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Capital

Instituto municipal ‘dá calote’ e pacientes ficam sem atendimento

Médicos, psicólogos e outros credenciados estão deixando de atender conveniados por conta dos atrasos nos pagamentos da autarquia do município

Anahi Zurutuza e Yarima Mecchi | 03/12/2016 09:24
Sede do instituto, que funciona na avenida Ernesto Geisel (Foto: Arquivo)
Sede do instituto, que funciona na avenida Ernesto Geisel (Foto: Arquivo)

Médicos, psicólogos e outros profissionais de saúde estão deixando de atender pacientes do IMPCG (Instituto Municipal de Previdência de Campo Grande). A justificativa dada pelos credenciados aos servidores municipais e seus dependentes é que a autarquia administrada pela prefeitura da Capital atrasa constantemente os pagamentos pelas consultas, procedimentos e tratamentos realizados.

A jornalista Fabíola Magalhães Camilo, 32, tenta consulta com um neurologista para a mãe dela, Maria José Magalhães Camilo, 60, que desde o dia 21 de outubro sofre com fortes dores de cabeça. A visita a um especialista estava marcada para o dia 8 deste mês. Mas, um dia antes, a secretária do médico ligou para desmarcar com a futura paciente.

“Ela disse que o médico estava há quatro meses sem receber pelos pacientes que tratou pelo IMPCG e que, por isso, ela estava desmarcando mais de 40 consultas naquele dia e ficou de ligar quando ele voltasse a atender. A gente fica revoltada, porque pelo SUS [Sistema Único de Saúde] é mais difícil ainda de conseguir uma consulta”, afirmou Fabíola.

Outra paciente prejudicada é uma advogada, de 34 anos, que pediu para ter a identidade preservada. Ela não poderá continuar o tratamento com a psicóloga dela porque a profissional vai pedir o descredenciamento do IMPCG. “Ela disse que o IMPCG atrasa os repasses e que fica insustentável. Minha última consulta com ela é no dia 12 de dezembro, depois ela não vai mais me atender”.

A entrevistada diz estar indignada, porque terá de reiniciar o tratamento com outro profissional que não a conhece. Ela se consulta três vezes por semana com a psicóloga e gasta R$ 48 por mês – valor que ela tem de repassar pelas sessões.

Se quiser continuar sendo atendida pela mesma pessoa, vai ter de desembolsar R$ 300 por mês. “Eu tinha Unimed e perdi quando meu pai morreu, porque eu era dependente dele. Foi um transtorno encontrar alguém com quem eu me desse bem e agora vai ser tudo de novo”.

Profissionais - A fisioterapeuta Ana Carolina Lessonier, 41, conta que está há quatro meses sem receber pelas sessões e procedimentos feitos em pacientes conveniados com o IMPCG. Ele chegou a suspender o atendimento, mas depois decidiu voltar a receber os servidores municipais. “É complicado. O caixa da clínica só não fica no vermelho porque o que recebo pelos outros convênios e atendimentos particulares cobrem”.

Ana Carolina atende há sete anos pelo convênio que beneficia os servidores municipais e cobra com frequência do IMPCG os pagamentos em atraso. “Eles [funcionários do instituto] não sabem nos dar nem satisfação”.

Uma psicóloga, que não quis revelar o nome por temer represálias, também já avisou os pacientes que deixará de atender pelo convênio em janeiro caso não receba pelos atendimentos feitos em agosto, setembro e outubro –que deveriam ter sido quitados pelo IMPCG em setembro, outubro e novembro.

“Vou tirar férias em dezembro e se essa situação não tiver regularizada quando eu voltar, terei de parar de atender”, afirma.

Ela admite que para os pacientes será ruim, mas que não terá outra alternativa. “Tem gente que está comigo há quatro anos, três anos, e eu os vejo toda semana. Mas, a situação está insustentável. Atendo desde 2008 pelo IMPCG e nunca tinha passado por isso”.

Marcos Tabosa, presidente do Sisem (Foto: Arquivo)
Marcos Tabosa, presidente do Sisem (Foto: Arquivo)

Sindicatos – O Sisem (Sindicato dos Servidores Municipais de Campo Grande) tem recebido reclamações de funcionários públicos e acompanha da situação. “Estamos cobrando o pagamento do Servimed, que administra os convênios [com profissionais de saúde]. O que o [Ricard] Ballock [diretor-presidente do IMPCG] diz para a gente é que vai regularizar o mais rápido possível. Ele alega que pagam atrasados, mas pagam e as clínicas não querem aceitar os atrasos e nem os médicos”, afirmou o presidente do sindicato, Marcos Tabosa.

O sindicalista afirma ainda que a situação se agravou nos últimos meses. “Alguns [médicos e clinicas] não atendem e outros atendem”, deixou claro.

“A atual gestão é péssima. Esse tormento está passando porque a gente torce que a próxima [administração] seja feita com responsabilidade”, completou Tabosa.

Já o Sinmed (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul) afirma que ainda não recebeu reclamações.

Coronel David durante sessão da ALMS (Foto: Denilson Secreta)
Coronel David durante sessão da ALMS (Foto: Denilson Secreta)

Assembleia – Denúncias sobre a situação também chegaram ao deputado estadual Carlos Alberto David dos Santos, o Coronel David (PSC). Ele expôs o problema em sessão da Assembleia Legislativa nesta semana.

O parlamentar já havia denunciado, em junho deste ano, o desaparecimento de recursos, que somam aproximadamente R$ 109 milhões do IMPCG e pediu providências ao MPE (Ministério Público Estadual), TCE (Tribunal de Contas do Estado) e à Câmara Municipal. O deputado garantiu que vai levar as denúncias ao Ministério Público novamente.

O MPE (Ministério Público Estadual) investiga o rombo na previdência municipal.

Outro lado – A reportagem questionou a prefeitura, por meio da assessoria de imprensa, sobre a situação. Mas, até o fechamento da matéria, o município não havia se manifestado.

O Campo Grande News também tentou contato com o diretor-presidente do instituto, Ricardo Ballock, que não atendeu as ligações.

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