Sem limpeza, área de preservação é combustível em época de queimadas
O terreno precisa de autorização do órgão ambiental para que intervenções sejam realizadas
A falta de manutenção há muito tempo, aliada à limitada iluminação pública, gera insegurança a moradores vizinhos a uma APP (Área de Preservação Permanente), localizada na Rua Cayova, no Jardim São Lourenço, em região nobre da cidade e vizinha ao Centro. No local, passa o Córrego Vendas e há nascentes; intervenções requerem autorização do poder público.
O mato cresceu a ponto de cobrir o muro na maior parte da área e até mesmo o local do passeio público. A placa afixada, alertando o interesse ambiental do lugar, sumiu no meio do matagal. Com a chegada do período de estiagem, quando aumentam as queimadas, surge um motivo a mais para preocupação.
A dona de casa Carmem Formagini, de 78 anos, contou para a reportagem que mora na região há cerca de 10 anos. Sem saber quem é o responsável pelo terreno, ela revela que o marido acaba fazendo alguma limpeza.
“Ele [o marido] limpa, junta o mato e as folhas que ele consegue e recolhe para os lixeiros levarem. De vez em quando, eles dão uma roçadinha, mas limpeza de verdade faz mais de 4 anos que eles não fazem e fica uma situação chata, porque eu sou uma das que fazem caminhada ali e precisam ir para o meio da rua para atravessar. É até perigoso, porque os carros passam correndo demais principalmente em horários de picos”, explicou.
Outro morador também apontou a falta de limpeza na APP. “Assusta quando tá cortado, viu? Quase nunca, não sei dizer se é o pessoal da prefeitura que faz o corte, mas o que eu sei é que essas áreas aqui são todas privadas. Dizem que essa parte é da família Saad [parte da APP]“, contou o empresário Abdo Jorge Karmouche.
Karmouche ainda relata que já presenciou situações em que pedestres temem passar ao lado do matagal. “Existe um problema mesmo porque a calçada está tomada pelo mato. Às vezes, saio para tomar um chimarrão de madrugada e fico até apreensivo por quem passa ali andando. Tem uma moça que passa quase todos os dias, me parece que correndo, não sei como ela não tem medo”.
Segundo o empresário, as limpezas pararam de acontecer. Ele menciona que em uma das manutenções o dono da área teria sido multado por desmatamento. Em um outro trecho da APP, na rua de trás, houve desmatamento, aplicação de multa e a Promotoria do Meio Ambiente moveu uma ação para responsabilizar o dono.
Com tempo seco, os moradores ouvidos pela reportagem disseram não se preocupar com o risco de queimada, diante da existência do córrego no meio da APP.
Procurada pelo Campo Grande News, a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) confirmou que a APP está em uma propriedade particular, cabendo ao dono do terreno a responsabilidade pela limpeza e manutenção do calçamento.
A secretaria informou não ter registros de irregularidade sobre a área, entretanto, esclareceu que uma equipe de fiscalização irá ao local para realizar uma vistoria. "Lembrando que não são permitidas intervenções em APP sem autorização do órgão ambiental competente. Conforme a lei federal (Código Florestal), intervenções são autorizadas somente em casos específicos", reforçou nota da Semadur.
Situações semelhantes - Um pouco mais adiante da localização da APA, outros terrenos estão sem manutenção. Um deles, na própria Cayova, mais próximo à Três barras, ao lado de um condomínio, acabou sendo incendiado na noite desta segunda-feira (26).
“Foi feio, o pessoal do condomínio saiu doido tentando apagar. Até eu tentei apagar com um balde d’água. Daí acionaram os bombeiros e eles vieram e apagaram, senão ia queimar tudo, porque os donos não vêm aí faz muitos anos”, relembrou o aposentado Lino Barbosa, de 78 anos.