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Capital

Há 100 anos, Santa Casa nascia com lista de “esmola” e nomes famosos

O começo, nos idos de 1917, foi com uma lista de doação de “esmolas” para criação de um hospital que seria refúgio dos doentes pobres e desvalidos

Aline dos Santos | 10/01/2017 14:47
Maior de MS, hospital nasceu de coleta de dinheiro iniciada em 1917. (Foto: Alcides Neto)
Maior de MS, hospital nasceu de coleta de dinheiro iniciada em 1917. (Foto: Alcides Neto)
Advogado e corretor de imóveis, Heitor faz parte da associação desde 1993. (Foto: Alcides Neto)
Advogado e corretor de imóveis, Heitor faz parte da associação desde 1993. (Foto: Alcides Neto)

Há gente que chega para ficar, tem gente que vai para nunca mais, tem gente a sorrir e a chorar. No ritmo dos ciclos da vida, cenas se repetem no maior hospital público de Mato Grosso do Sul, que chega ao centenário de criação em 2017.

Se hoje a Santa Casa de Campo Grande é um gigante com 3.300 funcionários, 600 médicos, sete mil atendimentos emergenciais por mês, fornecimento de 4.500 refeições por dia, 140 mil toneladas de roupas lavadas mensalmente e custo mensal de R$ 20 milhões, o começo, nos idos de 1917, foi com uma lista de doação de “esmolas” para criação de um hospital que seria refúgio, em breve tempo, dos doentes pobres e desvalidos.

Há cem anos nascia o embrião da ABCG (Associação Beneficente de Campo Grande), mantenedora da Santa Casa, que abriu as portas para atendimento aos pacientes pela primeira vez em 1928.

Em 1917, a sociedade convivia com uma situação que, aliás, persiste hoje: a cidade não tinha um hospital municipal. A Campo Grande de então tinha 8 mil habitantes e há pouco anos tinha presenciado a chegada da ferrovia, que, inaugurada em 1914, alçou a vila poeirenta à condição de principal centro comercial.

“Vamos completar em agosto cem anos do início das atividades das pessoas que se reuniram na antiga comunidade Campo Grande, freguesia de Santo Antônio de Campo Grande em 1917. Pessoas que sentiram necessidade de criar um estabelecimento hospitalar porque aqui não tinha nada, naquela época, nenhuma instituição que pudesse cuidar da saúde da população. Então, em 1917, esses cidadãos, liderados por Eduardo Santos Pereira, Bernardo Franco Baís e outros, começaram a arrecadar dinheiro para a construção de um hospital”, afirma o diretor secretário da ABCG, Heitor Freires. Advogado e corretor de imóveis, ele faz parte da associação desde 1993.

Em foto de 1925, diretores aparecem em frente à pavilhão de hospital. São eles:  Rogério Casal Caminha, Victor M. Pace, Eduardo Santos Pereira, João Climaco Vidal e o arquiteto Camilo Boni.
Em foto de 1925, diretores aparecem em frente à pavilhão de hospital. São eles: Rogério Casal Caminha, Victor M. Pace, Eduardo Santos Pereira, João Climaco Vidal e o arquiteto Camilo Boni.

A coleta de recursos teve doações que iam de 5 mil réis a 500 mil réis. Ao todo, 178 assinaturas, com suas respectivas colaborações, resultou em vinte e sete contos e oitenta mil réis. A sociedade beneficente foi criada em 1919 e prosseguiu com a arrecadação até 1924. No ano seguinte, 1925, foi fundada estatutariamente a sociedade.

“Foi tudo arrecadação espontânea da população. Tinha uma variação muito grande de valores. O que ficou muito caracterizado é que houve uma mobilização consciente da população, partindo então para esse trabalho. Depois que o hospital começou a funcionar, tivemos doações constantes, as famílias mais ricas da cidade. Seu Naim Dibo, os fazendeiros Elisbério Barbosa, Laucídio Coelho”, relata Freire.

No começo, a porta de entrada do hospital, que tinha 40 leitos, era na avenida Mato Grosso. O terreno foi comprado por Bernardo Franco Baís em 1920 por dez contos de réis. “O terreno tem 60 mil metros quadrados e foi comprado na administração do Bernardo Franco Baís, quer era o presidente. Olha a visão de futuro dele. Naquela época, pensa a distância do 'centro nervoso' da cidade”, diz o diretor. A área de 6 hectares permitiu as sucessivas ampliações para que o hospital tivesse mais de 700 leitos.

Segundo Heitor Freire, o atendimento era tanto para os carentes quanto os providos de recursos financeiros. Na época, os pobre levavam nome de indigentes. “Era as pessoas que não tinham condições de arcar com o pagamento com o médico, atendimento hospitalar”, afirma.

A partir de 1917, lista recolhia "esmola" para a futura Santa Casa de Misericórdia de Campo Grande. (Foto: Alcides Neto)
A partir de 1917, lista recolhia "esmola" para a futura Santa Casa de Misericórdia de Campo Grande. (Foto: Alcides Neto)
Lista de assinaturas e doações. (Foto: Alcides Neto)
Lista de assinaturas e doações. (Foto: Alcides Neto)

Bonito – No contexto de doação de dinheiro e trabalho, destaca-se José Mustafá, o Zé Bonito que dá nome ao auditório do hospital.

“Em Campo Grande não tinha transporte por caminhões. E ele tinha uma carroça muito grande, com duas parelhas de burros, então ele transportou toda areia, tijolo, ferro, todo material, enfim, que foi necessário para a construção ele transportou de graça. Numa homenagem a ele, o nosso auditório se chama Carroceiro Zé Bonito. A Santa Casa sempre teve essa solidariedade da população. Tem gente que aporta todo mês R$ 50, tem gente que aporta R$ 10, R$ 15. Sempre houve essa consciência de solidariedade da população”.

Conforme Freire, o trabalho dos conselheiros e diretoria é voluntário. “Os funcionários, claro, são remunerados. Os diretores corporativos são remunerados. Mas a diretoria executiva e os conselheiros, tanto de administração quanto do conselho fiscal, são voluntários”, diz.

De acordo com ele, a Santa Casa de Campo Grande é a quinta maior do País, num ranking liderado por Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre. O hospital realiza três mil operações por mês e pretende retomar os transplantes cardíacos.

O atual prédio foi inaugurado em 1980, com projeto arquitetônico dos irmãos Celso e Eudes Costa. O hospital atende SUS (Sistema Único de Saúde), convênios e particulares.

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