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Interior

Comunidade indígena denuncia merenda contaminada por agrotóxicos

Moradores da comunidade Guyraroka, próximo a Caarapó, passaram mal com a pulverização do veneno em fazendas da região

Tainá Jara | 13/08/2019 13:41
A comunidade indígena Guyraroka é composta por 30 famílias, no total de 110 pessoas, das quais 45 são crianças e 25 são idosos (Foto: Divulgação/MPF-MS)
A comunidade indígena Guyraroka é composta por 30 famílias, no total de 110 pessoas, das quais 45 são crianças e 25 são idosos (Foto: Divulgação/MPF-MS)

Sintomas de intoxicação como dor de barriga, febre, cansaço, falta de ar, dores no peito e vômito verificados em moradores de Comunidade Indígena Guyraroka, localizada no município de Caarapó, distante 267 quilômetros de Campo Grande, depois de pulverização da agrotóxico na região, levaram o MPF (Ministério Público Federal), em Dourados, a instaurar inquérito para apurar o caso. Conforme relato dos guarani kaiowá, vestígios do veneno foram encontrados até mesmo na merenda escolar das crianças que também passaram mal.

O caso ocorreu em maio deste ano e a intoxicação possivelmente foi ocorreu por pulverização de calcário em fazendas próximas à comunidade. O MPF busca identificar os responsáveis pela ação e a natureza do produto químico utilizado, para adotar medidas jurídicas de combate e prevenção de novas ações como a ocorrida.

Ao MPF, o ancião da comunidade, Tito Vilhalva, contou que os funcionários da propriedade rural gradearam a terra e posteriormente foi pulverizado o calcário. Como o vento estava forte na época, o produto terminou atingindo a comunidade. Para o ancião, quem mais sofre com a exposição dos produtos são as crianças, pois a escola indígena fica apenas a 10 metros da propriedade rural.

Conforme relatos colhidos na região, no dia da aspersão de calcário, a merendeira encontrou vestígios do produto nos pães que seriam utilizados como merenda dos alunos. Ela também confirmou que boa parte das crianças, com idades entre 5 e 7 anos, apresentaram sintomas de intoxicação. Os moradores informaram que, pela distância do hospital até a comunidade, optaram pela utilização dos medicamentos naturais que são usados na tradição indígena.

Crianças apresentaram febre e vômitos depois de contato com o veneno (Foto: Divulgação/MPF-MS)
Crianças apresentaram febre e vômitos depois de contato com o veneno (Foto: Divulgação/MPF-MS)

Demarcação - A comunidade indígena Guyraroka é composta por 30 famílias, no total de 110 pessoas, das quais 45 são crianças e 25 são idosos. A área já foi objeto de estudos de identificação e delimitação pela Funai (Fundação Nacional do Índio), tendo sido declarada como território tradicional indígena pela Portaria nº 3.219/09 do Ministério da Justiça, faltando somente a colocação dos marcos físicos, que limitam a área, e a homologação pela Presidência da República.

O processo de demarcação foi interrompido em 2014, quando a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal aceitou o pedido do proprietário rural Avelino Antonio Donatti e anulou o processo de demarcação do território. A comunidade ingressou no STF com a Ação Rescisória (AR) 2686, onde os guarani kaiowá buscam reverter a decisão da segunda turma. Cinquenta indígenas estiveram presentes em vigília em 27 de junho, data marcada para o julgamento, porém, o STF transferiu o julgamento para o segundo semestre deste ano.

Até na água - Em abril deste ano, estudo realizado com base em dados do Sisagua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade de Água para Consumo Humano), divulgado pela Agência Pública, apontou a presença de 27 tipos de agrotóxicos na água distribuída para a população da Capital. A pesquisa também mostrou a presença de agrotóxico na água de 65 dos 79 municípios do Estado

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