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Capital

Vizinhos fazem abaixo-assinado pedindo "remoção" de moradores do "Carandiru"

Vizinhança garante que só quer ajudar, mas morador de residencial não acredita

Por Mylena Fraiha e Geniffer Valeriano | 18/12/2023 16:49
Fachada do residencial Atenas, conhecido como "Carandiru", localizado na Rua Jamil Basmage, na Mata do Jacinto (Foto: Henrique Kawaminami)
Fachada do residencial Atenas, conhecido como "Carandiru", localizado na Rua Jamil Basmage, na Mata do Jacinto (Foto: Henrique Kawaminami)

Moradores do bairro Mata do Jacinto, em Campo Grande, começaram um abaixo-assinado para reivindicar a saída dos moradores do Residencial Atenas, conhecido como "Carandiru". Eles vivem em três blocos inacabados localizados na Rua Jamil Basmage e este ano foram alvos de operação contra crimes na região. Os moradores do residencial nem querem comentar a mobilização dos vizinhos, mas quem fala diz que naõ acredita em ajuda.

Obra da Construtora Degrau Ltda., o Residencial Atenas foi ocupado de forma irregular por dezenas de famílias. O local foi invadido há quase duas décadas, após a falência da construtora. A área total do terreno é avaliada em R$ 12,7 milhões.

Apesar do abaixo-assinado citar apenas possibilidade de "remoção e realocação de todos os residentes", ao ser questionado pelo Campo Grande News, o representante do grupo Guardiões da Região Prosa, Elias Camilo, deu outra versão. Falou que a mobilização é para chamar atenção das autoridades para a urgente necessidade de "reforma e regularização dos três blocos inacabados".

Precisam realizar uma reforma ali, não deixar da forma que tá. Queremos ajudá-los. Tem muitas famílias ali, com idosos e crianças. Acreditamos que podemos obter muito apoio até o prazo estabelecido para a entrega do abaixo-assinado", comenta Elias.

De acordo com Elias, a ideia surgiu depois que incêndio acabou favela do Mandela, outra invasão. O local está com problemas de infraestrutura graves, com risco de desabamento. "Lá vaza água, os degraus balançam, o reboco está caindo. É uma situação caótica. Precisam realizar uma reforma ali, não deixar da forma que está. Não podemos esperar que aconteça uma nova tragédia, como foi com o Mandela”.

Elias comenta situação precária do residencial Atenas, conhecido como "Carandiru" (Foto: Henrique Kawaminami)
Elias comenta situação precária do residencial Atenas, conhecido como "Carandiru" (Foto: Henrique Kawaminami)

Até o momento, cerca de 500 pessoas assinaram o documento. Segundo Elias, a pretensão é entregar o documento à Prefeitura e ao Ministério Público em janeiro de 2024. “É importante deixar claro que a atual construção não apresenta mais condições adequadas para moradia. Que desmanche e faça um condomínio novo ou dê outro lugar com segurança para aquelas famílias”.

Elias também aponta que a iniciativa do abaixo-assinado foi apresentada para alguns moradores do residencial inacabado. “Foi falado sobre o assunto sim. Entretanto, nem todos desejam sair daquele local, eles têm medo de deixar o lugar e perder suas casas”.

No domingo (18), o único morador do "Carandiru" que aceitou falar, não quis se identificar. Ele disse que não foram informados sobre a mobilização e que não acredita na boa intenção dos vizinhos da Mata do Jacinto. “A gente acha que é mentira, eles querem tirar a gente daqui”. O morador também informou que um advogado orientou a não falar com a imprensa.

Nenhuma das famílias que estavam em frente ao condomínio quis conversar, além do morador que concedeu um relato, sem se identificar.

Além disso, a reportagem tentou contato com a prefeitura para saber a situação fundiária do local e se há pretensão de regularizar a situação dos moradores. Entretanto, até o fechamento desta matéria, não obteve resposta. O espaço segue aberto.

Fachada do residencial Atenas, conhecido como "Carandiru", localizado na Rua Jamil Basmage, na Mata do Jacinto (Foto: Henrique Kawaminami)
Fachada do residencial Atenas, conhecido como "Carandiru", localizado na Rua Jamil Basmage, na Mata do Jacinto (Foto: Henrique Kawaminami)

Ocupação - A história do "Carandiru" iniciou há 18 anos, quando três blocos inacabados de 16 apartamentos foram invadidos após a falência da Construtora Degrau. Segundo a advogada da massa falida, Hilda Priscila Corrêa Araújo, a extensão desde a parte que já está construída até a inacabada é de 8.500 m². Já o metro quadrado por imóvel na região fica em torno de R$ 1,5 mil, o que no fim das contas resulta no valor milionário.

Ainda conforme a representante da empresa, a obra do antigo condomínio Atenas, agora conhecido como “Carandiru”, paralisou no início de 2002, pouco depois de a empresa entrar em crise financeira.

No dia 3 de outubro de 2005, cerca de 40 famílias, que somam mais de 200 pessoas, ocuparam o local. “Não tinha privada, não tinha fiação elétrica, o último bloco não tinha o 3º andar, a obra estava com 60% concluída, é muito pouco. O estado precário é real, o prédio não tinha condições de habitabilidade, é um risco”, afirmou a advogada Hilda Priscila Correia Araújo, representante legal da Construtora Degrau Ltda, ao Campo Grande News.

No dia 6 de junho, a Operação “Abre-te Sésamo” da Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão em 46 apartamentos nos 3 blocos inacabados. Naquela manhã, mais de 200 policiais, totalizando 321 agentes da polícia, perícia, assistência social e bombeiros, surpreenderam os moradores.

Durante a operação, pelo menos 10 pessoas foram presas na ação policial. Além de buscar alvos ligados a furtos e roubos na localidade, também foram enviadas equipes do Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Energisa e assistência social do Município para averiguar as condições dos imóveis e das famílias que ali residem. Naquele dia, as ruas ao entorno do condomínio foram fechadas.

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