Sobrevivente, pastor que defendeu cloroquina diz que menosprezou covid
Gladiston Amorim passou 52 dias internado, maioria em UTI e afirma que hoje "mudou a mentalidade" em relação à doença
“Eu menosprezei a capacidade de transmissão do vírus e a gravidade da doença.” Com essa afirmação, o pastor e auditor fiscal aposentado, Gladiston Riekstin de Amorim, 58 anos, o “Dinho”, como é mais conhecido, resume os dias após a covid-19, da qual se livrou depois de 50 dias internado, grande parte deles em leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Titular da igreja evangélica Atos de Justiça, em Campo Grande, Dinho defendeu o uso da cloroquina contra a covid, como pode-se ler aqui e aqui. Ele ressalta, no entanto, que tanto o fato da doença não ter tido uma “explosão” como se esperava, bem como questões ideológicas, o influenciaram a ter uma ideia errada sobre o novo coronavírus, o qual achava que lhe traria uma gripe comum e nada mais.
“Eu menosprezei a doença na questão de saúde mesmo. Acho ainda que há muito exagero no medo e no pânico, mas tem que ter cuidado e eu me descuidei e peguei. Achei que seria no máximo uma gripe, que ficaria isolado em casa uns 15 dias. Meu desejo de não pegar a doença era só pra não ficar isolado em casa”, destacou.
O pastor disse ainda que sempre gozou de boa saúde, se alimentava bem, mantinha bons hábitos como não beber ou fumar e por isso acreditava que isso seria suficiente para livrá-lo de uma contaminação mais grave. “Mas assim que eu peguei, já deu uma rebaixada no meu estado geral. Quando internei, passei só um dia no quarto, no segundo já fui pra UTI. Foram 52 dias”, reforça.
O arrependimento gerou até postagem em rede social, onde Dinho, que defendia o uso antecipado de cloroquina e outros remédios como prevenção à covid-19, relatou quais foram seus seis erros em relação à pandemia e à doença.
O primeiro citado é de não ter dado o devido valor à pandemia e ter-se deixado “influenciar pela discussão ideológica”. Em seguida, cita o fato de ter tratado os casos e mortes pela doença como números frios, mas que agora os enxerga como vidas. Ressaltou ainda que “pensei que se pegasse a covid-19 seria apenas uma gripe inofensiva”.
Os erros seguintes elencados pelo pastor se referem ao fato de não ter dado ouvidos à esposa, “que insistia para eu fortalecer meu sistema imunológico, com vitamina D, B, zinco e algo mais”; sobre ter relaxado nos cuidados (como uso de máscaras, álcool em gel e aglomerações) e “por teimosia, retardei minha internação por três dias”.
Kit-prevenção - Sobre o uso dos medicamentos do chamado “kit prevenção”, como a própria hidroxicloroquina, além de ivermectina, Azitromicina, zinco, vitamina D e potássio, Dinho sustenta que os tomaria novamente, caso precisasse para prevenir ou mesmo combater a covid-19 e explica o porquê.
“Eu usei o kit e eu não teria problema em usar novamente. Não sei se ajudou ou não, no meu caso mas mal não fez. Eu sei que ainda não existe comprovação, mas vi relatos de médicos que adotaram e tiveram resultado positivo. Se eles falam a verdade no número de pessoas que usaram esse protocolo, não podemos desconsiderar”, afirmou.
No entanto, não se diz um defensor de tais medicamentos, já que “o kit virou uma discussão ideológica. Alguns defendem como se fosse a solução e outros rejeitam por completo. O kit não me impediu de ter complicações, mas pode ser uma forma de ajudar. Não acho que é a solução, mas acredito que algum tratamento precoce é essencial”.
Experiência com Deus – Gladiston destaca também que nos mais de 50 dias internado e inconsciente teve experiências com Deus e uma delas foi ter ouvido a voz dEle dizendo que havia muitas pessoas orando por sua recuperação.
“Eu estive no limite entre a vida e a morte, literalmente no vale da sombra da morte. Eu poderia ter ido pra eternidade ou poderia voltar. Eu acredito na vida eterna e me preparo pra ela, seria bom pra mim estar com o Senhor, mas então ouvi uma voz dizendo que tinha muita gente orando por mim. Decidi concordar com as orações”, ressaltou.
Para o pastor, no momento dessa experiência, Deus lhe deu a oportunidade de escolher entre voltar e ir para a eternidade e eles escolheu ficar. “Isso aconteceu quando eu tive o segundo choque séptico, em 19 de setembro. Os médicos diziam que eu não passava do dia 20. Pouco depois disso eu voltei à consciência e me recuperei”.
Dinho recebeu alta em 14 de outubro e passou a ser tratado em casa, em Home Care. Enquanto esteve intubado, teve duas sepses - infecção generalizada que causa falência de órgãos e pressão arterial perigosamente baixa -, além de a covid-19 ter se espalhado por praticamente todo seu pulmão.
Além dessas complicações, o pastor, que não tem comorbidades, também apresentou enfisema pulmonar, com vazamento de oxigênio para o organismo, o que o deixou “inflado”, que foi quando a traqueostomia foi feita para drenar o ar.
“Estar vivo é um milagre e minha reabilitação em tão pouco tempo, sem sequelas, também é um milagre. Tenho levado uma vida praticamente normal, mas com cuidados. Saio pouco e com muita consciência. Como pastor, sou um formador de opinião e hoje tenho uma mentalidade diferente”.
O pastor vai dar seu testemunho de sobrevivência nesta quarta-feira e no domingo na sede da igreja Atos de Justiça. O relato poderá ser acompanhado também ao vivo na página do ministério no You Tube.