Menino que era torturado por tios pode precisar de transplante de córnea
De todas as marcas e cicatrizes verificadas pela equipe médica que acompanha o menino de quatro anos que era torturado pelos tios durante ritual de magia negra, a desepitelização, ou seja, perda da pele que protege a córnea, é um dos problemas mais graves observados pelos oftalmologistas que acompanham o caso do garoto.
De acordo com o oftalmologista Lívio Leite, o olho direito foi o mais prejudicado e teve perda total da pele, já no olho esquerdo a perda foi parcial. "Isso por si só já prejudica a avaliação oftalmológica. Temos que esperar o processo de cicatrização dessa lesão para ver o que pode ser feito no futuro", ressalta.
Além da perda dessa pele protetora, as duas córneas apresentam um grau de opacidade, que é algo como uma lente de óculos embaçada. Segundo Lívio, os dois casos podem ou não estarem relacionados. "Acreditamos que essa perda da pele foi recente e a opacidade é crônica, decorrente de um tempo maior de lesão", afirma.
Apesar dos dois problemas detectados, o médico diz que a suspeita de que a criança pudesse apresentar perfuração nos dois olhos foi totalmente descartada. "Os olhos estão íntegros. Essa queimadura na córnea pode ter sido resultado de algum produto ou água quente que jogaram no rosto dele", diz.
Para que a avaliação seja precisa, será necessário aguardar que o organismo do menino se restabeleça por completo, no entanto, quanto antes a pele que protege a córnea se regenerar, melhor será seu prognóstico. "Vamos esperar ele melhorar para ver o que sobrou da opacidade. Se essa opacidade não melhorar, daí vamos analisar outros caminhos, que pode ser o transplante de córnea, mas isso ainda é para ser estudado no futuro", enfatiza.
Na opinião de Lívio, caso essa alternativa seja necessária, ele não acredita que a criança espere por muito tempo. "Nosso Estado é um dos que mais realiza transplantes. Ele não aguardaria muito tempo", diz.
De qualquer forma, segundo Lívio, a visão do menino sofrerá uma perda, mas ainda não é possível detectar esse grau até sua completa recuperação. "Quando houver a cicatrização poderemos buscar outras alternativas para melhorar a visão dele", completa.
O médico diz que apesar das lesões, ele consegue notar objetos a 50 centímetros de distância e, por enquanto, vem sendo administrado antibióticos para evitar infecções e medicação nas córneas para auxiliar na cicatrização. "Esperamos que ele vá se restabelecer por completo porque está sendo tratado com muito carinho. Ele é uma criança amável e dócil e só tem dificuldade de falar devido às lesões na boca", conclui.