“Salva ela”: após ataque a facadas, autor pediu ajuda ao pai da vítima
Familiar foi até o imóvel após a neta de 13 anos ligar e relatar agressões do padrasto contra a mãe
O pai de Aline Barreto da Silva, de 33 anos, Eleno Galdino da Silva, 53, relatou à polícia que encontrou a filha caída no chão, esfaqueada, ainda com vida, dentro da própria casa, em Ribas do Rio Pardo, a 98 quilômetros de Campo Grande. Ele foi ao local após receber uma ligação da neta, de 13 anos, que alertou que o padrasto estaria agredindo a mãe.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
Aline Barreto da Silva, de 33 anos, foi morta a facadas pelo ex-companheiro Marcelo Augusto Vinciguerra, de 31 anos, em Ribas do Rio Pardo (MS). O crime ocorreu na madrugada de domingo, após histórico de conflitos e ameaças. A vítima havia solicitado medida protetiva contra o agressor em abril. O pai da vítima, Eleno Galdino da Silva, encontrou a filha ainda com vida após ser alertado pela neta de 13 anos. Durante o socorro, o autor permaneceu no local e chegou a pedir "salva ela". Aline, que deixa quatro filhos, não resistiu aos ferimentos. Marcelo teve a prisão preventiva decretada.
De acordo com o depoimento, o autor do crime, Marcelo Augusto Vinciguerra, de 31 anos, permaneceu no imóvel enquanto o pai socorria a vítima. Durante a tentativa de resgate, ele teria pedido ajuda e dito a frase “salva ela”. Aline foi colocada em um veículo e levada às pressas para o hospital da cidade.
- Leia Também
- Vítima deu nova chance a assassino um mês antes de ser morta, diz polícia
- Feminicídio em Ribas: pais prestaram socorro antes da chegada da polícia
Eleno afirmou ainda que a filha estava separada havia cerca de seis meses e que o relacionamento com o agressor era marcado por conflitos e ameaças anteriores. Segundo ele, a violência não era um episódio isolado.
Em entrevista ao Campo Grande News na tarde desta segunda-feira (15), Eleno, operador de máquinas e pai de Aline, relatou os momentos que antecederam o crime.
“Eu estava dormindo quando minha neta ligou. Minha esposa atendeu. A menina começou a gritar e a chorar, dizendo: ‘Vó, corre, o Marcelo tá batendo na minha mãe’", contou.
Segundo Eleno, não houve tempo para pensar. “Nem deu tempo de arrumar nada. Peguei o carro e fui direto. Quando cheguei, encontrei minha filha caída no chão, esfaqueada, daquele jeito, ainda viva".
Aline ainda conseguiu falar com o pai. “Ela pedia socorro, falava: ‘Me ajuda, pai, me ajuda’. A voz já estava fraca, ia sumindo.” Eleno disse que tentou pedir ajuda a um vizinho, mas não conseguiu. “Eu e minha esposa colocamos ela na caminhonete. Eu só pensava em salvar minha filha".
De acordo com o relato, o autor do crime apareceu pouco depois. “Ele veio de longe e chegou a pedir para eu salvar ela. Falou: ‘Salva ela’. Eu não falei nada, só xinguei de longe.”
A vítima chegou a dar entrada no hospital com vida. “Quando chegamos lá, ela ainda falava um pouco. Logo depois, o médico chamou e disse que ela tinha morrido".
Abalado, o pai lamentou a perda. “É uma dor sem tamanho. Criei minha filha por 33 anos. É uma vergonha um homem tirar a vida dela assim".

Eleno contou que tinha convivência próxima com a filha. “Todo domingo ela vinha almoçar aqui em casa. Inclusive, já tinha combinado de vir nesse domingo. Ou eu buscava, ou ela vinha de ônibus. Morávamos a uns cinco quilômetros um do outro".
Aline deixa quatro filhos. Três são do relacionamento com o autor e a mais velha, de 13 anos, não é filha dele. “Agora somos nós que vamos cuidar deles. Eu, minha esposa e a tia das crianças”, disse.
Segundo o pai, o relacionamento era marcado por conflitos. “Eles brigavam muito. Ele já tinha feito confusão outras vezes. Nesse dia mesmo teve problema mais cedo, a polícia chegou a ir lá. À tarde, ele voltou e ficou jogando pedra na casa".
Apesar do histórico, Aline, segundo o pai, não demonstrava medo. “Ela não comentava nada com a gente. Acho que não acreditava que ele teria coragem de fazer isso".
No momento do crime, as crianças estavam dentro da casa. “Ela tinha comprado pizza para comer com os filhos, mas nem chegaram a comer. Ele invadiu e matou ela antes”.
O pai de Aline sofre ainda mais com a dor dos netos que perderam a mãe. “As duas menores choram muito, principalmente a caçula, que era muito apegada à mãe. Ela perguntava: ‘Por que ele fez isso com a minha mãe, vó?’”
Aline trabalhava na empresa Suzano, onde atuava como analista. “Era muito trabalhadeira. Fez a casa dela sozinha, cuidava dos filhos, nunca faltou nada”, afirmou. “Minha esposa está muito abalada. Todos nós estamos".
Marcelo, em interrogatório, disse apenas estar arrependido. Ele passou por audiência de custódia nesta segunda-feira e teve a prisão preventiva decretada.
Conforme o delegado Felipe Braga, Aline e Marcelo mantiveram um relacionamento por cerca de 12 anos e estavam separados havia quatro anos. Em abril deste ano, a vítima solicitou medida protetiva contra o ex-companheiro, que estava inativa no momento do crime após o casal retomar o relacionamento.
“Eles voltaram a se relacionar havia cerca de um mês”, afirmou o delegado. A motivação do crime, segundo a investigação, teria sido ciúmes, em um histórico de brigas recorrentes.
39º feminicídio - O crime ocorreu na madrugada de domingo (14). Horas antes, Aline acionou a Polícia Militar, após uma discussão. Uma equipe foi até o endereço, mas não localizou os envolvidos. Um morador informou que a vítima havia saído do local.
A família questiona a atuação policial. Em entrevista ao Campo Grande News, a irmã da vítima, Bruna Barreto, afirmou que Aline ficou sem amparo após pedir ajuda. “Meus pais que a encontraram e levaram ela para o hospital. A polícia não foi quando ela ligou. Foi muita negligência”, disse.
Aline sofreu três golpes de faca, dois no tórax e um superficial na perna esquerda. Ela chegou a ser atendida no hospital com estado grave e suspeita de pneumotórax, mas não resistiu aos ferimentos.
Marcelo foi preso em flagrante em frente à residência. Com ele, os policiais encontraram uma faca de aproximadamente 30 centímetros de lâmina, apontada como a arma usada no ataque. O caso foi registrado como feminicídio no contexto de violência doméstica e familiar.
A reportagem solicitou esclarecimentos à Polícia Militar, sobre o atendimento prestado à vítima, mas até a publicação desta matéria o e-mail não havia sido respondido. O espaço segue aberto para manifestação.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.



