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Interior

Alvo da "Narco", policial ignorou denúncia do Gaeco para flagrar tráfico

Nas gravações da Oiketicus, que combateu a Máfia do Cigarro, Ministério Público descobriu ligação de policiais com traficantes

Aline dos Santos | 21/01/2019 11:50
Gaeco informou policial de Jardim sobre traficante, mas denúncia ficou sem resposta. (Foto: Marina Pacheco)
Gaeco informou policial de Jardim sobre traficante, mas denúncia ficou sem resposta. (Foto: Marina Pacheco)

Alvo da operação Narco 060, o policial civil Walmir Rodrigues Leandro ignorou até denúncia do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), que o acionou para fazer flagrante de tráfico de drogas em Jardim.

Segundo o relatório da investigação, o policial estava envolvido na associação para o tráfico de entorpecentes. Conforme o MP/MS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), o traficante Acir Pereira Polidoro tinha proteção dos policiais militares Elvio Barbosa Romeiro e Valdson de Gomes de Pinho, ambos presos na operação Oiketicus, e do policial civil, que era lotado na 1ª delegacia  de Jardim.

“O policial civil Walmir Rodrigues Leandro agia, mediante pagamento de propina, para que a traficância exercida por Acir Pereira Polidoro se desenvolvesse sem nenhuma espécie de repressão”.

Em 29 de maio de 2018, o setor de operações e inteligência do Gaeco acompanhou em tempo real um diálogo para entrega de drogas. As informações foram repassadas para Walmir, mas ele não compareceu ao local para fazer a abordagem e prender os traficantes em flagrante.

"Ocorre que no dia 29 de maio de 2018, o Policial Civil WALMIR não deu retorno para a equipe de serviço deste SOI/GAECO, que tinha entrado em contato com ele, a respeito da  informação repassada, quer seja para dizer que não foi ao local ou que não identificou ACIR PEREIRA POLIDORO, e estranhamente após este fato a linha interceptada parou de receber ligações". 

Na sequência, conforme o relatório, o policial fez contato com a irmã de Acir Polidoro para que o orientasse a não falar por telefone. O traficante parou de usar a linha telefônica que foi monitorada por um ano pelo Gaeco.

Em 12 de março de 2018, por mensagem de texto para traficante, uma pessoa que se identificou como agente Walmir pergunta se tem “como você arrumar hoje...vou aí na tua chácara buscar meio dia”. A mensagem relata a necessidade de pagar uma conta urgente.

Walmir foi preso em setembro durante a operação Narco 060. (Foto: Direto das Ruas)
Walmir foi preso em setembro durante a operação Narco 060. (Foto: Direto das Ruas)

A operação Narco 060 foi deflagrada em 18 de setembro de 2018, com 25 mandados de prisões. O policial civil está preso há quatro meses.

O advogado Marcelo Ramos Calado, que atua na defesa de Walmir, disse à reportagem que não vai se manifestar no momento e a fase de instrução do processo começa em fevereiro.

Casual - A operação Narco 060 foi um desmembramento da Oiketicus, que investigava uma rede de policiais militares de Mato Grosso do Sul que atuava na Máfia do Cigarro, liberando o contrabando do produto trazido do Paraguai.

“No decorrer dos trabalhos, identificou se, de maneira casual, o envolvimento de policiais militares com o tráfico de drogas”, aponta o Gaeco. O tráfico se dividia nos núcleos de Bela Vista e Jardim.

Durante a investigação, iniciada em 2017, foi realizada a apreensão de 6,6 toneladas de maconha, 60 gramas de haxixe, 400 gramas de pasta base de cocaína, veículos e armas de fogo.

O nome da operação faz referência à BR-060, rota para escoamento do entorpecente. A rodovia vai de Brasília (DF) a Bela Vista (MS), cortando Goiás, principal destino das drogas transportadas pelos grupos criminosos.

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