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Capital

Um ano sem Sophia: distância foi a opção para pai enfrentar a data

Menina de dois anos morreu com lesões múltiplas; mãe e padrasto irão a júri popular

Por Maristela Brunetto | 26/01/2024 06:30
Jean decidiu ficar longe de Campo Grande no dia em que completa um ano sem Sophia (Foto: Acervo pessoal)
Jean decidiu ficar longe de Campo Grande no dia em que completa um ano sem Sophia (Foto: Acervo pessoal)

Esta sexta-feira, 26, será um dia especial de lembranças e saudade para Jean Carlos Ocampos, de 28 anos, em que completa um ano da morte da filha, Sophia, quando tinha apenas 2 anos e sete meses. Ele não conseguiu permanecer em Campo Grande e decidiu ficar longe da cidade para lidar com a data. Viajou com o companheiro, Igor Andrade, para fora do Estado, a Santa Catarina, na tentativa de “respirar outros ares”, uma vez que “esquecer é impossível”.

No final do ano passado, Jean já havia relatado o esforço para ressignificar a vida após a perda da filha. Agora, com a data, Jean retoma o impacto em sua vida.

“Dia 26 de janeiro foi o pior dia da minha vida, dia que não foi só a Sophia que morreu. Eu e o Igor fomos juntos com ela”, disse Jean. Ele ainda comentou que, independentemente de onde estiverem, sempre terão a criança na memória. “Ela foi e será nosso maior presente.”

Ele revelou ser grato pela presença da filha em sua vida, mesmo que por pouco tempo. “Tem coisas na vida que não tem preço, como chegar em casa do serviço e ver a festa que ela fazia em me ver.” Jean considera que não terá nunca mais essa sensação, “mas o que eu vivi com ela, isso ninguém pode tirar de mim.”

O pai da menina já havia dito que ver a ex-esposa, Stepanhie de Jesus da Silva, e o padrasto de Sophia, Christian Campoçano Leithein, condenados pela morte da criança é um desejo que alenta, assim como constatar o funcionamento efetivo da rede de proteção das crianças, para outras famílias não vivenciarem sua dor. Em mais de uma ocasião, ele passou por vários serviços em busca de ajuda diante das suspeitas de que a criança sofria violência.

Advogada militante na área da infância, Janice Andrade, é assistente da acusação no júri do caso Sophia, como ficou conhecido o crime, atuando em favor de Jean. Ela disse esperar penas elevadas para os réus. Além da morte da criança, também são acusados em outro processo por torturá-la. Meses antes da morte, a menina teve uma fratura na perna e a acusação foi de que permaneceu longas horas sem encaminhamento ao serviço de saúde. Há outra ação, referente a maus-tratos ocasionando a um cão de estimação.

Exatamente nesta sexta-feira termina o prazo para as defesas de Stephanie e Christian apresentarem as razões à Justiça aos recursos contra a decisão de encaminhá-los a júri popular. O juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande, chegou a reservar datas em março para o julgamento, mas acabou por aceitar pedido das defesas e desmarcou, diante da possibilidade de não ter sido concluída até lá a análise dos recursos no Tribunal de Justiça.

Com a visibilidade que o caso alcançou, Janice conta que segue recebendo com frequência relatos de violência no âmbito doméstico e de problemas nos serviços públicos, encaminhando-os às autoridades. “É como enxugar gelo”, diz, sobre essa realidade.

No começo deste mês, com a pressão pública, a Prefeitura de Campo Grande nomeou mais 15 conselheiros tutelares para atuar com outros 25 enquanto não estrutura três conselhos para ampliar os serviços, hoje concentrados em cinco unidades. O serviço é essencial na verificação e encaminhamento de situações de violação de direitos.

Já a Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública) informou que ontem recebeu da União a documentação do terreno em frente à Casa da Mulher Brasileira, região do Aeroporto Internacional de Campo Grande, onde vai construir um centro nos mesmos moldes, concentrando os serviços para registro de denúncias de violência contra crianças e adolescentes e atendimentos às vítimas.

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