Home office deixa de ser herança da pandemia e vira disputa por resultados
Na Capital, empresas privadas e até órgão público continuam com a modalidade entre altos e baixos
O que antes parecia ser temporário e uma medida emergencial acabou se tornando algo permanente e produtivo para algumas empresas. O home office ficou como uma herança da pandemia da covid-19.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
Home office consolida-se como alternativa pós-pandemia em Campo Grande. Empresas e governo adotam modelo híbrido com foco em produtividade e bem-estar. Pesquisa da USP revela que 60% dos trabalhadores atuam em casa dois ou três dias por semana, com ganhos na qualidade de vida e no desempenho profissional. Empresas de tecnologia, como a Digix, destacam os benefícios do trabalho remoto, incluindo a contratação de talentos globais e o aumento da motivação. Já o governo estadual testa o modelo com servidores da Jucems, buscando eficácia na administração pública. Especialistas apontam a redução de custos e o fim dos longos deslocamentos como vantagens, mas alertam para a necessidade de organização para o sucesso do home office.
Em Campo Grande, há empresas que optaram por deixar mais da metade dos funcionários trabalhando em casa. Mas esse movimento não se restringe ao setor privado. O governo do Estado também decidiu apostar na ideia e, desde 2023, está em fase de testes, colocando servidores em regime de teletrabalho para avaliar os impactos na administração pública.
- Leia Também
- Servidores começam a trabalhar de casa para testar eficácia do home office
- Governo cria projeto piloto para testar viabilidade do home office em MS
Por outro lado, também há o grupo dos que se sentiram prejudicados. A Folha de S.Paulo informa que o Banco Itaú planeja demitir funcionários devido à baixa produtividade no trabalho em casa. Cerca de mil colaboradores foram demitidos nesta semana.
A pesquisa Percepções sobre o Trabalho em Home Office ou Híbrido, publicada no ano passado, mostra que 60% dos participantes trabalham dois ou três dias por semana em casa, enquanto 25% optam pelo teletrabalho total.
O levantamento foi conduzido pelo Grupo de Pesquisas sobre Gestão Estratégica de RH (Recursos Humanos) e Relações de Trabalho da FEA (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária) da USP (Universidade de São Paulo) e da FIA (Fundação Instituto de Administração) Business School.
O professor André Fischer, coordenador do programa, pontuou que a maioria dos entrevistados afirmou que a qualidade de vida e o desempenho profissional melhoraram desde a adoção do modelo híbrido e que a relação com os gestores também melhorou.
Deu certo – Segundo a diretora de Gente e Gestão da Digix, Barbara Borgmann, a empresa já estudava se tornar híbrida, mas a pandemia acelerou o processo.
“Foi uma alternativa para garantir a saúde dos colaboradores. O fato de sermos uma empresa de tecnologia facilitou o processo de adaptação ao trabalho remoto, já que os profissionais dessa área já estão acostumados a esse modelo de trabalho. Já tínhamos essa vontade de sermos híbridos há bastante tempo, e a pandemia só acelerou de fato o processo”, explicou.
Ainda de acordo com ela, os documentos já estavam na nuvem e todos os computadores haviam sido substituídos por notebooks.
“Ao longo do tempo, fomos analisando as necessidades e refinando nossas entregas e organizações internas para que o trabalho fluísse mesmo à distância. Outro ponto positivo é que esse modelo de trabalho permite que façamos a contratação de talentos em qualquer lugar do mundo”, completou.
Entre os principais benefícios listados pela empresa, estão o bem-estar dos colaboradores, o aumento da motivação e os ganhos de produtividade.
Os funcionários também recebem um cartão de benefício flexível, a partir de R$ 400, para ajudar com os custos do home office. Fica a critério de cada colaborador qual conta será paga com o cartão.
No primeiro ano com os colaboradores trabalhando de casa, a empresa teve redução de 50,9% das despesas fixas. Já neste ano, com o modelo de trabalho híbrido e alguns colaboradores trabalhando na sede de forma presencial, a economia foi de 36% nas despesas fixas da sede em relação ao período anterior.
"Convertemos essas economias em benefício do colaborador. Investimos no aumento do vale-alimentação para todos os colaboradores e no próprio auxílio home office", explicou Barbara.
O coordenador de Business Intelligence, Charles Leonardo Kulhawa, de 29 anos, trabalha em home office há 4 anos.
