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Interior

Policiais usam estradas de aldeias e chegam atirando para acabar com bloqueio

Indígenas denunciam pessoas feridas por balas de borracha e sufocadas por bombas de gás

Por Helio de Freitas, de Dourados | 27/11/2024 10:41


RESUMO

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Em Dourados (MS), a Polícia Militar usou balas de borracha e bombas de gás para desbloquear estradas ocupadas por indígenas, resultando em feridos. Moradores das aldeias Bororó e Jaguapiru relatam falta de diálogo e alegam que a ação policial foi motivada pela falta de água potável na região, apesar de iniciativas governamentais para solucionar o problema, incluindo o fornecimento de água por caminhões-pipa e a perfuração de novos poços. A Secretaria de Justiça e Segurança Pública afirma que a ação policial ocorreu após esgotadas as negociações, para garantir direitos constitucionais.

A ação do Batalhão de Choque da Polícia Militar para liberar estradas bloqueadas há dois dias no município de Dourados deixou indígenas feridos por balas de borracha e outros sufocados por bombas de gás. O relato é de moradores das aldeias Bororó e Jaguapiru.

Vídeos enviados ao Campo Grande News mostram que os policiais chegaram atirando bombas de gás na direção das pessoas que bloqueavam a MS-156, entre Dourados e Itaporã (veja as imagens acima).

As equipes do Batalhão de Choque usaram estradas internas das aldeias para chegar ao local. Houve resistência. Os vídeos mostram dezenas de pessoas correndo no momento em que os PMs começaram a disparar bombas e tiros de munição “não letal”.

“Tem parente nosso ferido ali na rotatória. A gente tentou chegar perto para socorrer, eles [PMs] jogaram gás. Com eles não têm diálogo. Isso tudo aconteceu por culpa do Lindomar [Ferreira da Silva, chefe do Dsei-MS]. Se ele fosse mesmo nosso parente não teria deixado chegar nessa situação. Tentamos diálogo com o Lindomar, mas ele ignorou. Estava em Dourados na sexta-feira, mas não veio na nossa aldeia”, protestou moradora da Aldeia Jaguapiru em áudio enviado a grupos de WhatsApp. Lindomar é da etnia terena.

“A gente não quer cargo, a gente não quer emprego. A gente quer água para viver, para tomar banho, para cozinhar. Estou indignada! Cadê nossos direitos?”, afirmou a moradora, que se identificou como Luzinete Reginaldo, esposa do cacique Ramão Fernandes, Jaguapiru.

Em nota enviada pela Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública, a Polícia Militar informou que a ação do Batalhão de Choque ocorreu após “esgotadas todas as vias de negociação”, e para “garantir os direitos constitucionais”.

"Com apoio do Corpo de Bombeiros Militar e de equipes da Agesul, removeram entulhos e apagaram focos de incêndios nas pistas. As forças de segurança manterão efetivo para garantir paz em todo território sul-mato-grossense. O governo estadual reforça seu compromisso com a transparência, refutando iniciativas político-eleitoreiras, e age em prol de um caminho de justiça e respeito".

Ainda conforme a Sejusp, o governo de MS, por meio da Secretaria Estadual de Cidadania, se manteve “em contínuo diálogo com todos os envolvidos em busca, sempre, de solução pacífica, e lamenta episódios de agressões e enfrentamentos”.

A Sesai (Secretaria de Saúde Indígena) e o Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena) em Mato Grosso do Sul informaram que mantêm contrato para a distribuição de mais de 70 mil litros de água potável por semana via caminhões-pipa e articulam com a Prefeitura de Itaporã o fornecimento de 100 mil litros de água por dia, sendo 50 mil destinados a Jaguapiru e 50 mil a Bororó.

“Está em andamento a perfuração de dois novos poços, um em cada aldeia, em parceria com a Prefeitura de Dourados e a Secretaria Estadual de Cidadania, com previsão de conclusão em até 40 dias”, afirma o Ministério da Saúde, em nota.

Os órgãos federais culparam a própria comunidade indígena pela falta de água: “embora as comunidades já contem com 14 sistemas simplificados de abastecimento, esses não atendem plenamente à demanda local devido a altos índices de desperdício e uso inadequado da água tratada”.

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