Polícia procura 10 desaparecidos, mas nada se compara ao 'caso Nando'
A maioria das pessoas que desaparece em Campo Grande é composta por adolescentes em conflito com a família. A informação é da investigadora especializada em desaparecimentos, Maria Campos, da 5ª DP (Delegacia de Polícia), que revela que atualmente a Polícia Civil investiga 10 desaparecimentos na Capital e que, na maior parte dos casos, familiares omitem detalhes que prejudicam as investigações.
Os casos de desaparecimento em Campo Grande destoam dos que envolvem ao menos 12 pessoas, dadas como desaparecidas no Danúbio Azul, e que segundo investigações policiais eram vítimas do serial killer Luiz Alves Martins Filho, o “Nando”, 49 anos. Junto com mais quatro pessoas, ele formava um "grupo de extermínio" do bairro, ligado ao tráfico de drogas e exploração sexual.
Segundo a investigadora, o caso que chocou a sociedade campo-grandense pela crueldade com que viciados em drogas eram explorados sexualmente e depois “descartados”, mostra a dificuldade que a polícia tem em encontrar pessoas que “querem desaparecer”.
Conforme ela, se a família apenas disseminar fotos em redes socais e não registrar a ocorrência, a polícia não consegue traçar um perfil de quem sumiu, o que dificulta o trabalho da polícia. “Não recebi nenhum boletim de ocorrência sobre as vítimas do Danúbio Azul, mas sei que nem todas as famílias tinham registrado o desaparecimento”, explica.
Outra barreira encontrada conforme a policial, é a omissão de informações na hora de comunicar o fato a polícia. “As pessoas acabam omitindo detalhes que podem ser fundamentais na hora de buscar pelo desaparecido. Se de fato ele era ou não ‘de boa índole’, se estava envolvido com drogas ou em algum relacionamento”, detalha.
De acordo com Campos, atualmente 10 pessoas estão desaparecidas em Campo Grande. O número, embora cause dor nas famílias que buscam seus familiares, é motivo de comemoração à polícia, que já chegou a investigar 40 desaparecidos em 2014. “Hoje existe um trabalho muito forte com relação aos desaparecimentos. Pois, a Polícia Civil acaba recebendo a ajuda de outras forças envolvidas coma segurança pública na busca por quem ‘sumiu’. Prova disso é a PRF (Polícia Rodoviária Federal) que colabora, principalmente se a vítima desapareceu com algum veículo”, diz.
Desaparecimento x fuga – De acordo com Maria, a maioria das pessoas que desaparecem em Campo Grande são adolescentes. “Pela experiência notamos que a maioria estava em conflito com a família. São casos em que os pais não estavam muito presentes e por revolta os adolescentes acabaram fugindo. O que preocupa é que como não a presença da figura paterna ou materna a criança ou adolescente também fica exposta a situação do sequestro, que não é comum, mas se trata de um risco”, explica.
Investigações – A investigadora detalha que a partir do momento em que uma ocorrência de desaparecimento é registrada a polícia tenta traçar um perfil da vítima para então tentar encontrá-la. “Não existe uma delegacia especializada então as ocorrências são distribuídas conforme a área em que aconteceu. Muitas pessoas acabam me procurando devido a minha experiência no assunto, mas atualmente acabo auxiliando mais na distribuição dessas ocorrências”, revela.
Caso que ainda intriga – Conforme a policial, um dos casos que ainda intriga a polícia é do jovem casal Wellington Afonso dos Santos Aguerro e Naiara Ribeiro Lucas, que desapareceu há 7 sete anos e a polícia ainda não tem pistas do que pode ter acontecido.
Naiara tinha 17 anos quando desapareceu junto com Wellington, três anos mais novo do que ela. Os dois foram vistos pela última vez em 7 de fevereiro de 2009 em frente à casa dela, no bairro Nova Lima.
O casal namorava no local. Familiares de ambos disseram que os jovens não tinham motivos para fugirem de casa. Dias após o desaparecimento, uma mensagem foi enviada do celular da amiga de Naiara, Daniela Batista da Silva, que estava com ela quando foi vista pela última vez.
Na época, o pai da garota não acreditava que a filha tenha redigido o texto porque o nome dela foi grafado com Y e não com I, como é o correto.
A mensagem dizia: "Favor diga para minha mãe não se preocupar. Estamos bem. Retornaremos em breve, depois que passar a vergonha. Eu estava com outra roupa por baixo. Nayara". O torpedo foi enviado para os celulares do pai de Naiara, Benedito Lucas, e da mãe de Daniela e da própria Naiara, a partir de 1h30 do dia 19 de fevereiro.