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Capital

Falência, invasão e PM: saga vivida por moradores do lado de cá do “Carandiru”

Paula Maciulevicius | 20/01/2012 21:45

Contrapontos. Moradores convivem com cenário de drogas, prisões e polícia no bloco ao lado. (Foto: Marlon Ganassin)
Contrapontos. Moradores convivem com cenário de drogas, prisões e polícia no bloco ao lado. (Foto: Marlon Ganassin)

A falência da construtora foi o primeiro passo para a sucessão de fatos que compõem a saga dos moradores do lado de cá do “Carandiru”, como ficou conhecido o residencial Athenas, no bairro Mata do Jacinto, em Campo Grande. A divisão vai além dos seis blocos. De um lado proprietários que pagaram pelo imóvel, do outro, moradores que invadiram apartamentos.

Segundo relatos da vizinhança o nome “Carandiru”, vem da aparência do segundo conjunto de blocos, uma associação ao maior complexo penitenciário de São Paulo, já desativado e marcado pelo massacre de 111 presidiários em 1992. “Quem deu o apelido foi a Polícia”, comenta uma moradora.

O lado “Carandiru” tem ainda os tijolos à vista, janelas improvisadas de material reciclável e moradores que não querem dar as caras. Do terceiro andar a síndica grita, na tentativa de intimidar “não tenho nada para falar e ninguém quer imprensa aqui” e ainda manda fechar o portão.

O residencial que se resume a um só, mas é separado por um muro com entrada e saída independentes, foi palco de operação realizada pela Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos) e pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) na última quarta-feira. O saldo foi a prisão de dois homens e apreensão de um casal de adolescentes.

A presença de policiais já se tornou rotina para quem mora ao lado. “É, estouraram uma boca de fumo aqui essa semana”, diz outro morador. O medo que a vizinhança do lado de cá do muro sente, faz com quem muitos não queiram se identificar.

“Não temos nenhum problema, tem mais de cinco anos que eles estão ali. Quando tem briga de casal, tiro, a gente se assusta. O medo é de bala perdida”, conta uma das vizinhas. “A maioria deles são usuários de droga, aí traz traficante para cá”, completa.

Vista do lado de lá, é essa a imagem que moradores do lado de cá têm da janela. (Foto: Marlon Ganassin)
Vista do lado de lá, é essa a imagem que moradores do lado de cá têm da janela. (Foto: Marlon Ganassin)

O muro erguido, as paredes pintadas e a garagem coberta dos primeiros blocos do condomínio foram melhorias erguidas pelos próprios moradores. No residencial, a preocupação é pelas crianças e por ali existem ao menos 10. “Não, eu não vou lá brincar não, a gente não se mistura”, diz uma das meninas.

Uma das moradoras está ali há 12 anos. Metade deles convivendo com o cenário de confusões, tentativas de homicídio e tráfico de drogas.

“Isso acaba virando referência mesmo para o lado da gente e fora que desvaloriza o imóvel”, ressalta. Mesmo tendo quitado todas as prestações, com a falência da construtora, os condôminos não tem se quer a escritura dos apartamentos.

“A gente faz de tudo para ter uma convivência amigável. Mas é o amigável é entre aspas. Meu sonho é mudar daqui, mas vai vender como, se não tem documento?”, desabafa a mulher.

O medo quase fez com que a dona de casa Neusa Leite, 48 anos, desistisse de morar no Athenas. Vinda do bairro Pioneira há um ano e meio ela conta o que os vizinhos dela precisam fazer para viver ali.

“A gente faz de conta que nem vê. Aqui eles não mexem, mas eu fico meio assim, eu nem olho nada, até para preservar eles”, fala. Quando soube da mudança, proposta pela filha, se apavorou. “Quando eu disse a uma amiga onde era, ela disse como assim? No Carandiru? Com a fama de ser assim eu só pensava pelo amor de Deus”, conta.

O que apavora uns é motivo de vergonha a moradora Lourdes Trindade, 63 anos. “Eu me sinto humilhada, só sei o quanto eu lutei para quitar o meu apartamento antes da falência”, desabafa. “Ficamos ao Deus dará, jogados aqui sem o habite-se, escritura. Eu digo, moro no residencial Athenas, comprei como residencial”, completa.

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