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Capital

Pacientes com câncer temem avanço de doença se greve suspender tratamentos

Com déficit de R$ 770 mil por mês, médicos do Hospital de Câncer paralisaram novos atendimentos

Caroline Maldonado e Mariely Barros | 23/02/2023 10:14
Paciente em tratamento no HCAA (Hospital de Câncer de Campo Grande Alfredo Abrão) (Foto: Henrique Kawaminami)
Paciente em tratamento no HCAA (Hospital de Câncer de Campo Grande Alfredo Abrão) (Foto: Henrique Kawaminami)

“Ansiedade e medo” é o que sentem os pacientes, desde quarta-feira (22), quando médicos do HCAA (Hospital de Câncer de Campo Grande Alfredo Abrão) anunciaram greve e deixaram de receber novos pacientes. Eles continuam trabalhando somente nos atendimentos e cirurgias de urgência e emergência, na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) e nos tratamentos de quimioterapia, radioterapia e hormonioterapia já em andamento.

O hospital, que atende 70% dos pacientes com câncer de Mato Grosso do Sul, alega deficit de R$ 770 mil por mês e espera que o Governo do Estado e a Prefeitura de Campo Grande aumentem o repasse para dar conta dos trabalhos. Quem faz tratamento no local já se preocupa caso o hospital não consiga resolver o impasse e os médicos resolvam paralisar tudo.

A paralisação agrava um colapso no hospital, cuja direção já vem reclamando da falta de recursos para custear os pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde), desde janeiro. A fila já é grande para quem vai começar um tratamento.

A paciente Tânia Maria de Souza, de 48 anos, esperou por 6 meses para fazer a cirurgia e agora faz fisioterapia para tentar recuperar movimentos que perdeu no braço ao retirar um câncer de mama.

“Já estou ansiosa. Quando comecei a fazer o tratamento, o câncer estava no início, em grau 2, e no último exame já aparecia como grau 4. Não posso ficar sem o tratamento certo, como a quimioterapia ou radioterapia, conforme resultado da biópsia, que estou esperando e não tenho condições de pagar particular. A gente, que está nessa situação, fica ansiosa. Já tira o sono. Já cheguei aqui hoje com medo de não conseguir a fisio, mas me explicaram que vão atender”, comenta Tânia.

Tânia Maria de Souza, de 48 anos, no HCAA (Foto: Henrique Kawaminami)
Tânia Maria de Souza, de 48 anos, no HCAA (Foto: Henrique Kawaminami)

Ela conta que o problema é a demora para realização de exames e procedimentos, mas os médicos prestam um bom atendimento apesar das dificuldades. “Sempre fui muito bem atendida pela equipe médica, nas consultas e na cirurgia. Só tem uma demora, fila de 6 meses. Para você ver, o grau do câncer foi de 2 para 4, tem um avanço muito rápido. Se paralisar tudo vai ser triste, porque a maioria não tem como pagar o tratamento”, lamenta Tânia.

Também em tratamento contra o câncer de mama, a costureira Elaine Sobral de Oliveira, de 35 anos, veio de Coxim, a 260 quilômetros de Campo Grande, nesta quinta-feira (23).

Ela vai ao HCAA a cada 21 dias para fazer quimioterapia e uma vez por semana ao HU (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian) passar por radioterapia.

“Se eles pararem não tem como fazer, eu teria que parar o tratamento, porque o custo é muito alto. Tenho medo que se prolongue essa situação da greve. Tem que ser resolvido logo. Lá em Coxim nem tem esse tratamento. Só faço porque é tudo pelo SUS, desde o transporte, a pensão em que fico em  Campo Grande e todos os atendimentos. O atendimento dos médicos é muito bom, eles são muito atenciosos”, diz Elaine.

Elaine Sobral de Oliveira, de 35 anos, no HCAA (Foto: Henrique Kawaminami)
Elaine Sobral de Oliveira, de 35 anos, no HCAA (Foto: Henrique Kawaminami)

Acompanhando o esposo, que trata câncer de pulmão, a aposentada Cemira Aparecida da Silva, de 52 anos, conta que vieram de Bandeirantes, a 70 quilômetros da Capital, por meio do transporte da Secretaria de Saúde do município.

“Meu marido consulta uma vez por mês e três vezes por semana passa por quimioterapia. Caso os médicos parem de atender, não teremos condições de ir para outro lugar. Desde o diagnóstico viemos direto para cá. Os médicos atendem super bem”, diz Cemira.

Cemira Aparecida da Silva e o esposo (Foto: Henrique Kawaminami)
Cemira Aparecida da Silva e o esposo (Foto: Henrique Kawaminami)

Conforme a direção, o Hospital de Câncer atende 99% dos pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde). Ao todo, são 422 funcionários e 75 médicos.

Se a greve durar um mês, deixarão de ser realizadas em torno de 1.000 consultas e 300 cirurgias eletivas. O PAM (Pronto Atendimento Médico) continua atendendo normalmente.

O médicos cobram a regularização dos pagamentos e dos vínculos/contratos dos integrantes do corpo clínico e regularização dos serviços de patologia e exames de imagens (ressonância magnética e cintilografia óssea), essenciais aos diagnósticos e segmentos de tratamentos.

A Sesau (Secretaria Municipal de Sáude) informou, por meio de nota, que o município mantém as tratativas não só com o Hospital de Câncer Alfredo Abrão, mas também com todos os prestadores de serviço para discutir questões contratuais de ordem financeira, bem como a possibilidade de ampliação dos serviços contratualizados.

"Cabe esclarecer que não há nenhuma pendência financeira por parte do Município com o hospital e, como mencionado, as negociações estão em andamento para que seja mantido a integralidade dos atendimentos à população. O financiamento dos serviços de saúde é tripartite, ou seja, custeado pelo Governo Federal (Ministério da Saúde), Estado e Município", diz a nota.

A Sesau afirma que somente nos meses de janeiro e fevereiro foram repassados ao hospital R$ 5,3 milhões.

"Importante ressaltar ainda que a prefeitura contratualiza somente os serviços com hospital e não possui vínculo empregatício com os funcionários. Desta forma, cabe ao hospital arcar com tais despesas, considerando que em nenhum momento houve atraso ou inadimplência quanto ao que é pactuado", finaliza a nota.

A reportagem aguarda posicionamento do Governo do Estado sobre o assunto.

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