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Interior

O drama das vítimas da enchente, que esperam rio baixar para recomeçar

Em três abrigos de Aquidauana, há famílias já calejadas dos problemas provocados quando o rio sobe demais

Gabriel Neris e Mayara Bueno, enviada especial à Aquidauana | 21/02/2018 14:37
Famílias ainda estão sendo levadas para três abrigos de Aquidauana (Fotos: André Bittar)
Famílias ainda estão sendo levadas para três abrigos de Aquidauana (Fotos: André Bittar)

Recomeçar do zero. É a realidade das famílias que foram levadas para abrigos depois da forte chuva que atingiu Anastácio e Aquidauana na terça-feira (21) e que tiveram quase tudo levado pela enchente. Elas vão ficar nos abrigos por pelo menos 10 dias.

As vítimas foram levadas para três locais em Aquidanana. O bairro Guanandi, onde há famílias ribeirinhas, foi o mais atingido. Uma família foi socorrida durante a madrugada com a ajuda do caminhão do Exército.

A vendedora Maria Romana Fernandes, de 55 anos, conta que perdeu tudo e que a água chegou a pelo menos dois metros de altura na chácara onde mora. Ela trabalha como ambulante, vendendo lingeries, e diz que perdeu todo o produto na casa.

Maria calcula ter um prejuízo de R$ 4 mil somente com os produtos de revenda perdidos. Ao lado do marido Alberto Freitas Leonardo, 57 anos, ela conta que nasceu e foi criada na cidade, mas que ainda assim foi surpreendida com a chuva de ontem. “Foi a enchente mais brava”, resumiu.

Maria acredita que deve ficar com o marido por, pelo menos, mais dez dias no abrigo, esperando diminuir o volume da água e a autorização da Defesa Civil para retornar para casa.

O abrigo do bairro Guanandi recebeu 28 pessoas, segundo a última atualização da assistente social Cíntia Fagundes. Café da manhã, almoço e jantar estão sendo servidos para os moradores, que também contam com assistência médica. Animais também estão no abrigo, mas em local separados.

Expectativa é a de que desabrigados ficam ao menos dez dias nos abrigos
Expectativa é a de que desabrigados ficam ao menos dez dias nos abrigos
Moradores tentaram resgatar móveis, como geladeira, fogão, mas quase nada escapou
Moradores tentaram resgatar móveis, como geladeira, fogão, mas quase nada escapou

Rafaela Clementina Dervalho, de 63 anos, diz que já perdeu as contas de quantas enchentes passou. Ela mora com um irmão e mais dois netos e diz ter perdido tudo para a chuva. “A água está passando da janela”, lembra.

Hoje, os familiares retornaram para a casa dela com o objetivo de tentar recuperar algum pertence, mas segundo eles, nada foi recuperado, como geladeira e fogão. Ela estava no abrigo com a filha, Patrícia Aparecida Dervalho, de 35 anos, que também diz ter perdido todo os móveis de casa e também do trabalho. A mulher é dona de uma conveniência.

A psicóloga Juliane Ribeiro está acompanhando a chegada de desabrigados no abrigo do bairro Alto. Segundo ela, até o momento 42 pessoas foram levadas para o local, mas o número deve aumentar já que a Defesa Civil continua retirando as pessoas das casas.

Ela diz que é comum, até “cultural”, os moradores permanecerem em suas casas mesmo diante de situações de risco. “Tentam salvar erguendo as coisas, mas não é possível, como neste caso”. A profissional diz ainda que os moradores estão contando com doações de roupas, leite em pó e outros alimentos enquanto aguardam nos abrigos.

Adriele da Silva, de 23 anos, mora em uma chácara na ponte de entrada de Aquidauana com marido, filho, irmã e a mãe. A família tentava recuperar os pertences e chegaram ao abrigo com malas e mochilas. Ficaram em casa até quando podiam, porém foram resgatados as 3h pelo Exército. Os familiares de Adriele voltaram hoje para a chácara para tentar pegar mais bens e a mãe avisou que mais da metade da casa foi tomada.

O diretor de Trânsito da Prefeitura de Aquidauana, Flávio Gomes da Silva Filho, afirma que ainda não é possível estimar quanto será o recurso necessário. O decreto de calamidade pública está sendo elaborado, com o auxílio do Exército, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Defesa Civil.

Ele diz que ainda existe uma preocupação sobre a água que sai de Campo Grande e municípíos ao redor e chega ao Rio Aquidauana, podendo aumentar o nível do rio.

Assista abaixo os estragos causados pela chuva e o depoimento da assistente social Juliane Ribeiro

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