
Dívidas milionárias - Com a falência decretada, a administradora judicial iniciou um processo para levantar os ativos da empresa e identificar bens que pudessem ser vendidos. A expectativa dos credores era que, pelo menos, uma parte da dívida fosse quitada.
Porém, a perícia revelou uma realidade frustrante: os bens encontrados são insuficientes para cobrir os valores devidos. Muitos equipamentos sumiram, veículos financiados ainda estão em disputa com bancos e não há estoque relevante para ser vendido.
Na prática, os credores terão que disputar as migalhas que sobrarem após a liquidação dos poucos bens arrecadados.
Além disso, a Justiça determinou a execução dos avalistas da empresa, como Aparecida Soares Onofre e Marcelo Queiroz Onofre, que ainda podem ser responsabilizados por parte das dívidas. No entanto, esse processo pode levar anos e também depende da existência de patrimônio pessoal penhorável.
Quem ficou no prejuízo? - A falência do Mercado Soares atingiu um grupo variado de vítimas, desde trabalhadores que ficaram sem seus direitos até consumidores que compraram veículos da empresa sem saber que acabariam bloqueados na Justiça.
Um dos maiores credores, o Banco do Brasil, entrou com uma execução de R$ 1.061.234,33, cobrando um financiamento concedido à rede. Com a falência, a cobrança agora recai sobre os avalistas da empresa, que continuam sendo processados.
O Banco Volkswagen tenta recuperar três veículos financiados pela empresa antes da falência. O banco entrou com um pedido de restituição, argumentando que os bens não podem ser usados para pagar outros credores porque ainda pertencem ao banco. A Justiça agora tenta localizar os veículos, mas há incerteza sobre o paradeiro deles.
O Estado de Mato Grosso do Sul também sofreu com a falência. A empresa acumulou uma dívida tributária de R$ 65.836,53, referente a impostos não pagos. O governo entrou com uma execução fiscal, mas, assim como os outros credores, enfrenta dificuldades para recuperar o valor.
Ex-funcionários do Mercado Soares têm buscado seus direitos na Justiça. Um dos processos, movido por Anderson Henrique de Souza, cobra R$ 54.406,76 em verbas rescisórias e outros direitos trabalhistas. A situação é ainda pior para trabalhadores que nem sequer conseguiram receber as rescisões e agora dependem do rateio da massa falida para tentar alguma compensação.
E talvez um dos casos mais curiosos da falência seja o de uma mulher que comprou uma moto da empresa sem saber que ela entraria em colapso financeiro. Quando tentou regularizar o veículo em 2025, foi surpreendida com uma restrição judicial que impedia a transferência da moto, pois a Justiça havia bloqueado bens da empresa para pagar credores. Agora, ela luta para comprovar que comprou o veículo de boa-fé e para conseguir reverter a decisão.
E agora, quem vai receber? - Com a insuficiência de bens da massa falida, a Justiça deve seguir a ordem de prioridades prevista na Lei de Falências. Os primeiros a receber são os trabalhadores (até 150 salários mínimos por pessoa), seguidos pelo governo (tributos atrasados), bancos e fornecedores.
Na prática, fornecedores menores e outros credores sem garantias têm poucas chances de ver o dinheiro novamente. Porém, nada disso tem prazo por enquanto.
Defesa da empresa - Nos autos da falência, a defesa do Mercado Soares argumentou que a empresa buscou alternativas para renegociar suas dívidas, mas que o volume de execuções inviabilizou qualquer recuperação. Alegou ainda que a crise econômica e um desfalque interno agravaram a situação financeira da rede.
A reportagem tentou localizar a defesa da empresa para um posicionamento atualizado, mas não conseguiu até o momento.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.