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Interior

Ameaça de massacre de crianças suspende aulas em escolas indígenas

Mensagens enviadas por WhatsApp falam em metralhar os “filhos dos vagabundos antes da eleição”

Helio de Freitas, de Dourados | 28/07/2022 10:51
Uniformizada, estudante indígena chora ao lado do caixão de Vito Fernandes, em junho (Foto: Helio de Freitas)
Uniformizada, estudante indígena chora ao lado do caixão de Vito Fernandes, em junho (Foto: Helio de Freitas)

Ainda traumatizados pelo conflito com policiais que deixou dezenas de feridos e um morto no mês passado, moradores da Aldeia Amambai agora são alvos de ameaça de massacre coletivo contra estudantes indígenas. As aulas foram suspensas até amanhã (29) nas escolas da reserva.

Mensagens que circularam ontem (17) em grupos do aplicativo WhatsApp formados por moradores da aldeia e de outras comunidades da fronteira falam em “metralhar os filhos dos vagabundos” para matar ao menos dez pessoas antes da eleição.

As ameaças não detalham, mas a eleição citada é para escolha no novo capitão da aldeia, marcada para domingo (31). Os autores ainda não foram identificados. Entre sedes, polos e extensões, são pelo menos seis estabelecimentos de ensino na aldeia.

Boletim de ocorrência foi registrado na Polícia Civil pelas diretoras das escolas municipais e pela coordenadora da escola estadual. As supostas ameaças também foram denunciadas pela ONG Aty Guasu, que cobrou investigação federal sobre o caso.

A secretária municipal de Educação Zita Centenaro não quis falar sobre as ameaças. Procurada pelo Campo Grande News nesta quinta-feira (28), ela disse o caso está com a Polícia Federal, MPF (Ministério Público Federal) e Funai.

Segundo o boletim de ocorrência, os diretores foram alertados por pais de alunos sobre as mensagens circulando grupos do WhatsApp. “Entao vc já conseguiu as armas; eu andei pesquisando ontem e os alunos entram as 12hs, então uma 2hors por ae agente começa, tbm, va eu e mais 3 índios lá da aldeia”, escreveu um dos autores.

O interlocutor, também ainda não identificado, responde: “tabom vo avisar alguns hoem que esta com agente, se não der hj tem amnha e sexta pra, gente entar naquele escola e metralhas os filhos dos vagabundos, antes da eleisao tem q sair 10 mortos lá escola”. O texto está exatamente como foi escrito nas conversas.

Educadores que denunciaram o caso à polícia acreditam que as ameaças estão ocorrendo devido à disputa pela liderança da aldeia. A eleição do novo capitão (espécie de líder político da reserva) marcada para domingo vai acontecer quase dois anos antes do previsto porque parte da comunidade guarani-kaiowá não aceitou mais a permanência de João Gauto no cargo.

Oposicionistas acusaram João Gauto de ter mentido para a polícia em cartas enviadas à Funai e à Secretaria de Justiça e Segurança Pública sobre a presença de traficantes e de integrantes do PCC entre o grupo que ocupou a Fazenda Borda da Mata, em maio.

As cartas teriam sido decisivas para a operação do Batalhão de Choque que terminou em confronto no dia 24 de junho. O indígena Vito Fernandes, 42, foi morto a tiros e vários outros guarani-kaiowá ficaram feridos. Três policiais também sofreram ferimentos leves.

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