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Capital

No bairro dos ferros-velhos, mutirão não passa e dengue afeta moradores

Natalia Yahn | 27/01/2016 11:00
Ferro-velho mais problemático fica na Rua Jatobá. Vizinhos reclamam da sujeira, que invadiu a calçada. (Foto: Marcos Ermínio)
Ferro-velho mais problemático fica na Rua Jatobá. Vizinhos reclamam da sujeira, que invadiu a calçada. (Foto: Marcos Ermínio)

O Bairro Guanandi, em Campo Grande, é conhecido por abrigar diversos ferros-velhos, atividade em que o acúmulo de material pode servir de criadouros do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika vírus e chikungunya.

Mesmo assim, a região deixou de receber as visitas diárias dos seis agentes – cada um tem a responsabilidade de vistoriar aproximadamente 858 imóveis (em dois meses). Isso porquê todos estão envolvidos em um mutirão iniciado na semana passada em outros dois bairros próximos.

“Fizemos o Taquarussu e, na segunda-feira (25), começamos na Jacy. Agora os dez agentes das três áreas estão lá. Enquanto isso no Guanandi não está sendo feito nada pelo controle de endemias, só as visitas dos agentes de saúde mesmo, que reforçam os cuidados para combater a dengue”, disse uma agente, que pediu para não ter o nome divulgado.

As ações no Guanandi só devem ser retomadas a partir da próxima semana. Até lá a população continua a conviver com os focos e com casos de dengue, zika e chikungunya.

Muitos moradores estão doentes, mas deixam de procurar atendimento médico por conta de espera e do tratamento conhecido (apenas paracetamol). A cada esquina o medo das doenças fica evidente, mas o convívio diário com focos do mosquito (Aedes) deixa o trabalho dos agentes de controle de endemias ainda mais difícil.

“Alguns moradores acham que os agentes tem que limpar as casas, esta não é nossa função. A limpeza é responsabilidade de cada um. E mesmo nas casas que são bem cuidadas é importante ser minucioso. Os focos podem estar aonde menos esperamos”, disse a agente. 

Maria mostra suas "armas" contra os mosquitos, já que limpeza não acontece ela afirmar se virar como pode. (Foto: Marcos Ermínio)
Maria mostra suas "armas" contra os mosquitos, já que limpeza não acontece ela afirmar se virar como pode. (Foto: Marcos Ermínio)

A manicure Ester Rodrigues dos Santos, mora no bairro há 35 anos e afirma que a filha dela (que estava no trabalho quando a reportagem foi a casa da família) foi diagnosticada com zika vírus.

“Ela teve sintomas há duas semanas, ficou dois dias de atestado com dor no corpo, nos olhos e manchas na pele. O médico disse que pelo quadro dela era zika mesmo. Ela fez dois exames de sangue, as plaquetas estavam baixas. Mas não voltou para fazer o exame que iria confirmar zika. Se é para enfrentar 3 horas de espera no posto para tomar paracetamol é melhor ficar em casa mesmo”, explicou.

Problema - O bairro tem pelo menos 15 ferros velhos, de acordo com o presidente da Associação de Moradores, Leondas Delmondes. Mas a quantidade pode ser bem maior pois alguns proprietários usam terrenos baldios como depósito. Ou seja, um mesmo ferro velho pode ter outras duas ou mais áreas usadas para deixar todo tipo de material como carros, geladeiras, pneus e diversos itens que podem acumular água e servir como criadouro do Aedes.

“Eu mesmo tive dengue, fiquei três dias em observação no posto. E o bairro é conhecido por ser foco do mosquito mesmo. As pessoas até cuidam dos seus quintais, mas os ferros velhos são um problema antigo. Principalmente o da Rua Jatobá, o proprietário de lá aluga lotes vazios e coloca ferro velho em outras ruas do bairro”, afirmou Delmondes.

