ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
SETEMBRO, SEGUNDA  15    CAMPO GRANDE 37º

Empregos

Home office deixa de ser herança da pandemia e vira disputa por resultados

Na Capital, empresas privadas e até órgão público continuam com a modalidade entre altos e baixos

Por Izabela Cavalcanti | 15/09/2025 08:12
Home office deixa de ser herança da pandemia e vira disputa por resultados
Charles trabalha em casa na companhia de seus cachorros (Foto: Paulo Francis)

O que antes parecia ser temporário e uma medida emergencial acabou se tornando algo permanente e produtivo para algumas empresas. O home office ficou como uma herança da pandemia da covid-19.

RESUMO

Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!

Home office consolida-se como alternativa pós-pandemia em Campo Grande. Empresas e governo adotam modelo híbrido com foco em produtividade e bem-estar. Pesquisa da USP revela que 60% dos trabalhadores atuam em casa dois ou três dias por semana, com ganhos na qualidade de vida e no desempenho profissional. Empresas de tecnologia, como a Digix, destacam os benefícios do trabalho remoto, incluindo a contratação de talentos globais e o aumento da motivação. Já o governo estadual testa o modelo com servidores da Jucems, buscando eficácia na administração pública. Especialistas apontam a redução de custos e o fim dos longos deslocamentos como vantagens, mas alertam para a necessidade de organização para o sucesso do home office.

Em Campo Grande, há empresas que optaram por deixar mais da metade dos funcionários trabalhando em casa. Mas esse movimento não se restringe ao setor privado. O governo do Estado também decidiu apostar na ideia e, desde 2023, está em fase de testes, colocando servidores em regime de teletrabalho para avaliar os impactos na administração pública.

Por outro lado, também há o grupo dos que se sentiram prejudicados. A Folha de S.Paulo informa que o Banco Itaú planeja demitir funcionários devido à baixa produtividade no trabalho em casa. Cerca de mil colaboradores foram demitidos nesta semana.

A pesquisa Percepções sobre o Trabalho em Home Office ou Híbrido, publicada no ano passado, mostra que 60% dos participantes trabalham dois ou três dias por semana em casa, enquanto 25% optam pelo teletrabalho total.

O levantamento foi conduzido pelo Grupo de Pesquisas sobre Gestão Estratégica de RH (Recursos Humanos) e Relações de Trabalho da FEA (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária) da USP (Universidade de São Paulo) e da FIA (Fundação Instituto de Administração) Business School.

O professor André Fischer, coordenador do programa, pontuou que a maioria dos entrevistados afirmou que a qualidade de vida e o desempenho profissional melhoraram desde a adoção do modelo híbrido e que a relação com os gestores também melhorou.

Deu certo – Segundo a diretora de Gente e Gestão da Digix, Barbara Borgmann, a empresa já estudava se tornar híbrida, mas a pandemia acelerou o processo.

“Foi uma alternativa para garantir a saúde dos colaboradores. O fato de sermos uma empresa de tecnologia facilitou o processo de adaptação ao trabalho remoto, já que os profissionais dessa área já estão acostumados a esse modelo de trabalho. Já tínhamos essa vontade de sermos híbridos há bastante tempo, e a pandemia só acelerou de fato o processo”, explicou.

Ainda de acordo com ela, os documentos já estavam na nuvem e todos os computadores haviam sido substituídos por notebooks.

“Ao longo do tempo, fomos analisando as necessidades e refinando nossas entregas e organizações internas para que o trabalho fluísse mesmo à distância. Outro ponto positivo é que esse modelo de trabalho permite que façamos a contratação de talentos em qualquer lugar do mundo”, completou.

Entre os principais benefícios listados pela empresa, estão o bem-estar dos colaboradores, o aumento da motivação e os ganhos de produtividade.

Os funcionários também recebem um cartão de benefício flexível, a partir de R$ 400, para ajudar com os custos do home office. Fica a critério de cada colaborador qual conta será paga com o cartão.

No primeiro ano com os colaboradores trabalhando de casa, a empresa teve redução de 50,9% das despesas fixas. Já neste ano, com o modelo de trabalho híbrido e alguns colaboradores trabalhando na sede de forma presencial, a economia foi de 36% nas despesas fixas da sede em relação ao período anterior.

"Convertemos essas economias em benefício do colaborador. Investimos no aumento do vale-alimentação para todos os colaboradores e no próprio auxílio home office", explicou Barbara.

O coordenador de Business Intelligence, Charles Leonardo Kulhawa, de 29 anos, trabalha em home office há 4 anos.

