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Capital

Pacientes esperam até 5 horas por atendimento e tendas não funcionam

Flávia Lima | 20/12/2015 13:43
Número de profissionais em UPAs não vem suprindo demanda de pacientes com sintomas de dengue. (Foto:Fernando Antunes)
Número de profissionais em UPAs não vem suprindo demanda de pacientes com sintomas de dengue. (Foto:Fernando Antunes)
Tendas destinadas a hidratação na UPA Vila Almeida estavam fechadas. (Foto:Fernando Antunes)
Tendas destinadas a hidratação na UPA Vila Almeida estavam fechadas. (Foto:Fernando Antunes)

A escala defasada de profissionais nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) da rede municipal de Saúde de Campo Grande tem levado pacientes com sintomas de dengue a esperar até cinco horas por atendimento. De acordo com pessoas ouvidas na manhã desse domingo (20) nas UPAs dos bairros Universitário 2 e Vila Almeida, o problema se agrava nas UBS (Unidades Básicas de Saúde), onde a espera é ainda maior.

Além da falta de médicos, o corpo de enfermagem também sofre com a escassez de profissionais, com isso, as tendas do Exército, montadas na Vila Almeida e no Universitário 2 para aliviar a demanda no setor de hidratação das UPAs, permanecem fechadas.

Desde que forma montadas, há mais de uma semana, as tendas pouco auxiliaram na demanda de pacientes, já que permaneceram fechadas por falta de profissionais e por problemas no ar condicionado. No entanto, os detalhes técnicos foram solucionados, inclusive com a montagem de outras tendas, confeccionadas com tecido mais adequado as altas temperaturas, já que as primeiras montadas potencializavam o calor dentro das barracas.

O enfermeiro responsável pelo plantão da UPA do bairro Vila Almeida, que preferiu não se identificar, não soube dizer se as duas tendas montadas no estacionamento da unidade de saúde funcionaram neste sábado, mas até às 10 horas deste domingo elas estavam fechadas devido a falta de enfermeiros. "Vou tentar um remanejamento para colocar pelo menos um funcionário lá", disse.

Quanto a escala médica, ele garantiu que está completa, com cinco pediatras e seis clínicos gerais e atribui a demora no atendimento devido a epidemia de dengue. "Fora desse período temos, no máximo, cinco casos notificados por semana. Agora a média passou para 50. Não tem como agilizar mais", ressalta.

Tanto no Vila Almeida quanto no Universitário, os enfermeiros responsáveis do plantão afirmam que pelo menos 60% da demanda atendida nos postos são de pacientes com sintomas de dengue ou Zika vírus.

Apesar de confirmar que a escala de profissionais está completa, os pacientes ouvidos pelo Campo Grande News afirmam que, nos finais de semana, não é possível encontrar mais de dois médicos por plantão.

Camila Ribeiro buscou atendimento no Universitário 2 no sábado e desistiu devido a demanda. (Foto:Fernando Antunes)
Camila Ribeiro buscou atendimento no Universitário 2 no sábado e desistiu devido a demanda. (Foto:Fernando Antunes)

É o que relata o estudante Elias Oliveira de Souza, que aguardava atendimento deitado no colo da mãe devido às fortes dores no corpo. Ele chegou às 7h30 na UPA Vila Almeida e até às 10 horas ainda não havia passado pelo médico. Com sintomas de dengue desde sexta-feira, ele conta que buscou a unidade neste sábado, por volta das 15 horas e só conseguiu atendimento às 21 horas porque sua gengiva começou a sagrar.

Com receio de dengue hemorrágica, ele acabou conseguindo relizar um hemograma, que ainda deveria ser analisado pelo médico neste domingo. Elias diz que a demora gerou um princípio de confusão na tarde de sábado. "Um homem chegou a chutar uma das portas, protestando contra a demora", relata.

A dona de casa Maria de Fátima Limeira também vem fazendo uma peregrinação na UPA Vila Almeida desde o início da semana passada, acompanhando o marido, que está com sintomas da doença. Ela conta neste sábado o casal chegou às 5 horas e só foi chamado às 8 horas. "Durante a semana foi pior. Nós chegávamos às 6h30 e saíamos só pore volta das 14h30", diz.

Como o marido estava muito desidratado, ele precisou ir até UPA todos os dias para tomar soro, já que o tratamento via oral não seria suficiente. A dona de casa Suellen Santos também passou pela UPA durante toda a semana para realizar hemogramas, já que nem sempre o primeiro teste aponta a doença. "A gente tem que acompanhar o números de plaquetas no sangue e ás vezes elas demoram para baixar", relata.

