Eleições e Enem dividem atenção e estudantes tentam driblar nervosismo
Ano é atípico para estudantes que encaram a primeira eleição da vida e tentam se preparar na reta final do Enem
O ano de 2018 já chega ao fim e guarda para os últimos meses dois acontecimentos importantes: as eleições que vão decidir o próximo chefe de Estado no país e o maior exame para quem quer ingressar em uma universidade pública, o Enem. Encarando pela primeira vez as eleições, estudantes do ensino médio e do cursinho estão com a atenção dividida, e tentam driblar o nervosismo e manter agenda de estudos.
Fernanda Barros Oliveira, 17, concorre pela vaga mais acirrada dos vestibulares, o curso de medicina. Para ela, as eleições afetam a rotina e dividem a atenção. “Estão afetando, estou com atenção dividida. Vestibular é mais importante, só que às vezes eu fico tão assim, é muita informação chegando, as pessoas me chamam: ‘você viu isso’. Aí eu fico: ‘gente que que eu presto atenção? Então me afeta”, comenta.
“Eu me preocupo bastante com a situação política, porque é algo que me afeta bastante, e eu penso nas pessoas também, mas às vezes eu tenho que deixar de lado e falar: agora eu vou estudar”, explica. O nervosismo é tanto que a estudante até desenvolveu técnicas para relaxar: controla a respiração e tenta ouvir alguma música quando se sente nervosa para continuar estudando.
Rafaela Oliveira Cochito, 18, também estuda no cursinho, mas afirma que, apesar das eleições, a atenção é toda dirigida ao Enem. “Para mim é o Enem. As eleições eu sei que são importantes, eu acho muito importante votar e ter a possibilidade de votar, mas priorizo vestibular do que problemas políticos”, conta.
Para ela, a reta final antes do exame, que acontece em novembro, faz com que o período de estudos se intensifique. “Agora está mais complicado, no ano inteiro é mais de boa, porque a gente vai se preparando, vai estudando, está mais no gás, mas aí chega um mês antes, parece que você fala: ‘cara, será que eu sei tudo?’ E tem coisa para você estudar de matéria nova, tem coisa pra revisar e você não sabe se você estuda ou se você revisa”.
Ela relata, no entanto, que as discussões políticas não ficam de fora e muitas vezes os humores ficam alterados. “A gente tem algumas discussões, até pode conversar com os professores, aí a gente conversa. Tem briga entre os alunos, estão divididos entre os candidatos”.
A estudante Julia Liberatti Catalani, 17, também vai prestar vestibular para medicina. Ela afirma que este ano “as coisas se misturam muito” e deixam o ano “totalmente diferente”.
“As coisas se misturam muito. Eu me sinto bem confiante, a gente está se preparando há 3 anos, com o cursinho 4, espero esse ano passar, mas com eleição é totalmente diferente, porque querendo ou não acaba desfocando um pouco. Tem que pesquisar os candidatos, tem que ir atrás de proposta, ver campanha, debate e ter uma argumentação, saber em quem votar”.
Até os momentos “perdidos” para assistir a um debate deixam um sentimento de culpa em quem deveria estar estudando. “Mas você fica: poxa vou perder 40 minutos vendo aquele debate sendo que eu podia estar estudando. Não consigo ficar alheia. Mas esse é o momento de acelerar, agora eu vou no gás”, relata.
Ruam Dias, 17, está no terceiro ano do ensino médio e planeja carreira militar. Ele se prepara para prestar o exame da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras). Além de dividir a atenção, ele conta que as eleições criam discussões junto à família e muitas vezes a pressão aumenta.
“A maior parte do nervosismo realmente é por causa do concurso, mas as eleições atrapalham, principalmente na parte da família. Na minha família, principalmente, acaba forçando: ‘ah tens que votar nesse, tens que votar naquele’”.
Na sala de aula, comenta, o aprendizado às vezes cede espaço às discussões políticas. “É complicado, principalmente na sala de aula, tem uns que são menos focados. E sempre tem aquele dizendo: eu vi aquele candidato fazer isso, foi atrás disso, daquilo e sempre acaba tendo uma discussão. Tem um pessoal que gosta de parar e no meio do nada perguntar em quem a pessoa vai votar, o que acha de tal candidato, aí vai perdendo o foco”.
“E um negócio é que por mais que a gente esteja em uma idade jovem, a gente tem que se preocupar com isso, então por ser importante a gente tenta conciliar. A gente sempre fica perdendo um tempo vendo proposta de tal candidato, proposta do outro, só que ainda tem aquela de ah, a gente vai muito pelo que o pessoal fala”, declara.
Na reta final, “é estudo direto”. O estudante fica até 15h estudando. Métodos para relaxa? Nenhum, conta, já que “tiram” tempo que pode ser usado para estudar.
As eleições ocorrem no dia 7 de outubro em todo país. O Enem acontece em novembro, no dia 4 e no dia 11.