A reportagem do Campo Grande News esteve no local e tentou falar com o proprietário do ferro velho, que não foi encontrado. Mas os moradores e vizinhos reclamaram do problema e acreditam que a infestação de mosquitos é causada principalmente por conta dos ferros velhos espalhados no bairro.

A aposentada Maria Noêmia Bezerra, 51 anos, mora na Rua Caramuru há cinco anos. A casa dela fica a poucos metros do ferro velho mais problemático, porém é cercada de outros terrenos usados como depósito. “Aqui em casa é muito mosquito mesmo, tenho que ficar passando repelente e veneno o tempo todo. E os ferros velhos fazem parte da rotina do bairro, sempre foi assim, nunca resolveu”, disse.

O repelente caseiro não é o mais indicado para se proteger, mas ela usa e dá a receita - óleo, cravo da índia e álcool. Mesmo assim não foi suficiente para evitar que ela, que já teve dengue uma vez, ficasse doente novamente. Agora Maria acredita estar com zika. “Eu acho que é zika porque estou com a pele toda cheia de pontinhos vermelhos, dor no corpo e nas articulações. Mas não vou no posto só para tomar paracetamol não”, afirmou.

Exército recolhe pneus na Avenida Ernesto Geisel, mas no Bairro Guanandi, as ações de combate ao Aedes, foram suspensas há 15 dias e devem voltar a acontecer só na próxima semana. (Foto: Marcos Ermínio)
Exército recolhe pneus na Avenida Ernesto Geisel, mas no Bairro Guanandi, as ações de combate ao Aedes, foram suspensas há 15 dias e devem voltar a acontecer só na próxima semana. (Foto: Marcos Ermínio)

A vizinha dela, Nazira Ortega de Souza, 70 anos, vive no local há 15 e afirma que os ferros velhos são o maior problema do bairro. “É muito feia essa situação, porque a gente sabe que isso tudo é depósito de água e pode proliferar o mosquito (Aedes)”.

Na região da Vila Jacy, onde esta semana se concentram as ações de combate ao Aedes, a reportagem encontrou dois caminhões do Exército que recolhiam pneus em borracharias. Na Avenida Ernesto Geisel, o borracheiro Lorenço Mota, 31 anos, entregou 20 pneus. “Eu acho bom que façam o recolhimento porque não teria como dar fim sozinho. Esta foi a terceira vez que passaram aqui e das outras duas entreguei entre 50 e 100 pneus”, disse.

Casos - Até o dia 26 de janeiro a Sesau confirmou 3.749 notificações de dengue - com 275 casos confirmados -, 330 de zika vírus e 60 de chikungunya em Campo Grande. Duas pessoas, uma criança de 8 anos e uma jovem de 16 anos, morreram este mês por conta da dengue na Capital.

Confira a galeria de imagens:

  • Lorenço trabalha em uma borracharia na Avenida Ernesto Geisel, na Vila Jacy, há sete meses. "Dengue é perigoso. A gente cuida, cobre tudo, mas tem que cuidar sempre". (Foto: Marcos Ermínio)
  • A aposentada Nazira de Souza anda pela Rua Jatobá, a calçada foi tomada por materiais do ferro-velho. (Foto: Marcos Ermínio)
  • Vizinho do ferro-velho precisou marcar bem o espaço para os itens não pararem na frente da casa dele. (Foto: Marcos Ermínio)
  • Terreno do ferro-velho na Rua Jatobá preocupa moradores. (Foto: Marcos Ermínio)
  • No local é possível ver depósitos com água, que podem contribuir para proliferação do Aedes. (Foto: Marcos Ermínio)
  • Água parada por todo lado no ferro-velho localizado na Rua Jatobá. (Foto: Marcos Ermínio)
  • Situação do local é crítica, e bairro está sem visitas dos agentes de controle de endemias. (Foto: Marcos Ermínio)
  • A manicure Ester conta que sua filha foi diagnosticada com zika, mas não voltou para fazer exames. (Foto: Marcos Ermínio)
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