"Ou vocês saem, ou eu tiro": Choque desocupa área de acampamento do MST
Cerca de 300 assentados, que voltaram a ocupar a área ontem (26), foram retirados com gás lacrimogêneo
Na manhã deste domingo (27), cerca de 300 trabalhadores rurais do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) foram retirados com uso de gás lacrimogêneo e balas de borracha durante uma ação policial em área rural do Distrito de Panambi, próximo à MS-379, na região de Dourados, a 251 km da Capital.
RESUMO
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Cerca de 300 trabalhadores rurais ligados ao MST foram retirados de uma área ocupada no Distrito de Panambi, próximo a Dourados (MS), neste domingo (27). A ação de reintegração de posse, conduzida pelo Batalhão de Choque, utilizou gás lacrimogêneo e balas de borracha. Vídeos mostram um agente afirmando que a ação era uma "ordem", sem apresentar mandado judicial, segundo relatos de ocupantes. Os trabalhadores reivindicavam a destinação da terra, considerada improdutiva, para a produção de alimentos. A ocupação, iniciada no sábado (26), fazia parte da Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária. O local, que já havia sido ocupado anteriormente e sofrido incêndios em 2024, teve os barracos derrubados durante a ação policial. A MS-379 chegou a ser parcialmente fechada durante a operação.
Em vídeos encaminhados ao Campo Grande News, é possível ouvir um dos agentes do Batalhão de Choque afirmar em voz alta que "era uma ordem". Na sequência, um dos acampados pede a presença do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) para estabelecer um diálogo e solicita um prazo de pelo menos uma hora para retirar a infraestrutura, os animais e parte da plantação.
Entretanto, o mesmo agente reforça: "não há reunião com o Incra, não vim para negociar com você, ou vocês saem ou eu tiro". Em seguida, os policiais organizam a tropa em barreira e avançam com tiros de balas de borracha e bombas de gás.
Uma das integrantes do grupo, de 53 anos, que preferiu não divulgar o nome por receio de represálias, afirmou que o Batalhão de Choque apenas informou que havia uma "ordem", sem apresentar qualquer mandado judicial. "Eles não apresentaram mandado judicial, não mostraram nenhum papel. Vieram para tirar a gente e pronto. Não estão deixando ninguém entrar ou sair. Derrubaram todos os barracos. Ainda não tivemos registro de feridos por bala de borracha", relatou.
De acordo com ela, as entradas e saídas da área foram bloqueadas, e o Choque chegou a fechar parcialmente a MS-379. O grupo reivindica a destinação da terra, considerada improdutiva, para a produção de alimentos. Conforme apuração da reportagem, o local fica ao lado da unidade da JBS Aves, e uma fonte da PM informou que as terras pertencem à empresa.
"É nosso direito reivindicar essa terra improdutiva. Essa terra é da União. São 30 anos sem produzir nada, e agora estão destruindo nossos barracos", afirmou uma das acampadas do MST.
Na página oficial do MST em Mato Grosso do Sul no Instagram, foi publicado que trabalhadores montaram o acampamento nas primeiras horas da manhã de ontem (26), em uma ação que integra a Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária, que em 2025 marca a luta dos Sem Terra com o lema “Ocupar para o Brasil alimentar”, durante o Abril Vermelho.
O local já havia sido ocupado anteriormente e, em 29 de agosto do ano passado, um incêndio consumiu oito barracos na mesma área. Conforme apurado pela reportagem, este foi o segundo incêndio registrado na região próxima à rodovia MS-379, onde cerca de 270 pessoas ocupavam barracões improvisados, construídos com lonas e madeira compensada.
[**] Matéria alterada às 11h44 do dia 27 de abril para correção de "reintegração de posse" para "ação policial".
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