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Capital

"Frajola" é bode expiatório, dizem moradores sobre gato que divide condomínio

Com outros gatos circulando pela área comum, moradores não veem razão para ‘despejar’ o felino

Maurício Ribeiro | 04/08/2021 13:08
Frajola em passeio pela área comum do condomínio. (Foto: Pablo Chaves)
Frajola em passeio pela área comum do condomínio. (Foto: Pablo Chaves)


No centro de uma discussão entre moradores e síndico no Residencial Mangaratiba, em Campo Grande, Frajola pode ter o destino definido no próximo dia 11, quando acontece uma assembleia geral no condomínio e a permanência do animal será colocada em votação. É só um caso envolvendo felinos que costumam colocar vizinhos em pé de guerra.

O gatinho apareceu no condomínio há cerca de 4 anos, na gestão de outro síndico. “Ele não era filhotinho, já era um gatinho mais crescido”, relembra Brasiluza Gomes de Pinho Neves (62). De acordo com a moradora, o gato de temperamento dócil, mesmo não tendo um dono foi ficando, já que conquistou a simpatia de boa parte dos moradores.

Uns chamam de Jorge, outros de mascotinho, independente do nome, Frajola tem muitos fãs na vizinhança. Mas o fato de circular livremente pelo pátio abriu precedentes, não demorando muito para que a frase “se ele pode, o meu também pode”, começasse a ganhar força entre tutores de outros felinos do condomínio.

No residencial há 80 apartamentos, quase todos ocupados. São 25 moradores com animais, alguns deles começaram a soltar seus gatos na área comum, o que vai contra a convenção dos moradores.

"Se você tem a guarda responsável legal, você não pode deixar solto, tem que circular com o animal na coleira ou guia, então, são pessoas que não quiseram colocar telas nas janelas de suas casas e acabam soltando, deixando assim o dia inteiro, o que gerou reclamação de outros moradores que começaram a pressionar o síndico para que tomasse uma atitude e tirasse o gato do condomínio”, conta Brasiluza.

Brasiluza teme que a mudança de ambiente afete o gato, que passou a vida toda na vizinhança. (Foto: Kísie Ainoã)
Brasiluza teme que a mudança de ambiente afete o gato, que passou a vida toda na vizinhança. (Foto: Kísie Ainoã)


Até dentro da própria diretoria do condomínio há divergências.

Para o estudante de Direito, Pablo Chaves (26), Frajola virou uma espécie de bode expiatório. “Antigamente, não ligavam, mas como síndico não gosta do gato aqui, a ideia ganhou força, como se a saída dele fosse a solução para os problemas. Alegam que ele faz barulho no telhado em tempos de cio, mas ele é castrado”, pontua o rapaz, que é o vice do síndico.

Moradores revelam que de maio pra cá a ideia de arranjar um novo e definitivo lar para o gato ganhou corpo e o assunto está na pauta da assembleia marcada para a semana que vem, porém, Pablo explica que uma votação em assembleia pode não refletir de fato a opinião da maioria, uma vez que inquilinos não tem poder de voto.

“Só proprietários podem votar, então, muitos dos que gostam do gato, não poderão opinar”, lembra. Com isso, o rapaz tem esperanças que a Justiça se pronuncie antes da assembleia com um parecer favorável aos que defendem a presença de Frajola. “Procurei me informar sobre casos parecidos em outros lugares e vi que já moveram ações a respeito de animais comunitários, então, decidimos fazer uma petição e, caso o Juiz conceda uma liminar, o tema nem poderá ser colocado em discussão”, explica.

Pablo conta que resolveu entrar com a ação para garantir que o gato permaneça no condomínio. (Foto: Kísie Ainoã)
Pablo conta que resolveu entrar com a ação para garantir que o gato permaneça no condomínio. (Foto: Kísie Ainoã)


Na Justiça - O advogado Carlos Henrique Justino, responsável pelo processo, conta que essa é uma ação judicial inédita no Estado. “Embora em outros Estados tenhamos decisões favoráveis em manter animais comunitários em condomínios, em Mato Grosso do Sul é a primeira vez. Em Campo Grande, há uma Lei complementar que ampara, tanto os moradores que acolhem o gatinho, quanto o Frajola.

Não podemos permitir que ele seja retirado desse ambiente da maneira como o síndico quer. Tirá-lo de lá é retirar dele um dos seus direitos. Não é só os seres humanos que têm Direitos Fundamentais, os animais também tem e é com base nisso que vamos lutar para que ele seja mantido onde está”.

Procurado, o síndico Celso Marlei se pronunciou através de sua advogada, Dora Waldow. “Celso tem o pensamento dele, mas, o que está sendo colocado em discussão é o interesse coletivo, o impasse não está entre os moradores e o Celso, ele representa o condomínio como um todo. O Frajola está sendo cuidado por uma moradora e caiu na graça de outros. Acontece que muitos outros moradores não querem o gatinho, que tem causado problemas", argumenta.

Diante disso, ele preferiu que o assunto fosse levado e discutido em assembleia e o que for definido, será acatado, garante a advogada. "O interesse coletivo precisa prevalecer. Embora estejamos falando de um animalzinho, que está sendo cuidado por uma moradora, ninguém quer assumir responsabilidades. É legal cuidar, dar comida, mas ter responsabilidades vai muito além”, pontua.

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