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Cidades

Índios falam de “justiça com próprias mãos” e avisam: "alguém vai morrer"

Ângela Kempfer e Viviane de Oliveira, de Sidrolândia | 30/05/2013 16:59
Amigos e parentes emocionados em velório de Oziel Gabriel, na aldeia Buriti.
Amigos e parentes emocionados em velório de Oziel Gabriel, na aldeia Buriti.
Corpo é velado em casa.
Corpo é velado em casa.

Pelo tom de voz e ameaças dos índios que acompanham o velório do terena Oziel Gabriel, morto hoje em confronto com a Polícia, a tensão deve aumentar em Sidrolândia nos próximos dias.

O grupo despejado na manhã desta quinta-feira da fazenda Buriti fala em “justiça com as próprias mãos” e garante que um policial ou o fazendeiro Ricardo Bacha será morto para pagar pelo “assassinato do guerreiro Oziel”.

O corpo do terena chegou no meio da tarde para velório na aldeia Córrego do Meio. Amigos receberam Oziel como palmas, gritos e muito choro. “Se eu estivesse lá não tinha deixado que isso acontecesse”, lamentava a mãe dele.

Entre os terena, nenhum divulga o nome. Todos pedem para ser identificados apenas como “guerreiros”. O irmão de Oziel, de 32 anos, avisa. “Mataram um dos nossos, vai morrer gente de lá”.

A ameaça é reproduzida por vários índios. O cunhado do terena morto é mais específico em relação aos “alvos”. “Ou a gente mata um policial ou o fazendeiro. O Ricardo Bacha vai pagar, vamos vingar a morte. Alguém vai morrer”.

Oziel era auxiliar de serviços gerais na prefeitura de Sidrolândia e uma das lideranças no movimento que busca a retomada de terras que os terena consideram tradicionais em Sidrolândia.

Eles brigam desde a década de 90 por 17 mil hectares onde hoje está a fazenda Buriti. “Somos 5 mil índios em 2.5 mil hectares. Não queremos um palmo a mais do que é nosso”, diz o cunhado, de 34 anos.

O terena garante que não havia qualquer arma de fogo com os índios “apenas armas artesanais”. Ele acusa a Polícia Militar de “proteger o Ricardo Bacha”. “Por isso ele é o maior culpado e vai pagar”, ameaça.

Em protesto, índios terenas atearam fogo na seda da fazenda Buriti. (Foto: Marcos Tomé/ Região News)
Em protesto, índios terenas atearam fogo na seda da fazenda Buriti. (Foto: Marcos Tomé/ Região News)

Outro cunhado de Oziel, de 57 anos, reclama da falta de solução para a questão fundiária em Mato Grosso do Sul. “Isso só aconteceu por causa da morosidade da Justiça”.

As famílias já preparam o funeral de Oziel, que será amanhã, com rituais e danças indígenas. O terena será enterrado no cemitério da aldeia Córrego do Meio, que fica ao lado da Fazenda Buriti.

Tensão - Durante 8 horas o grupo resistiu à reintegração de posse. Primeiro, os terena atearam fogo na sede da fazenda Buriti, ao saberem da chegada de policiais no local. Depois, ainda tentaram ficar espallhados pela propriedade. Também queimaram duas pontes que dão acesso à propriedade. A situação só foi controlada por volta das 15h.

O ex-deputado Ricardo Bacha tentou chegar à fazenda por voltada das 8h30, mas foi orientado a não se aproximar e voltar para a cidade. Ele lamentou a morte e culpou o CIMI pelo confronto. "Eles ficam estimulando as invasões. Avisei que   uma tragédia ia acontecer".

Além de Oziel, outros 5 terena ficaram feridos, 4 homens e uma mulher. A Policia Federal garante que três policiais tiveram escoriações.

A disputa entre a família Bacha e os índios terena das aldeias Lagoinha e Corrego do Meio começou na década de 90. Em 2003 os índios entraram pela primeira vez na fazenda e saíram pacificamente após decisão judicial.

Em 2010, estudos antropológicos identificaram o território como tradicionalmente indígena. Mas Ricardo Bacha recorreu aso Tribunal Regional Federal e conseguiu anular o processo de demarcação. Em seguida, Funai e Ministério Público Federal recorreram ao STF (Supremos Tribunal Federal), sem decisão até agora.

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