"Jogam em cima": cansados do desrespeito, ciclistas pedem mais pistas na Capital
Andar em duas rodas não tem sido fácil e ciclistas pedem "mais respeito" no trânsito
Dando uma volta pelas ruas da cidade, não é difícil encontrar quem anda de bicicleta. Seja por lazer ou até para poupar aquela grana por causa da alta do combustível, tem ciclista em todo canto de Campo Grande. Depois do episódio em que uma ciclista foi perseguida e atropelada por um motorista, o pedido é o mesmo: "mais respeito e mais ciclovia".
E quem anda de bike tem história de acidente para contar. O colaborador de loja, Antônio Carlos Isaías, de 66 anos, sofreu apenas um acidente. "Ninguém respeita no trânsito, os motoristas jogam o carro pra cima da gente".
Antônio mora no Jardim Botafogo. Ele conta que prefere ir para o trabalho de bicicleta, para poupar tempo - em relação a ônibus - e dinheiro. "Procuro pegar vias com ciclovia, que tem menos risco de acidente. Acredito que se tivesse mais ciclovias na cidade, melhoraria e reduziria os acidentes", destaca.
O técnico de áudio e vídeo, André Luiz de Oliveira Martins, de 44 anos, começou a andar de bicicleta há três meses. "Comecei para trabalhar e faço 18 quilômetros por dia, do José Tavares até o Monte Castelo. A bicicleta é igual moto, a vantagem é que não tem tanta velocidade", diz.
Com todos os equipamentos de segurança, André conta que presenciou muitos acidentes. "Tem que andar com bastante cautela, usar rotas alternativas dentro dos bairros que tem ruas menos movimentadas", ressalta. Para ele, os motoristas não respeitam onde não tem ciclovia. "Onde não tem ciclovia, quem desrespeita mais são veículos maiores, como caminhonete e ônibus. Jogam pra cima, pressionam demais".
O relato é o mesmo do armador na construção civil, Aparecido da Silva Ribeiro, de 57 anos. Ele anda de bicicleta há 40 anos, 12 km ao dia, contando ida e volta do trabalho. "Já sofri dois acidentes, mas sem gravidade. Hoje em dia, está mais perigoso porque aumentou o número de veiculo nas ruas", finaliza.
Seguida e atropelada - Depois de reclamar de uma "barbeiragem", a açougueira Marleide Gonçalves, de 29 anos, foi seguida, atropelada e ofendida por um motorista na Avenida Três Barras, em Campo Grande, na última quarta-feira (27).
Ela conta que estava seguindo pela avenida, quando o condutor de um Renalt Logan preto parou "do nada" no meio da avenida. "Ele freou com tudo e, por pouco, outros dois motoristas que seguiam atrás não colidiram no carro dele. Um motociclista teve que desviar próximo ao meio-fio na minha frente, daí quando eu passei do lado do motorista do Logan eu avisei 'presta atenção, você está louco?'", disse a ciclista.
Marleide seguiu adiante, mas pouco mais de uma quadra à frente, foi "fechada" pelo motorista. "Ele avançou com o veículo para cima de mim e gritou. 'Quer causar? Quer morrer? É só falar' e seguiu. Um motociclista que vinha logo atrás ainda parou, perguntou se eu estava bem”, conta. Mas os absurdos não pararam por aí.
Segundo Marleide, o motorista parou alguns metros à frente, rente ao meio fio, só para impedir a passagem da moradora. "Ele ligou o pisca-alerta e parou no cantinho da calçada. só para mim não ter como passar. Eu tive que desviar no meio da rua", completa. Na sequência, a mulher foi atropelada pelo motorista.
"Eu continuei seguindo para casa, quando ele veio e bateu o carro na roda traseira da bicicleta. Eu pulei e comecei a gravar um vídeo", lembra. Segundo Marleide, a todo o tempo o homem perguntava se "ele queria morrer", repetia que ela queria "se aparecer" e até fazia insinuações sexuais.
Em vídeo feito pela açougueira, o homem, que se identificou como Reinaldo, aparece mostrando o dedo e avançando com o carro sobre a bicicleta. "Quando eu avisei que ia ligar para a polícia, ele falou que eu podia ligar, que ele era cabo, que tinha amigos na polícia", completa.
Marleide acredita que o homem só partiu para cima dela, porque se tratava de uma mulher. "Quando ele parou no meio da avenida, outros motoristas reclamaram com ele e ele não fez nada. Ele só foi embora quando três funcionários de uma transportadora próxima viram o que estava acontecendo e vieram na minha direção", desabafa.
Assustada, Marleide chegou empurrando a bicicleta em casa. Ela procurou a Polícia Civil, apresentou a placa do veículo e registrou um boletim de ocorrência por injúria e ameaça, na expectativa de que o agressor seja identificado. “Nunca havia passado por uma situação semelhante e não desejo isso para ninguém, foi um nervoso muito grande. Ele só agiu assim porque eu sou uma mulher", conclui.