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Interior

Pavão diz que Rafaat o visitou um mês antes de morrer; “era meu amigo”

Brasileiro negou plano para matar presidente, mas fez ameaças contra governo do país vizinho: se for extraditado, vai revelar provas contra alto comando do Paraguai

Helio de Freitas, de Dourados | 15/09/2016 10:07
Jarvis Gimenes Pavão durante entrevista a jornal do Paraguai (Foto: ABC Color)
Jarvis Gimenes Pavão durante entrevista a jornal do Paraguai (Foto: ABC Color)
(Foto: ABC Color)
(Foto: ABC Color)

O narcotraficante brasileiro Jarvis Gimenes Pavão, 48, disse que era amigo de Jorge Rafaat Toumani e negou que tenha mandado executar o concorrente criminoso. Disse que um mês antes de morrer, Rafaat o visitou em sua cela vip na penitenciária de Tacumbú, em Assunção, onde Pavão estava até o dia 26 de julho deste ano, quando foi levado para o quartel do grupo especializado da Polícia Nacional.

Criminoso mais temido atualmente no Paraguai e apontado como o causador da guerra que acontece atualmente na fronteira seca de Pedro Juan Caballero com Ponta Porã (a 323 km de Campo Grande), Jarvis Pavão concedeu entrevista exclusiva ao jornal ABC Color, o mais influente do país vizinho. A entrevista foi autorizada pela Justiça paraguaia.

Acompanhado de sete advogados, Pavão conversou ontem por duas horas com dois repórteres do diário de Assunção e gravou entrevista para a rádio ABC Cardinal. O material foi divulgado nesta quinta-feira (15) na versão impressa do jornal e na emissora de rádio.

Hoje faz três meses que Jorge Rafaat foi executado a tiros de metralhadora calibre 50 na área central de Pedro Juan Caballero. Pavão foi acusado pela polícia paraguaia de ordenar a morte. O carioca Sérgio Lima dos Santos, 34, está preso em Assunção acusado de manusear a arma antiaérea usada para matar Rafaat.

“Ele [Rafaat] era meu amigo. Eu me coloquei contra a espada para defendê-lo em outras ocasiões que são irrelevantes agora. E se a sua família é sincera de coração, sabe que eu era amigo dele e nunca fiz nada contra ele. Seu filho e meu filho têm negócio juntos. Se sua senhora, que eu não conheço, e alguns funcionários, se são sinceros, sabem toda a verdade, que não tenho nada a ver com isso”, afirmou Pavão sobre a morte de Jorge Rafaat.

Galã – Perguntado se conhecia o brasileiro Elton Leonel Rumich da Silva, 32, o “Galã”, membro do PCC (Primeiro Comando da Capital) e apontado como um dos responsáveis pelo atentado a Rafaat e que teria se refugiado na Bolívia, Pavão afirmou ser responsável apenas por ele mesmo.

“Eu não posso responder por qualquer um. Não posso responder para Galã, por Juan, por Pedro, por Mario. Eu nunca mais falei com Galã. Não sei, na realidade, o que aconteceu com o senhor Jorge. O que eu sei é que Rafaat tinha muitos problemas com várias pessoas, sua família mesmo sabe. Um mês antes de sua morte veio a mim, como sempre, tomamos um café”, declarou traficante brasileiro.

Pavão negou ter ordenado atentado contra presidente, mas faz ameaças ao governo (Foto: ABC Color)
Pavão negou ter ordenado atentado contra presidente, mas faz ameaças ao governo (Foto: ABC Color)

Ameaças ao governo – Na entrevista ao ABC Color, Jarvis Pavão e seus advogados mandaram um recado ao governo paraguaio: se ele for extraditado para o Brasil, vai revelar informações comprometedoras contra mandatários daquele país. Afirmam terem documentos comprovando o desvio de dinheiro destinado à FTC (Força Tarefa Conjunta), grupo criado para combater o EPP (Exército do Povo Paraguaio), grupo terrorista presente no estado de San Pedro.

Pavão revelou que, a pedido do governo paraguaio, ele negociou e pagou pela libertação do adolescente Arlan Fick Bremm, 17, filho dos brasileiros Alcido e Melania Fick Bremm. O rapaz passou 267 dias em poder EPP e foi libertado em dezembro de 2014. Acreditava-se que a família tivesse feito o pagamento, mas Pavão disse que foi ele.

O brasileiro contou que negociou a libertação de Arlan com um membro do grupo terrorista, na prisão de Tacumbú. Pavão disse que desembolsou quase todo o valor do resgate, de 500 mil dólares.

Presidente – Jarvis Pavão negou que tivesse oferecido 5 milhões pela cabeça do presidente do Paraguai Horácio Cartes e afirmou estar “assustado” com a história.

"Eu nunca permitiria algo assim (tentativa de homicídio) contra o presidente ou com quem seja. Deus é testemunha número um de tudo isso”, afirmou.

“Isso está me assustando. Eu não sei o que está acontecendo, mas tenho a certeza que não vem do senhor Cartes. Deve ser de outro lugar, menos que o senhor Cartes”, disse Pavão sobre os boatos de que ele teria ordenado a morte do presidente.

A advogada Laura Casuso, que comanda a defesa de Pavão, disse que Cartes é um homem muito inteligente, que levando o país a um importante progresso econômico, “mas tem assessores ruins em torno dele que querem dirigir o país como uma tabacaria”.

Evangélico – Jarvis Pavão encerra a entrevista com um pedido de desculpas aos paraguaios e diz que desde 1999 não se envolve mais com atividades ilícitas e que atualmente é religioso. Entre as obras que ele financiou no presídio de Tacumbú, onde vivia em um espaço luxuoso, Pavão mandou construir uma sala para os adventistas.

"Até 1999 ganhei o que eu queria no mundo em que eu vivia. Parei de fazer as coisas porque acreditava que estava bem e tinha o suficiente”, alegou. Indagado se fala do tráfico de cocaína, se recusou a responder diretamente: “fui condenado por tráfico no Brasil”.

Pedido de desculpas – O brasileiro encerra a entrevista com um pedido de desculpas aos paraguaios: “O mais importante é que as pessoas que me conhecem sabem como eu sou, que tipo de pessoa eu sou. Quero aproveitar este momento para pedir desculpas ao povo paraguaio. Eu também sou paraguaio, tenho nove filhos paraguaios, minha família é toda de Belém. Quero pedir desculpas por esse transtorno, por esse desconforto, por todas essas notícias”.

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