"Vou reconstruir o que sobrou da minha filha", diz mãe de mulher estuprada no HR
Jovem denunciou enfermeiro por estupro dentro do hospital, quando estava internada com covid
"Meu foco é tentar reconstruir o que sobrou da minha filha". A fala é da acadêmica de Direito, de 56 anos, mãe da vendedora, de 36 anos, que denunciou um enfermeiro de 51 anos por estupro dentro do HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul). A mulher acompanha a filha na primeira oitiva - de procedimento disciplinar - do caso, no Coren (Conselho Regional de Enfermagem), nesta manhã (19).
Triste, as poucas palavras que restam demonstram indignação, junto a um apelo por justiça. "É muito doloroso, difícil ter uma palavra exata que defina a situação da minha filha. Ela não vai voltar a ser a pessoa que era, está nas mãos de psicólogos e psiquiatras, tem crises de desespero e de pânico, está em processo de automutilação. Acredito na Justiça e nos profissionais sérios do Coren que não merecem passar por essa situação", afirmou.
Entre as crises, vômitos, insônia, a jovem está a base de remédios fortes, comenta a mãe. Além disso, a família passa por dificuldades financeiras. "Porque em uma pandemia, perder alguém que ajuda financeiramente é complicado. Estamos recebendo apoio da polícia, dos profissionais do Coren e da unidade de psicologia da UCDB", destacou.
Mesmo diante das dificuldades, a mãe acredita na recuperação da jovem. "Meu dia-a-dia está de cabeça para baixo, minha família toda está desestabilizada diante da situação, tudo que está acontecendo envolve vidas". Ela ainda complementou: "O ato dele estar fantasiado de enfermeiro, não vai tirar o brilho de outros profissionais".
A oitiva desta sexta-feira (19) foi um pedido do Coren-MS. Estão presentes, além da vítima e a mãe, o advogado do enfermeiro, Matheus Machado Lacerda. Sem mais detalhes, afirmando só se manifestar nos processos administrativos e judiciais, o advogado comentou que o cliente não estará presente por instrução dele.
A assessoria do Coren-MS afirmou que se trata de um processo disciplinar sigiloso e não falará sobre o caso.
Investigação criminal - O caso ocorreu em fevereiro deste ano. Os responsáveis pelas apurações dizem ter convicção de que o enfermeiro cometeu agressão sexual contra a paciente de 36 anos, que estava internada com covid-19. A denúncia foi feita pela mãe da vítima, quando a filha ainda estava recebendo tratamento na ala isolada do hospital.
Conforme relatou a paciente, depois de ter passado mal durante a noite do dia 3 de fevereiro, tendo vômito e falta de ar, ela notou quando o profissional de enfermagem começou ir ao quarto dela, durante a madrugada do dia 4, passou a apertá-la e passar a mão em seu corpo.
Em determinado momento, o suspeito retornou ao leito com “óleo de girassol”, passou nos dedos e começou a abusar da vítima. Mesmo debilitada, a paciente diz ter tentado resistir ao abuso como pôde, pedindo para o homem parar e sair de cima dela, mas ele insistia em passar a mão na virilha da paciente, enquanto pedia para ela “abrir as pernas”.
O homem repetia que queria masturbar a paciente e que não era para ela resistir, se não poderia “dar problema para ele”. Depois de ter alta, a mulher prestou depoimento e foi à Deam para fazer o reconhecimento do agressor. Ainda segundo a delegada, ao longo da investigação, foram ouvidas nove testemunhas.
Embora a perícia não tenha encontrado vestígios de sêmen, por exemplo, nas roupas da vítima – o que seria uma prova cabal –, outros elementos corroboraram para a polícia chegar à conclusão das investigações e indiciar o suspeito.
A Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) de Campo Grande concluiu o inquérito em julho deste ano e tentou prender o acusado. O pedido, contudo, foi negado pela Justiça, embora o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) tenha se manifestado favorável à prisão, segundo a delegada Maíra Machado, que tocou a investigação.