Para ele, a mudança trouxe ganhos significativos. Antes, ele tinha que considerar o tempo de deslocamento, a intensidade do trânsito e os imprevistos.
"Hoje consigo aproveitar melhor as horas do meu dia. Consigo cumprir os horários de expediente e minhas responsabilidades de uma forma mais prática e equilibrada. Além disso, consigo usar melhor os recursos que tenho em casa", disse.
Charles consegue também conciliar o trabalho com alguns afazeres do dia a dia. "Preparo minhas refeições com mais qualidade, faço pausas rápidas para um café e alongamentos e tenho um espaço adaptado que me ajuda a manter o foco. Esses detalhes impactam diretamente na minha concentração e performance", completou.
Entre uma demanda e outra, os cachorros também têm a atenção que merecem. "Consigo passear com meus cachorros pela manhã e no horário do almoço, consigo organizar a casa e deixar a alimentação adiantada antes de começar o expediente. Isso me dá tranquilidade durante o trabalho e também evita que eu termine o dia com uma lista de afazeres acumulados."
Apesar dos avanços e pontos positivos, o profissional destaca um único problema: a falta de contato social. A conversa no corredor da empresa, enquanto toma um café, faz falta para ele.
"O convívio natural do escritório, aquela conversa no corredor ou o almoço em grupo, acaba ficando restrito ao ambiente virtual. Ainda assim, com reuniões online, mensagens instantâneas e ferramentas de colaboração, conseguimos mitigar essa distância. Além disso, a empresa mantém sua sede estruturada e disponível, o que permite marcar encontros e reuniões presenciais com outros colaboradores sempre que necessário", ressaltou.
Em outubro de 2023, servidores em exercício na Jucems (Junta Comercial de Mato Grosso do Sul) deram início ao projeto-piloto de teletrabalho. O estudo começou com o objetivo de testar a metodologia e a eficácia dessa modalidade de trabalho no Estado.
Segundo o diretor-presidente Nivaldo Rocha, o projeto continua e tem dado certo. Atualmente, 33 servidores estão em teletrabalho.
“O processo está vigente, com adequação ao regime híbrido, de forma a manter os vínculos pessoais e acompanhamento técnicos. No ponto de vista funcional está correspondendo, sim, pois é pré-requisito a manutenção e ou aumento da produção”, disse ao Campo Grande News.
Prós e contras – Para a economista e administradora Angela Maria Frata, coordenadora dos cursos de Administração, Ciências Contábeis e Gestão de Recursos Humanos da Estácio em Campo Grande, o modelo foi decisivo para garantir a continuidade das atividades e evitar demissões no período mais crítico.
Ainda segundo a professora, antes de 2020 ainda havia preconceito em relação ao trabalho remoto, com a ideia de que a produtividade só era possível com a presença física.
“Antes da pandemia, o home office ainda enfrentava certo preconceito, marcado pela cultura de que o funcionário precisava estar fisicamente presente para ser produtivo. No entanto, o cenário de crise forçou uma mudança de comportamento: empresas passaram a contratar e a manter profissionais trabalhando de forma remota. Hoje, o modelo híbrido já é uma realidade consolidada, deixando de ser um caso isolado para se tornar prática comum no mercado”, pontuou.
O modelo também mostrou-se uma alternativa produtiva tanto para empresas quanto para trabalhadores. “Muitas pessoas preferem esse modelo justamente porque elimina a necessidade de grandes deslocamentos. Em cidades como São Paulo, por exemplo, não é raro que um funcionário gaste até duas horas por dia apenas para chegar ao trabalho. Trabalhar de casa significa recuperar esse tempo para outras atividades, o que representa um ganho importante para a vida pessoal.”
Do lado das empresas, os ganhos também são evidentes. “Há redução de custos fixos, já que não é necessário manter toda a estrutura física de prédios nem arcar com as despesas de água, luz e telefone. Além disso, diminui-se a logística ligada ao transporte de funcionários”, completou.
Apesar disso, a profissional também avalia que nem todos se adaptam à realidade. “Entre os malefícios, porém, está a dificuldade que alguns colaboradores têm em se organizar. Como precisam equilibrar as demandas do trabalho com as exigências da vida pessoal no mesmo ambiente, alguns acabam se perdendo nesse processo, o que pode afetar os resultados", finalizou.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.