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Pais de alunos surdos reclamam de fechamento de centro especializado

A partir de 2017 o Ceada vai atuar na formação e assessoramento de profissionais que atuam com esse público; Alunos matriculados no Ceada serão encaminhados para escolas da Rede Estadual

Christiane Reis e Paulo Souza | 25/12/2016 10:32
Aura e Wagner com o filho João. Os pais acreditam que o Ceada é a melhor escola para crianças surdas. (Foto: Fernando Antunes)
Aura e Wagner com o filho João. Os pais acreditam que o Ceada é a melhor escola para crianças surdas. (Foto: Fernando Antunes)

Preocupação, tristeza e a constatação de um retrocesso. Assim os pais de alunos do Ceada (Centro Estadual de Atendimento ao Deficiente da Audiocomunicação) classificam o que representou para eles o fechamento da entidade para as aulas de 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental.

Com a mudança, os alunos que estavam matriculados no local serão encaminhados para escolas da Rede Estadual de Ensino. “Vemos isso com grande pesar, como um retrocesso, porque as crianças precisam de base. Eu sou muito grata ao Ceada, porque eles amparam as pessoas desde pequenos, ali tínhamos uma escola bilingue”, disse a presidente da APM (Associação de Pais e Mestres), Aura Lesse Silva de Araújo.

Ela tem um filho com deficiência auditiva, o João Luiz, que tem 10 anos e cursava o 5º ano no Ceada, entidade antiga em Campo Grande e reconhecida pela atuação.

Aura estima que 2016 chega ao fim com cerca de 50 alunos na escola, mas que o local já teve pelo menos 100 estudantes. “Esse boato sobre fechamento sempre existiu e muitos pais foram retirando os filhos”, disse.

Ela estima que 2016 chega ao fim com cerca de 50 alunos na escola, mas que o local já teve pelo menos 100 estudantes. “Esse boato sobre fechamento sempre existiu e muitos pais foram retirando só filhos”, disse. Ela disse ainda que frequentavam o local crianças a partir de 1 ano até adultos, desde que cursassem até o 5º ano.

“As pessoas não entendem que escola com intérprete é diferente, pois esse intérprete não acompanha a criança nas brincadeiras e acaba que eles ficam isolados”, disse o pai de João, Wagner Luiz da Silva, 36 anos.

A preocupação deles é com as família que têm crianças pequenas, pois é possível perceber o avanço com dias de aula. "O João começou a ir para lá com quase dois anos, no primeiro dia a comunicação dele melhorou muito", disse. 

A dona de casa Roselene Rivas, 27 anos, tem uma filha de 11 anos que faria o 5º ano em 2017. Ela contou que já teve a experiência de mudar a menina de escola, quando ainda era pequena, pois precisou mudar de cidade. Na época, a criança tinha 4 anos e já estava na escola há um ano. “Voltei para o interior e ela perdeu tudo o que tinha progredido. Foi a pior coisa que fiz na vida”, contou.

Segundo o relato da mãe, depois de um ano a família retornou para Campo Grande e a criança voltou para o Ceada. “Ela estava muito nervosa, tivemos de readaptá-la. Conseguimos que recuperasse um pouco do que foi perdido, o suficiente para que ela conseguisse ter um comportamento mais calmo”.

Roselene Rivas teme que com essa transferência haja um retrocesso no comportamento da filha. “ É muito triste vivenciar isso, porque a menina estava progredindo e agora nos sentimos voltando atrás. É muito triste mesmo”, disse a mãe emocionada.

A doméstica Evânia Regina da Silva Conceição, 38 anos, tem um filho de 12 anos que fazia aulas de reforço no local. “Era bom porque o reforço ajudava muito, tanto na comunicação quanto no aprendizado”, disse.

A partir de 2017 o Ceada vai atuar na formação e assessoramento de profissionais que atuam com estudantes que tenha deficiência auditiva. (Foto: Fernando Antunes)
A partir de 2017 o Ceada vai atuar na formação e assessoramento de profissionais que atuam com estudantes que tenha deficiência auditiva. (Foto: Fernando Antunes)

Mudança – A SED (Secretaria de Estado de Educação) informou que a partir de 2017 o local vai atuar apenas na formação, assessoramento , orientação e acompanhamento dos professores do ensino comum, instrutores mediadores modalidade oral, guias intérpretes que atuam com os estudantes com deficiência auditiva e com surdo/cegueira em Mato Grosso do Sul.

Segundo a SED, com a alteração, o Ceada também vai oferecer atendimentos de fonoaudiologia, terapia ocupacional, exames de audiometria e Atendimento Educacional Especializado.

O governo garante que os alunos transferidos receberão apoio de instrutor mediador, uma vez que ainda não são fluentes na Língua Brasileira de Sinais (Libras), e também o Atendimento Educacional Especializado em Libras, como primeira língua (L1), em Língua Portuguesa na modalidade escrita (L2) e Matemática.

A secretaria conta, ainda, com a atuação do CAS (Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e Atendimento às Pessoas com Surdez), voltado também para a formação, assessoramento, orientação e acompanhamento de professores. O CAS tem como objetivo prever e prover apoio no contexto escolar, dispondo de 261 profissionais especializados na área da surdez, e também, atende anualmente por meio dos cursos de Libras cerca de 780 cursistas, visando a difusão e fortalecimento de uma sociedade bilíngue.

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