Ela conta que neste sábado havia fila de espera para receber soro nos leitos, pois as tendas do Exército estavam fechadas.

A diarista Valdelice Alexandre apresenta sintomas de Zika. (Foto:Fernando Antunes)
A diarista Valdelice Alexandre apresenta sintomas de Zika. (Foto:Fernando Antunes)

Com sintomas de Zika vírus, a dona de casa Rose Ribeiro havia chegado por volta das 7h30 na Vila Almeida, mas até às 10 horas ainda aguardava no corredor do posto. Ela chegou a buscar a UPA no sábado, mas acabou desistindo devido a demora. "Tenho certeza que estou com Zika porque meu corpo está todo vermelho, mas até agora não consegui fazer o exame", afirma.

Na UPA do Universitário 2 a situação não era diferente. Muitos pacientes afirmaram que no local só havia um médico na manhã deste domingo e que a informação estava sendo repassada na própria recepção. A situação de caos ocorre desde sábado, segundo a estudante e atendente de padaria Camila Ribeiro. "Ontem pelo menos umas 50 pessoas foram embora quando souberam que só tinha um médico", conta.

Como precisa de um atestado médico, Camila, que havia chegado às 7 horas, ressaltou que ficará na unidade até ser atendida neste domingo. "O ruim é que eu gasto dinheiro para vir aqui. Ontem cheguei às 19h20 e saí a uma da manhã sem atendimento. O pior é que o pessoal responde mal a gente que está doente", diz.

Com sintomas de dengue desde sexta-feira, ela já realizou um exame e esperava apenas análise médica. Apesar de a tenda para hidratação montada na unidade estar fechada, ela diz que o atendimento nas salas para aplicação de soro é rápido.

Se para os adultos a espera é cansativa, para quem busca atendimento para os filhos, a demora se torna um calvário. Foi o caso da dona de casa Maria Letícia Nascimento Correia, que desde sábado enfrenta as filas na UPA do Universitário 2 para receber o diagnóstico do exame feito no seu filho, um bebê de quatro meses.

"Ontem esperei quatro horas com ele passando mal e hoje vim só saber o resultado", relata. Após relatar a situação na recepção, ela acabou sendo atendida com menos de uma hora de espera.

A mesma sorte não teve a diarista Valdelice Alexandre da Silva, que na quarta-feira começou a apresentar sintomas do Zika vírus. Com as mãos e pés inchados, ela diz que sente muitas dores e só conseguiu realizar um hemograma na sexta-feira devido a superlotação. "Já vim ontem aqui, mas fui embora. Avisaram a gente que tinha só um médico era mais de onze e meia da noite", reclama.

Com a demanda crescente de pacientes com suspeitas de dengue e Zika vírus, as pessoas que procuram os postos de saúde com outros tipos de sintomas, chegam a aguardar mais de cinco horas. Foi o caso do estudante André Kever Constantino, que estava com conjuntivite e desde sexta-feira não consegue consulta. "O problema é que preciso de atestado porque já faltei um dia do trabalho", diz.

A responsável pelo plantão da manhã deste domingo confirma a falta de médicos, mas disse que havia três na unidade, respeitando o número exigido no turno. "Telefonei para vários médicos para ver se alguém poderia dar um reforço, mas não consegui nada", revela.

Tentas foram montadas para atender pacientes, mas não funcionaram neste domingo. (Foto: Fernando Antunes)
Tentas foram montadas para atender pacientes, mas não funcionaram neste domingo. (Foto: Fernando Antunes)

Dados - Com 9.839 notificações de dengue desde janeiro, as autoridades de saúde do Estado esperam a fase crítica da epidemia, que já causou três óbitos este ano na Capital, para a segunda semana de janeiro. Do total de notificações, 4.013 foram confirmadas até o momento.

Nas UPAs, onde fica concentrado maior número de atendimentos, o número de notificações de dengue, que antes da epidemias girava em torno de 4 a 5 por dia, saltou para uma média de 50. "Tinha semana que nem havia notificação", revela o enfermeiro responsável pelo plantão.

Só nas últimas 24 horas, foram 30 notificações, só na Vila Almeida. Durante anúncio do balanço das ações de combate a dengue, na última sexta-feira, o secretário de Saúde do município, Ivandro Fonseca, responsabilizou a falta de conscientização da população pela demanda nos postos. "Fui na casa de pessoas com dengue que o quintal estava repleto de entulhos e lixo. Dessa forma não conseguiremos mesmo suprir a demanda", disse.

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