Para ele, a mudança trouxe ganhos significativos. Antes, ele tinha que considerar o tempo de deslocamento, a intensidade do trânsito e os imprevistos.

"Hoje consigo aproveitar melhor as horas do meu dia. Consigo cumprir os horários de expediente e minhas responsabilidades de uma forma mais prática e equilibrada. Além disso, consigo usar melhor os recursos que tenho em casa", disse.

Charles consegue também conciliar o trabalho com alguns afazeres do dia a dia. "Preparo minhas refeições com mais qualidade, faço pausas rápidas para um café e alongamentos e tenho um espaço adaptado que me ajuda a manter o foco. Esses detalhes impactam diretamente na minha concentração e performance", completou.

Home office deixa de ser herança da pandemia e vira disputa por resultados
Charles trabalhando em outro cômodo da casa, na companhia de seu cachorro (Foto: Paulo Francis)

Entre uma demanda e outra, os cachorros também têm a atenção que merecem. "Consigo passear com meus cachorros pela manhã e no horário do almoço, consigo organizar a casa e deixar a alimentação adiantada antes de começar o expediente. Isso me dá tranquilidade durante o trabalho e também evita que eu termine o dia com uma lista de afazeres acumulados."

Apesar dos avanços e pontos positivos, o profissional destaca um único problema: a falta de contato social. A conversa no corredor da empresa, enquanto toma um café, faz falta para ele.

"O convívio natural do escritório, aquela conversa no corredor ou o almoço em grupo, acaba ficando restrito ao ambiente virtual. Ainda assim, com reuniões online, mensagens instantâneas e ferramentas de colaboração, conseguimos mitigar essa distância. Além disso, a empresa mantém sua sede estruturada e disponível, o que permite marcar encontros e reuniões presenciais com outros colaboradores sempre que necessário", ressaltou.

Em outubro de 2023, servidores em exercício na Jucems (Junta Comercial de Mato Grosso do Sul) deram início ao projeto-piloto de teletrabalho. O estudo começou com o objetivo de testar a metodologia e a eficácia dessa modalidade de trabalho no Estado.

Segundo o diretor-presidente Nivaldo Rocha, o projeto continua e tem dado certo. Atualmente, 33 servidores estão em teletrabalho.

“O processo está vigente, com adequação ao regime híbrido, de forma a manter os vínculos pessoais e acompanhamento técnicos. No ponto de vista funcional está correspondendo, sim, pois é pré-requisito a manutenção e ou aumento da produção”, disse ao Campo Grande News.

Home office deixa de ser herança da pandemia e vira disputa por resultados
(Arte: Thiago Mendes)

Prós e contras – Para a economista e administradora Angela Maria Frata, coordenadora dos cursos de Administração, Ciências Contábeis e Gestão de Recursos Humanos da Estácio em Campo Grande, o modelo foi decisivo para garantir a continuidade das atividades e evitar demissões no período mais crítico.

Ainda segundo a professora, antes de 2020 ainda havia preconceito em relação ao trabalho remoto, com a ideia de que a produtividade só era possível com a presença física.

“Antes da pandemia, o home office ainda enfrentava certo preconceito, marcado pela cultura de que o funcionário precisava estar fisicamente presente para ser produtivo. No entanto, o cenário de crise forçou uma mudança de comportamento: empresas passaram a contratar e a manter profissionais trabalhando de forma remota. Hoje, o modelo híbrido já é uma realidade consolidada, deixando de ser um caso isolado para se tornar prática comum no mercado”, pontuou.

O modelo também mostrou-se uma alternativa produtiva tanto para empresas quanto para trabalhadores. “Muitas pessoas preferem esse modelo justamente porque elimina a necessidade de grandes deslocamentos. Em cidades como São Paulo, por exemplo, não é raro que um funcionário gaste até duas horas por dia apenas para chegar ao trabalho. Trabalhar de casa significa recuperar esse tempo para outras atividades, o que representa um ganho importante para a vida pessoal.”

Do lado das empresas, os ganhos também são evidentes. “Há redução de custos fixos, já que não é necessário manter toda a estrutura física de prédios nem arcar com as despesas de água, luz e telefone. Além disso, diminui-se a logística ligada ao transporte de funcionários”, completou.

Apesar disso, a profissional também avalia que nem todos se adaptam à realidade. “Entre os malefícios, porém, está a dificuldade que alguns colaboradores têm em se organizar. Como precisam equilibrar as demandas do trabalho com as exigências da vida pessoal no mesmo ambiente, alguns acabam se perdendo nesse processo, o que pode afetar os resultados", finalizou.

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.