Lucrativa na época do pedágio, ponte vira conta milionária para contribuintes
Estrutura tem 1.950 metros de extensão e é o único acesso asfaltado para Corumbá
A ponte “Poeta Manoel de Barros”, que tem 1.950 metros de extensão e é o único acesso asfaltado para Corumbá (onde fica o Pantanal) e Ladário, registrou arrecadação bruta de R$ 20,9 milhões entre janeiro e agosto de 2022, último ano de cobrança de pedágio pela Concessionária Porto Morrinho.
Mas, agora, já de volta ao controle do Estado, o conserto da ponte vai custar R$ 1,3 milhão para o sul-mato-grossense, além dos transtornos de uma obra.
E os gastos não param por aí. Uma segunda licitação deve ser lançada para substituir 48 aparelhos de apoio de pilares, uma espécie de borracha que amortece o impacto entre as estruturas de concreto. O custo da obra ainda não foi definido. Toda a movimentação é para deixar a ponte em ordem para que seja devolvida ao governo federal.
Sobre a situação atual da estrutura, menos dois anos após voltar para o governo, que não renovou contrato com a iniciativa privada, é comparada pelo titular da Seilog (Secretaria Estadual de Infraestrutura e Logística de Mato Grosso do Sul), Hélio Peluffo, a comprar carro usado.
“No momento da entrega [pela concessionária], ela foi vistoriada e estava tudo ok. Quando você compra um carro usado está tudo legal, passou dois anos, apareceram algumas coisinhas. É um valor significativo, mas diante do preço de uma ponte é pequeno”.
Ainda segundo o secretário, houve desgaste acelerado por excesso de velocidade, aumento excessivo de carga e mudança no perfil de uso da ponte.
O contrato de exploração pela iniciativa privada durou 13 anos, nove meses e 24 dias. O fim chegou em 2022, quando a cobrança do pedágio era de R$ 14,10. De janeiro a agosto de 2022, 411.403 veículos passaram pela ponte sobre o Rio Paraguai. Deste total, 402.215 pagaram a tarifa do pedágio e 9.188 foram isentos do valor. A arrecadação da receita bruta foi de R$ 20.959.850,50.
A partir do dia 15, uma estrutura metálica será colocada para deslocar o tráfego. Pelo local, atravessam por dia cerca de 800 veículos, sendo a metade de carga.
A Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos) adotou o regime de contratação direta para “execução da obra emergencial de recuperação das estruturas das extremidades das lajes em balanço, substituição dos aparelhos de apoio e juntas de dilatação danificadas na ponte sobre o Rio Paraguai, na BR-262/MS”. A empresa escolhida foi a EnGR Engenharia Ltda. Houve uma tentativa de licitação, mas o processo não teve interessados.
A obra – Na ação emergencial, a ponte terá reparos por desgaste natural. Entre uma laje e outra, existe a viga de transição. “Quando o caminhão passa, vai quebrando a beiradinha dela, vai quebrando, vai quebrando e o ferro fica exposto. Então, precisa recuperar essa laje”.
A previsão é de que a obra emergencial tenha duração de cinco dias consecutivos, de 15 a 20 de fevereiro. “Passado o Carnaval, nós vamos fazer essa intervenção na ponte para consertar. Vai ser das 18h às 6h da manhã. Não haverá interrupção de dia, não haverá interrupção da ponte em definitivo”, afirma o secretário.
O sistema será pare e siga, com um sentido liberada ao fluxo, de forma intercalada. Uma estrutura de ferro será colocada sobre o concreto para deslocar as vibrações da passagem de veículos pesados.
O tempo de obra é reduzido porque a intervenção será com material de alto desempenho. A chamada cura acontece em oito dias, contra os 21 dias habituais. A cura é o processo no qual a mistura do cimento com os agregados vai se solidificando.
“A gente desenvolveu junto com a universidade um concreto com a cura mais rápida. É um concreto com alto desempenho e em 12 horas está curado, pode liberar para passar”, enfatiza Peluffo.
Ele reforça que a estrutura somente passa por manutenções e que não há risco de a ponte cair.
Balsa – “Analisando todas as variáveis possíveis, todos os cenários. Avaliamos o cenário de meia pista, avaliamos o cenário de interromper por 12 horas, avaliamos o cenário de interromper a ponte e avaliamos o cenário de ter uma balsa para alguma eventualidade. No pior cenário possível, teremos uma balsa para algo emergencial”, afirma o secretário.
Dentro do plano de ação, essa última seria o pior cenário e tido como possibilidade remota. Pois seria retorno aos anos 90, quando o deslocamento demorava 40 minutos.
Balança – Segundo o titular da Seilog, no mês de janeiro, o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) levou uma balança móvel para a ponte, que também recebeu radares para controle de velocidade.
“Exigimos do Dnit uma balança e instalamos radares. Com isso, diminuiu a velocidade e nos garantiu o que a lei determina, que é o peso correto dos caminhões. Meu problema ficou um pouquinho menor para consertar a ponte”, diz Peluffo.
História – Com investimento de R$ 100 milhões, a ponte foi inaugurada em 10 de maio de 2001, com a presença do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o FHC.
O evento teve cobertura da imprensa nacional e reportagem do jornal O Globo registrou até um presente inusitado ao presidente, que ganhou uma novilha da raça nelore. Uma oferta do Sindicato Rural de Corumbá.
“Fernando Henrique ganhou um outro presente inusitado nesta viagem: uma bezerra da raça nelore do Pantanal. Até a noite de ontem, a Presidência ainda não havia decidido o que fazer com o animal, que foi dado pelo Sindicato Rural de Corumbá, interessado em divulgar a carne da região. A bezerra iria ser doada a uma instituição de caridade, mas como não houve confirmação até o fim da tarde, foi encaminhada a um frigorífico de Corumbá, para ser abatida”, registrou o jornalista José Augusto Gayoso.
Após 14 anos da inauguração, em 2015, a ponte foi batizada de “Poeta Manoel de Barros”. A homenagem foi formalizada por meio da Lei 4.685, que batizou a estrutura localizada no km 714, na BR-262. O governo até vetou a homenagem, porque a ponte fica em rodovia federal, portanto não poderia nominar algo que é da União. Mas a lei foi promulgada pela Assembleia Legislativa.
Problemas – Em maio de 2011, a colisão de uma balsa de minério em um do pilares da ponte abriu um vão de aproximadamente 20 centímetros e deixou Corumbá isolada para o acesso via terrestre. Na ocasião, a outra ligação rodoviária ao município, a Estrada Parque, também estava interditada por conta da cheia no Pantanal. O conserto foi calculado em R$ 8 milhões.
No ano de 2014, novo acidente e nova interdição. Um empurrador de bandeira paraguaia, que transportava seis barcaças com carga de farelo de milho, bateu contra um dos pilares laterais da ponte. O reparo ficaria a cargo da concessionária, enquanto o governo decretou emergência em busca de recursos de R$ 4 milhões para faze um dolfin, estrutura de proteção. A proteção foi custeada pelo Dnit.
A reportagem não conseguiu contato com a Concessionária Porto Morrinho.
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