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Interior

Polícia paraguaia liga execução de jovem de MS à máfia do cigarro

Ex-PM, pai de adolescente metralhado em Salto Del Guairá, foi alvo de operação da PF em 2011, acusado de ser responsável em pagar propina de contrabandistas a policiais de MS

Helio de Freitas, de Dourados | 27/07/2018 11:08
João Victor, filho do ex-PM Fábio Costa, o Pingo, foi executado ontem à noite no Paraguai (Foto: Reprodução/Facebook)
João Victor, filho do ex-PM Fábio Costa, o Pingo, foi executado ontem à noite no Paraguai (Foto: Reprodução/Facebook)

Policiais paraguaios suspeitam que a execução do sul-mato-grossense João Victor Richena Costa, 17, ocorrida na noite de ontem (26), tenha ligação com a máfia do cigarro que atua na fronteira dos dois países. O esquema para envio de cigarro fabricado no Paraguai para o Brasil é considerado mais rico e poderoso que o tráfico de drogas.

João Victor foi morto com pelo menos 30 tiros em um condomínio fechado na cidade paraguaia de Salto Del Guairá, perto de Mundo Novo (MS), a 476 km de Campo Grande. A região é a principal base dos cigarreiros, como são chamados os contrabandistas de cigarro.

O pai de João Victor, o ex-policial militar Fábio Costa, conhecido como “Pingo” e “Japonês”, foi preso em 2011 na Operação Marco 334, deflagrada pela Polícia Federal para desarticular uma quadrilha de contrabandistas de cigarro.

O nome da operação foi menção a um dos 901 marcos da fronteira entre Brasil e Paraguai, situado Mundo Novo e Japorã, e ao artigo 334 do Código Penal, que trata do crime de contrabando.

Em outubro de 2011, na decisão pela prisão preventiva dos envolvidos na Operação Marco 334, a Justiça Federal cita Fábio Costa como batedor de carregamentos de cigarro, inclusive um que tinha sido aprendido pela Polícia Federal.

Gravações telefônicas interceptadas pela PF revelaram na época fortes indícios vinculando “Pingo” ao pagamento de propina a policiais militares. “Há transcrições demonstrando que [Fábio] orientava os demais batedores a respeito da presença de policiais federais na via pela qual passaria carregamento de cigarro”, diz trecho da decisão judicial.

Ainda segundo o despacho, Fábio Costa teve participação em crime de contrabando ou descaminho por três vezes, “além de formação de quadrilha e de utilização clandestina de telecomunicações”.

“A intensidade com a qual Fábio está comprometido com ações criminosas demonstra que as medidas cautelares não serão suficientes para afastá-lo da pratica de infrações penais. Por essa razão, entendo que estão presentes os requisitos da prisão preventiva, como medida necessária para a garantia da ordem pública”, afirmou o TRF, ao decretar a prisão do ex-PM, há sete anos.

Fábio Costa foi condenado a dois anos e oito meses de prisão por associação criminosa, mas acabou absolvido dos crimes de contrabando e uso clandestino de rádios comunicadores. Dois anos após a prisão ele ganhou liberdade.

Nas redes sociais, Fábio Costa é conhecido por posar para fotos com uma gigantesca corrente e um escudo de ouro. "Daqui a alguns dias vou te tratar da dor nas costas, 5 kg pendurado no pescoço", escreveu um amigo do ex-PM, ao comentar foto de Pingo postada no Facebook.

Fábio Costa, o “Pingo”, ostenta corrente de ouro na balada em Ponta Porã (Foto: Reprodução/Facebook)
Fábio Costa, o “Pingo”, ostenta corrente de ouro na balada em Ponta Porã (Foto: Reprodução/Facebook)

A operação – No dia 29 de setembro de 2011, a PF deflagrou a Operação Marco 334 para desarticular organizações criminosas que atuam no contrabando na fronteira entre Brasil e Paraguai. Baseada no município de Naviraí, a operação cumpriu 37 mandados de busca e apreensão, 26 mandados de prisão preventiva e 10 de condução coercitiva expedidos pela Vara da Justiça Federal.

Os alvos da operação foram integrantes de cinco quadrilhas que atuam no contrabando de cigarros próximos às cidades de Mundo Novo e Eldorado. Os carregamentos eram levados para São Paulo, Paraná e Minas Gerais e Goiás.

Em 17 meses de investigação, a PF instaurou 40 inquéritos policiais com 57 pessoas presas 72 caminhões e carretas com 22 milhões de maços de cigarro apreendidos.

Metralhado - João Victor Richena Costa foi metralhado dentro de uma caminhonete Toyota Tundra preta com placa do Paraguai, registrada em nome do seu pai. Ele tinha acabado de entrar no condomínio de luxo quando os moradores ouviram rajadas de tiros disparados de uma arma automática.

Segundo a polícia paraguaia, o pistoleiro estava escondido perto da casa e quando o rapaz chegou foi alvejado. Ele tentou ir para o banco do passageiro, mas foi atingido várias vezes, principalmente na cabeça.

Caminhonete usada por jovem de MS foi crivada de balas (Foto: Direto das Ruas)
Caminhonete usada por jovem de MS foi crivada de balas (Foto: Direto das Ruas)
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