Risco de suicídio entre trabalhadores é maior por causa da falta de diálogo
Mercado de trabalho competitivo, colegas isolados e gestores que impõem barreiras para ouvir funcionários são algumas das características de um local de trabalho desgastado que pode causar doenças para quem desempenha suas funções. O problema é tão sério que o suicídio acaba se transformando em uma fuga para essas pessoas.
Um seminário sobre suicídio, que ocorreu na semana passada na Capital, reacende a discussão entre a relação no local de trabalho e o quanto problemas vividos durante o expediente podem influenciar a vida de um trabalhador.
O professor e pesquisador da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), que faz parte de um núcleo de pesquisas de saúde do trabalhador, Luis Leão, explica que a situação vivida atualmente no mercado de trabalho é considerada propulsora de auto-agressão.
“Temos relações de trabalho degradadas que fazem surgir sofrimentos que não são orgânicos. São sofrimentos psíquicos e psicossociais. E nesse contexto vemos trabalhadores isolados, sem solidariedade com colegas porque tudo está muito competitivo e o trabalhador não consegue expressar sua insatisfação”, explica o pesquisador.
A postura de gestores de empresas, sejam elas públicas ou privadas, também influenciam, e muito, na saúde mental do trabalhador. “A falta de poder expressar as queixas relacionadas ao gestor e ao colega pode ser um motivo para idealizações suicidas”, diz.
A solução não é simples como uma receita médica, mas algumas saídas podem ser adotadas pelas empresas para que o local de trabalho se torne mais agradável. “Existem várias possibilidades, uma é a melhoria da gestão, a empresa deve se preocupar com a eficiencia, mas que coloque o sujeito em primeiro lugar, o bem estar e a qualidade de vida dos funcionários”, diz.
Tragédia – Um caso recente ocorrido em Campo Grande e que ganhou repercussão nacional foi o suicídio do delegado Eduardo Javorski Lima, chefe regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado da Superintendência da Polícia Federal de Mato Grosso do Sul.
O delegado tinha problemas de depressão e fazia tratamento psicológico. O corpo foi encontrado em seu gabinete no 3º andar do prédio pela equipe de plantão da superintendência da PF, ele se matou com própria arma.
O presidente do Sinpef/MS (Sindicato Estadual dos Policiais Federais), Jorge Caldas, afirma que depressão e suicídios fazem parte da realidade dos servidores muito em razão das más condições de trabalho e de estrutura da corporação.
“Os profissionais vem sofrendo com o alto nível de stress e também com a desmotivação em razão da remuneração. É um barril de pólvora”, desabafa.
Caldas afirma ainda que depois da morte do delegado Eduardo, denúncias foram feitas ao MPF (Ministério Público Federal) para que a saúde do servidor fosse apurada. O caso se transformou e um inquérito civil público.