Índios reclamam de corte de energia em fazendas ocupadas há 9 dias
Há nove dias, permanecem ocupadas por indígenas da etnia terena, três fazendas na região de Taunay, distrito de Aquidauana, a 135 quilômetros de Campo Grande. Eles reivindicam a posse da área, que chamam de Mangavá. O princípio da ocupação não teve confrontos, mas agora os índios reclamam do corte de energia nesta manhã e acreditam que se trata de provocação dos proprietários.
Na sexta-feira (31), o juiz federal Pedro Pereira dos Santos indeferiu o pedido dos fazendeiros e decidiu manter os mais de 500 índios com a posse da área. O magistrado determinou prazo de 120 dias para os proprietários retirarem o gado das fazendas Ouro Preto, Cristalina e Persistência.
O dono da Fazenda Ouro Preto, José Lipe, começou a remover o gado hoje e afirma que não fez pedido de corte de energia. “Não mandei cortar energia para não criar atrito. Não sei dos outros proprietários, porque não estive lá. Hoje falei com o gerente, que está carregando os garrotes e está tudo normal, tem água e energia”, disse.
O proprietário contou que retirou hoje 204 bezerros do rebanho de 1,6 mil cabeças, sem problemas. “Estou levando para outra fazenda minha, vou deixar um pouco no vizinho. Tem algumas pequenas discordâncias, mas dá para levar. Na Cristalina, o cara que estava arrendando tirou todo gado já”.
Segundo o indígena Tiago Terena, os índios perceberam o corte de energia nesta manhã. “O problema é que a gente deixou o fazendeiro sair em paz, mas hoje eles cortaram a energia. Eles estão confrontando, não poderiam fazer isso. Ninguém prejudicou eles, demos liberdade para transitar aqui e tirar o gado. Acho que veio alguém da Enersul aqui e cortou a luz”, disse.
Os representantes dos indígenas disse que eles se reunirão agora e devem tomar providência até a tarde, informando a Justiça. A 4ª Vara da Justiça Federal em Campo Grande, da qual partiu a decisão a favor dos índios, informou que ainda não foi notificada sobre o desligamento de energia na área. A reportagem não conseguiu fazer contato, por telefone, com os demais fazendeiros.
Litígio - Há décadas, os terena reivindicam a ampliação da reserva de Taunay Ipegue para 33,9 mil hectares. Segundo o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), o procedimento administrativo de ampliação da área, demarcada originalmente em 1905 pelo marechal Cândido Rondon, tramita há quase 30 anos.
Em janeiro de 2009, foi encaminhado pela Funai ao Ministério da Justiça. Desde então, o processo está paralisado, junto a outros 16, aguardando a assinatura da Portaria Declaratória pelo ministro José Eduardo Cardozo. A área é chamada pelos terena de Mangavá, um fruto da mata nativa, consumido pelas famílias antigamente, que não é mais encontrado na região, segundo os índios.