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Interior

Procurador do Trabalho detona saúde pública: “marasmo e ineficiência”

Jeferson Pereira diz que em plena pandemia, em Dourados faltam equipamentos básicos e que JBS está equipando hospital em aldeia

Helio de Freitas, de Dourados | 22/05/2020 12:17
Procurador do Trabalho em entrevista coletiva nesta sexta-feira em Dourados (Foto: Helio de Freitas)
Procurador do Trabalho em entrevista coletiva nesta sexta-feira em Dourados (Foto: Helio de Freitas)

Em entrevista coletiva nesta sexta-feira (22), o procurador do Trabalho Jeferson Pereira fez duras críticas à administração municipal de Dourados, cidade a 233 km de Campo Grande. Segundo ele, em plena pandemia do novo coronavírus, faltam até equipamentos básicos de proteção para equipes de saúde que atuam na linha de frente da guerra contra a covid-19. Dourados tem 93 casos confirmados da doença, de acordo com o boletim divulgado hoje pela Secretaria Estadual de Saúde.

Conforme o procurador, que representa o MPT (Ministério Público do Trabalho) na região, dois meses após o município de Dourados decretar situação de emergência – condição que facilita compra de materiais essenciais para enfrentar o coronavírus – a carência de equipamentos de proteção continua na segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul.

Jeferson Pereira afirmou que equipamentos de proteção para as equipes de saúde que atuam nas aldeias indígenas e a ampliação de leitos no Hospital Porta da Esperança, na Missão Evangélica Caiuá, estão sendo bancados pela empresa JBS. Funcionária da indústria Seara em Dourados foi a primeira indígena contaminada pelo vírus. Outros 33 moradores da reserva foram infectados e estão em isolamento.

“O poder público deveria estar preparado. O decreto de emergência é de 20 de marco. Se passaram dois meses e faltam equipamentos mínimos para os profissionais de saúde, inclusive para o pessoal da linha de frente”, afirmou Jeferson Pereira.

O procurador disse que recentemente fez inspeção no almoxarifado da Secretaria Municipal de Saúde e constatou “carência enorme” de EPIs. Segundo ele, no local havia óculos, aventais e luvas, só do tamanho M. As 37 máscaras tipo face shield encontradas no local tinham sido doadas ao município. “Não pode aliar a burocracia ao marasmo e à ineficiência”, criticou.

Segundo Jeferson Pereira, procedimentos para compra de materiais e equipamentos foram abertos em abril, mas até agora não foram finalizados. “Dinheiro tem, mas falta operacionalização”.

“Falta gestão” – O procurador disse que após o início da pandemia, equipes formadas por profissionais da área elaboraram relatórios e o planejamento das ações necessárias. “O documento foi feito, profissionais passaram horas fazendo o planejamento, mas não adianta se não se consegue implementar por falta de gestão. Não podemos contar com a sorte”.

Jeferson Pereira continua: “já se passaram dois meses, o mínimo do necessário já deveria ter chegado à ponta. O Ministério Público fez TAC [termo de ajustamento de conduta], o Judiciário deu prazo, mas não foi cumprido até hoje. Entregou um ou outro equipamento. Nas aldeias, quem está comprando equipamento e colocando na ponta é a JBS”.

Segundo ele, além dos equipamentos doados – “diretamente à Missão Caiuá, porque se passa pela saúde local trava tudo” – a indústria vai instalar 42 leitos no Hospital Porta da Esperança.

“Não temos o mínimo em Dourados que são os EPIs. Esta semana faltou equipamento para os profissionais do Samu. Eles usaram equipamentos doados pela Funsaud, que é responsável pelo Hospital da Vida e pela UPA”, afirmou.

Jeferson Pereira também criticou o baixo número de leitos de UTI em Dourados. “Até ontem tinham contratualizado 17 leitos. O Ministério da Saúde já autorizou a contratualização, mas o município não fez. Estão contando com a sorte. Imagina se fosse preciso internar esses trabalhadores da JBS? Será que a iniciativa privada tem leitos disponíveis?”, questionou.

A administração da prefeita Délia Razuk (PTB) ainda não se manifestou sobre as críticas do procurador. A secretária de Saúde Berenice Machado disse que vai se pronunciar ainda hoje.

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