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Interior

Criança morre após passar mal em ataque de pistoleiros, dizem indígenas

Nadyenka Castro | 13/08/2012 15:40

Menina estava com a mãe na fazenda Eliane, em Paranhos, ocupada na última sexta-feira. Um índio está desaparecido

Polícia Federal e índios na área Arroyo Kora. (Foto: Divulgação/ Funai)
Polícia Federal e índios na área Arroyo Kora. (Foto: Divulgação/ Funai)

Lideranças do grupo indígena que invadiu a fazenda Eliane no último dia 10, em Paranhos,a 469 quilômetros de Campo Grande, afirmam que uma menina morreu após ter passado mal durante ataque de pistoleiros. A Superintendência da PF (Polícia Federal), em Campo Grande, investiga a informação.

De acordo com Pedro Tiago, um dos líderes, a menina, Geni Centurião estava com a mãe na sexta-feira quando homens atiraram contra os índios. Conforme ele, ela passou mal porque, assim como todos que estavam não local, não se alimentou e morreu na manhã desta segunda-feira. “Ela passou mal, não teve alimentação e morreu hoje”, afirma Pedro.

Segundo os indígenas, o ataque durou pelo menos quatro horas e, neste período, homens, crianças e mulheres se protegeram em meio à mata nativa. Eles relatam que dois córregos separaram o grupo dos pistoleiros, que começaram a agir por volta das 8 horas.

“... os tiros não paravam nem um minuto, da 08h00 até 10h00 (...) nós já estávamos escondidos atrás das árvores e outros deitados nos córregos e na lama (...) Recomeçaram os tiros a partir da 14h00. Todas as vezes que acabavam as balas das espingardas retornavam aos carros para recarregar (...) Por volta da 16h00, os atiradores pararam os tiros e começaram a se dispersar em direção às 4 caminhonetes...”, relatam os indígenas.

Neste período, dizem os índios, eles ficaram sem comer e, as crianças, já não tinham forças nem para chorar. Uma delas, Geni, passou mal e morreu nesta segunda-feira. Conforme Pedro, a criança será enterrada no local. “Vai ser enterrada aqui mesmo”, fala.

A Polícia - Equipes da PF estão no local apurando a situação. Também faz o policiamento na fazenda a Força Nacional de Segurança Pública.

De acordo com os índios e com a Funai (Fundação Nacional do Índio), o indígena João Oliveira está desaparecido. Ele é idoso e não é visto desde o dia do ataque, ocorrido nos mesmos moldes do que aconteceu em Aral Moreira, em novembro do ano passado.

Na ação, o cacique Nísio Gomes, de 59 anos, desapareceu. Investigação da PF confirmou que ele foi morto. O corpo não foi localizado. Fazendeiros, advogado, servidor público, o dono da empresa de segurança Gaspem e funcionários foram responsabilizados pelo crime.

Homens e crianças guarani-caiuá na área retomada na última sexta-feira. (Foto: Grupo Aty Guasu)
Homens e crianças guarani-caiuá na área retomada na última sexta-feira. (Foto: Grupo Aty Guasu)
Após ataque de pistoleiros, projéteis ficaram no chão, em meio ao mato. (Foto: Grupo Aty Guasu)
Após ataque de pistoleiros, projéteis ficaram no chão, em meio ao mato. (Foto: Grupo Aty Guasu)

Na manhã desta segunda-feira, a PF se reuniu com servidores da Funai de Ponta Porã para discutir sobre a situação dos indígenas em Paranhos. Serão levadas cestas básicas para o grupo de 200 pessoas que está à frente da retomada. Os alimentos que eles tinham foram queimados no ataque.

Retomada -Os guarani-caiuá deflagraram a retomada de 7.500 hectares, que denominam de terra indígena Arroyo Kora. O grupo é integrado por pelo menos 400 pessoas, entre elas 120 crianças, mais de 60 idosos, entre eles rezadores.

A terra foi homologada em 2009 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, a homologação foi questionada na Justiça pelos fazendeiros. Uma decisão final sobre o processo está no STF (Supremo Tribunal Federal).

No ano passado, decisão do ministro Gilmar Mendes, suspendeu parcialmente os efeitos da homologação ao deferir um mandado de segurança impetrado pelo dono da fazenda Iporã, uma das 15 propriedades que estão na área homologada de 7.175 hectares. Com a decisão, cerca de 400 famílias indígenas foram autorizadas a viver em uma área de 700 hectares.

Conflito - A 469 km de Campo Grande, o município, na fronteira com o Paraguai, foi o local de outro conflito envolvendo a disputa por terra. Em 2009, os professores indígenas Jenivaldo Vera e Rolindo Vera desapareceram em ataque na fazenda São Luiz, denominada de Ypo’i. O corpo de Jenivaldo foi localizado dias depois, em um córrego próximo ao conflito. O corpo de Rolindo não foi encontrado.

Seis pessoas respondem pelo crime na Justiça Federal: Fermino Aurélio Escolbar Filho, Rui Evaldo Nunes Escobar e Evaldo Luís Nunes Escobar (filhos do proprietário da Fazenda São Luís), Moacir João Macedo ( vereador e presidente do Sindicato Rural de Paranhos), Antônio Pereira ( comerciante da região) e Joanelse Tavares Pinheiro( ex-candidato a prefeito de Paranhos).

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